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LUZ55

Vale Chaim de Baixo, excerto 55

LocationVale Chaim de Baixo (Odemira, Beja)
SubjectO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Cirilo Cloé
SurveyALEPG
Survey year1995
Interviewer(s)Gabriela Vitorino Luísa Segura da Cruz
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Mas [pausa] vamos à parte do moinho.

INQ1 Sim.

INQ2 Conte .

INF1 Pois.

INQ1 Portanto, depois o rod-, o rodízio tinha assim umas coisinhas, assim todas à volta, que chamava o quê?

INF1 Tem. Tem, tem. Tinham o Tinham o rodízio.

INQ1 O rodízio era

INF1 Era o rodízio mesmo. Aquilo era

INQ1 Chamava-se tudo o rodízio?

INF1 Era tudo o rodízio do moinho. E depois um, o [vocalização] o rodízio tinha tinha um veio. Pois, tinha o veio do do moinho que vinha a dar por cima no nas moses.

INQ1 Pois.

INF1 Pois. Na, na Nas moses. E nas moses, depois, tinha então os taipais. Tinha os tais taipais à frente da roda das, da das moses e então tinha a alavanca. Pois.

INQ1 Que era para subir mais ou descer mais.

INF1 Ti- Tinha a alavanca que era para subir mais ou descer mais. Pois.

INQ1 Para moer mais grosso ou moer mais fino, não é?

INF1 Pois. Era isso. Isso, para, para Sim, para fazer farinha mais miúda ou mais grossa, conforme quiser quiserem. Às vezes, aquilo, também baixavam mais e levantavam mais e era assim.

INQ1 Pois.

INF1 E depois o moinho tinha Depois tinha essa

INQ2 Onde punha o grão?

INF1 Pois, tinha, tinha, tinha, tinha tinha a tolda para correr para dentro do coiso, do, do [pausa] para dentro das moses. Pois.

INQ1 A tolda era onde se punha o grão, não era?

INF1 Era onde se punha o grão e depois corria para dentro das moses.

INQ1 E depois tinha assim uma coisinha assim inclinada que, que deixava escorrer o, o, o trigo, não é?

INF1 Depois tinha

INQ1 Da tolda saía assim uma coisinha, um

INF1 Tinha Como é que chama?

INQ1 Um caninho que saía dali.

INF1 Ai, como é que chamavam àquilo? [pausa]

INQ1 A calha ou? Não?

INF1 Muletas. Muleta. Era a muleta. Chamava-se a muleta que era aquela coisa torta

INQ1 Que ia batendo na ?

INF1 que ia batendo na . Era a muleta. Pois.

INQ1 sei.

INF1 Era para o trigo correr.

INQ2 Rhum-rhum.

INQ1 Pois.

INF1 Pois. E depois a outra parte é que tinha Ruído de motor vão mais!

INQ1 E depois Tchii! Mais?

INF1 Porra! [pausa] Andam para carregados de zorras, com certeza. Risos Tinha a muleta.

INF2 Era o Clódio?

INF1 ? Era. Tinha a muleta essa coisa chamavam-lhe a muleta de daquela coisa , e o que é [vocalização] E tinha tinha depois para para picar as mós tinha então as cunhas havia umas cunhas, chamavam-lhe cunhas mesmo, cunhas para

INQ1 Pois.

INF1 levantavam a , para picar a , tinha uma picadeira, pois. Pois. E tinham

INQ1 Olhe , e a farinha corria para onde?

INF1 A farinha corria à beirada das moses. Da de baixo.

INQ1 E caía para onde?

INF1 Caía para cima dum, d- do trado, do trado do moinho.

INQ1 O que é o trado?

INF1 O trado Oh, o trado?! O estrado, vamos, o estrado.

INQ1 Ah, o estrado do moinho.

INF1 Pois, vamos ao estrado do moinho. É o estrado do moinho.

INQ1 Sim, sim, sim.

INF1 Corria para o estrado do moinho.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 E depois, como corria para o estrado do moinho, aquilo ia ali ajuntando e depois vinham ali com a palheta [pausa] e apanhavam e metiam para dentro dum saco.

INQ1 E ag- Olhe e o

INF1 E o trigo, hum?

INQ1 Diga, diga.

INF1 Tinha uma alcofa muito grande, [pausa] pois, uma alcofa grande, e punham-se então Ali ao dessa alcofa, tinham um joeiro [pausa] e joeiravam o trigo. Pois. Joeiravam o trigo para dentro dum duma coisa que tinham ali, o feitio de Pronto! Vamos ver, aquilo era o feitio de

INQ1 Uma travessa ou assim. Uma

INF1 Uma Uma espécie duma caixa.

INQ1 Ah!

INF1 Espé- Espécie dum joeiro, mas sem sem nada.

INQ1 Sem buracos?

INF1 Pois, sem buracos. Que era Que era para outar o trigo. Era outado.

INQ1 Para?

INF1 Outado.

INQ1 Outar?

INF1 Pois, outar o trigo. Pois.

INQ1 O que é outar?

INF1 Outar era

INQ1 Limpar?

INF1 Pois.

INQ1 Faziam assim?

INF1 Faziam assim.

INQ1 Que era para tirar as impurezas, era?

INF1 Para tirar as impurezas, os seixos e as pedras e as ervilhacas As pedras e e aqueles casulos e as ervilhacas

INQ1

INF1 vinham ficando tudo atrás, e com o joeiro era para joeirar.

INQ1 Pois.

INF1 Pois. E aquilo era para outar. Chamava-se outar.

INQ1 E era com uma bandeja? Com uma espécie duma bandeja?

INF1 Era espécie duma bandeja mesmo, espécie duma bandeja, uma coisa assim redonda assim

INQ1 Redonda e larga?

INF1 Assim.

INQ1 Pois.

INF Assim. Esta parte aqui [pausa] não tinha nada.

INQ2 Exacto.

INF Pronto, aqui para trás é que tinha e tinha assim um debrunzinho, [pausa]

INQ1 Pois.

INF em volta, para o trigo não sair dali. E era. Que isso era outar. Outavam-no Depois de o trigo estar estar outado, portanto, numa alcofa, iam depois buscar água [pausa] num num regador ou. Pois, aquilo era quase sempre tinham era um regadorzinho, um regadorzinho muito fininho, a cabeça muito fininha, da cabeça do regador. [pausa] Pegavam no trigo, [pausa] davam-lhe uns borrifozinhos de água por cima. Pois. Davam-lhe esse borrifozinho de água e e mexiam-no [pausa] todo muito bem. Estava ali um bocadito, estava ali um bocado, pegavam nele e metiam debaixo das moses, que era assim que ele fazia fazia as boas farinhas. Quando o trigo fosse muito molhado, a farinha era mais ruim; e quando fosse a farinha menos molhada, que a farinha não estivesse muito molhada, isso fazia um pão que era uma beleza!


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