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MIG45

Ponta Garça, excerto 45

LocationPonta Garça (Vila Franca do Campo, Ponta Delgada)
SubjectO linho, a lã e o tear
Informant(s) Andreia Amílcar
SurveyALEPG
Survey year1996
Interviewer(s)João Saramago Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INQ1 Olhe, mas eu queria-lhe perguntar: antes de pôr isto aqui, aqui no tear, o que é que tem que fazer fora?

INF1 A gente, primeiro, a gente temos uma urdideira [pausa] donde a gente levam [vocalização] Eu ponho ali na servidão, porque é preciso um campo grande. Os rapazes tiram-me a carrinha para fora e eu, ali na servidão, eu ponho um [vocalização] , quer dizer, um uma grade. Até para se mostrar se [vocalização]

INQ1 É uma É uma tabuinha com uns tornos É?

INF1 Sim senhor.

INF2 É espécie de grade.

INF1 É. Como uma grade. A gente mesmo chamam aquilo a urdideira.

INF1 Aquilo é a urdideira.

INF2 [vocalização] Eu começo a urdir A gente, antigamente, a gente tinha era um [vocalização] caixote deste tamanho com doze [vocalização] quadradinhos, porque [vocalização] a gente ali punha era [vocalização] cada novelo em si. Mas eu [vocalização] nunca quis fazer, porque os fios pegavam muito. Eu nunca fiz, nunca fiz Eu ia urdir para casa da senhora Andrelina. Essa senhora morreu, vendem o tear, e o que é que eu inspirei? Eu disse: "Ah! Vai ser com tigelas"! E eu fazia doze tigelas e punha ali no chão e fazia. Agora a gente [vocalização] compram, não é Porque a gente era meadas que a gente compravam. A gente levavam à dobadoura [pausa] que era para dobar Fazia os novelos. Ele agora vendem é umas cepolas de linha. [pausa] E eu, com aquelas cepolas, eu ponho doze, [vocalização] às vezes, eu ponho as garrafas de gás, ou coisa. E punha-se Ah, o restelo também está ali. Que eu até pensei [vocalização]

INQ1 Ah, deixe estar, deixe estar que a gente . Explique agora. Portanto?

INF1 Eu ponho o restelo, passo o fio e começo a urdir com a espadilha que é como uma faca grande, tudo cheio de buraquinhos, aquilo. Agora, eu sempre fui puxando, [pausa] quer dizer, não aquilo que me ensinaram porque eu não nasci aprendida, foi uma senhora que me ensinou Ela urdia com doze novelos. E eu, tu- [vocalização] para ser mais prático para mim, encurtecendo sempre o serviço, eu fui [vocalização] Porque o meu pai é que me fez aquela espadilha; e ele, quando me fez aquela espadilha, ele pôs mais buraquinhos, mais furinhos. E ele [vocalização] E a minha mãe disse assim: "Para que será que estás fazendo isso à rapariga"? E ele disse: "Ah, nunca se sabe para o que é que é preciso". E eu agora vou-me aumen- fui aumentando sempre um fio, sempre um fio Porque a gente temos as nossas contas aqui todas. Era doze fios para passar aqui e tudo, pronto. [vocalização] E eu fui sempre pondo um fio até que eu vou até [vocalização] dezasseis [vocalização] novelos. Em lugar de eu pôr [vocalização] doze, eu ponho dezasseis, eu faço três cabrestilhos e me reserva um. Em lugar de eu fazer quatro cabrestilhos, eu faço três e a conta dos fios me [vocalização] aquilo que eu [vocalização] Quer dizer, [vocalização] fazendo sempre o serviço, mas [vocalização] 'encurtecendo-me' sempre o serv- o trabalho. A gente quando tem o [vocalização], a a [vocalização] teia urdida, [pausa] com a largura da [vocalização] da haste e do liço, eu faço uma meada. Ponho numa [vocalização] numa pana ou num saco plástico naquilo que a gente entende e [vocalização] trago para aqui. Aqui é preciso três pessoas para [vocalização]

INQ1 Para quê?

INF1 para carregar. Até, noutro dia, eu disse à rapariga: "Tu hás-de ver se me tiras algumas fotografias. [pausa] A gente carregando". [vocalização] Quer dizer, eu estou a ver que devia ficar sem esse serviço, porque não posso. E eu, isto, eu adoro isso.

INQ2 Pois.

INF1 Eu canso muito, [pausa] mas [vocalização] aqui o bocadinho que eu estou, eu penso até que não me faz mal. Faz-me mal mas eu penso que não faz, porque eu gosto muito disso. Eu com catorze anos A minha vida foi essa. Sei fazer os meus pontinhos, sei fazer malha, sei fazer renda, sei marcar, bordei à máquina. Isto tudo eu sei fazer! Mas eu adoro é isso! Isso eu adoro! E eu não sei se aquele senhor sabe muito bem que a gente tem a nossa vida , trabalhavam muito pelas terras!

INF2 Então não trabalhavam?! [vocalização] Antigamente, as mulheres iam olhando pelas terras.

INF1 A gente trabalhavam muito pelas terras, mas a minha mãe [pausa] sempre nos deixou aprender aquilo que a gente desejavam! Tanto eu como as minhas ir-. A minha irmã Andresa também sabe tecer.

INF2 Também sabe tecer.

INF1 É. Também sabe tecer. Ela ficou foi doente da coluna e deixou porque ela vinha

INF2 E fiar também?

INF1 Não, ela não fiava. Ela vinha era para aqui. Porque ela não sabe muito bem urdir. E depois ela não sabe dividir as cores. E eu é que dividia. Punha tudo à maneira dela [vocalização] de ela tecer. E ela, ela ganhou um bom dinheirinho aqui. [vocalização] A gente 'traze-a' para aqui, é preciso três pessoas: uma sentada ali no chão, puxando essa Isso está [vocalização] assim por aqui e aquele [vocalização], uma Ele como é? Com uma meada de linha grossa, ela está uma ali sentada puxando. [vocalização]

INQ2 Mas como é que se chama isto tudo junto?

INF1 Isso tudo junto é uma teia.

INQ2 Portanto, uma sentada

INF1 Uma está sentada ali puxando a teia. A outra está aqui com uma varinha nesse tornozinho enrolando que é enrolando isso. E eu estou aqui sentada [pausa] com o restelo. Que a gente chamam aquilo restelo. Que é tudo cheio duns [vocalização] uns coisinhas Eu é que estou ali porque ele essas cabeças têm que ser muito bem feitas, porque senão, depois, descabeça [pausa] ali. Porque eu, eu eu aqui tenho a prática e vou-lhe dando sempre o jeito porque isso vai sempre apertando , que é para não fazer Porque se a gente porem sempre no mesmo tear, isso faz um rolo assim e d- e descabeça. Até que eu disse: "Eu, quando eu fizer um órgão novo" porque isso, ele essa parte chama-se um órgão , "eu, quando eu fizer, eu vou fazer mas vai ser com a madeira à maneira de [vocalização] " Qualquer pessoa pode carregar que não tem aquela ciência de fazer cabeça. Porque a gente estão sempre olho ali, olho ali para ele [vocalização] para ir sempre, [pausa] para para isso: estas linhas, que é a teia, ir sempre puxando para dentro.


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