R&D Unit funded by

MIG46

Ponta Garça, excerto 46

LocationPonta Garça (Vila Franca do Campo, Ponta Delgada)
SubjectO linho, a lã e o tear
Informant(s) Andreia Amílcar
SurveyALEPG
Survey year1996
Interviewer(s)Gabriela Vitorino João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.


INF1 Depois de ter carregado [vocalização], pronto! Ajudam-me a carregar A gente [vocalização] temos Porque a gente quando fazem ali, a gente fazem uns em uns encruzes, assim, fio por fio! Porque a gente fazem é com o dedo. A gente pegam assim, fazem assim. [vocalização] Fica aqui assim em cruz. E este encruz é preciso que a gente nunca o desmanchem, porque, senão, enriça-nos muito o coisa. Eu trago para aqui, temos aqui essas canas grossas, ele eu abro os encruzes, a gente metem a cana e fica ali. Eu amarro uns aos com uns nozinhos as pontinhas do algodão e fica aqui. Pronto! Eu, depois, eu começo a repassar aqui. Isso aqui é repassado fio por fio.

INQ1 E isto como é que lhe chama?

INF1 A isso chama-se um liço. E a gente repassam isso é fio por fio. A gente tem de passar esses fios todos. A gente levam-lhe aqui o dedo, abrem o dedo e metem o fio ao meio e puxam. A gente levam aqui, se sabe, horas e horas nisso. Pois. Porque isso é muito fio.

INQ1 Pois.

INF1 E ele a gente repassam aqui. Depois de estar repassado aqui, eu [pausa] tiro isso daqui

INQ1 O que é isso? Como é que se chama?

INF1 Isso é uma haste. Esta? [pausa] Uma haste.

INQ1 Uma haste.

INF1 E isso a gente chamam a queixa, [pausa] que é o que a gente batem.

INQ1 Portanto, a haste está dentro da queixa?

INF1 É, é. A haste vai para dentro para a queixa. E eu A gente, depois, aqui, [pausa] a gente tem-lhe que enfiar dois fios cada [vocalização] cada rachinha dessa outra vez. Aqui é uma , porque é o fio daqui e o fio daqui. A gente, depois, passam os dois aqui. Está pronto, a gente pegam numa varinha dessas que a outra está aqui dentro , a gente pegam numa varinha dessas, com uma [vocalização] umas cordas que eu tenho aqui, [pausa] a gente põe aqui no órgão e enfiam essa varinha. Uma pessoa aguenta-me aqui porque [vocalização] coisa É. Ele qualquer pessoa me aguenta! E eu, muita vez, eu faço sozinha! E a gente começam a puxar a teia, aqui, o algodão, a gente começam-lhe a puxar e amarram aqui contra a varinha. Depois de ter amarrado, a gente vão aqui, botam as premedeiras, que é donde a gente põe os pés

INQ2 Como é que se chama?

INF1 Premedeiras, [pausa] que é donde a gente põe os pés. E a gente começam o tecido.

INQ1 E essa varinha como é que se chama?

INF1 A vara.

INQ1 Chama-se mesmo a vara?

INF1 É.

INQ1 É o compostoiro.

INF1 [vocalização] Essa é a vara e agora essa que eu tenho aqui é uma [vocalização] é vara. É. A gente chamam isso as varinhas. E isso é uma vara que é de a gente medir ele [vocalização]

INQ1 O tecido?

INF1 Ele o tecido. Porque uma manta são duas varas dessas. Isso um metro e doze centímetros.

INQ1 Uma vara é um metro e doze centímetros?

INF1 Uma vara é uma uma coisa e é doze centímetros. Mas eu quase sempre agora não uso isso. É a fita que eu tenho aqui. Porque a gente mesmo quando começam a tecer, isso é tudo por medida: essas listras que a gente fazem eu fa- E eu [vocalização] avezei a moda de [vocalização] de ser com a fita. Tenho aqui: é [vocalização] tantos, é tantos e a gente: hehe-hehe Que eu, primeiro, a gente era com uma caninha, com umas coisinhas Agora é a tal coisa: é tudo mais prático, não é? eu meço é com a com a fita. Depois de estar, começo a tecer.

INQ1 E como é que chama a isto?

INF1 Isso chama-se a chave do tear.

INQ1 A?

INF1 Chave.

INQ1 Que é para?

INF1 Que é para apertar a teia.

INQ1 Portanto, no, no órgão? Enfia no órgão?

INF1 A gen- A gente põe aqui no órgão que é para ele [vocalização] para rodar. E aqui também é a chave. Porque aquela ele é diferente porque isso é [vocalização] uma coisa que faz muita força mesmo.

INQ1 Pois.

INF1 Isso faz muita [vocalização]

INQ1 Esta aqui também lhe chama varinha?

INF1 É também varinha.

INQ1 Pronto.

INF1 A gente chamam essas varinhas é varinhas. E isso agora aqui, depois de a gente terem repassados, a gente põem dentro na queixa. Isso aqui é a queixa [vocalização]

INQ1 E a haste.

INF1 e a haste, que é [vocalização] donde a gente começam [vocalização] a bater. Mas

INQ1 E estas coisas? Isto aqui que serve para prender os liços?

INF1 Ele [pausa] isso aqui a gente chamam é os [pausa] cabrestilhozinhos [pausa] a esses bocadinhos. Aqui é uma rodinha que a gente chamam, porque a gente temos aqui uma [vocalização] Agora essas que trazem, tratam isso é as cabritas.

INQ1 Estas aqui de cima onde estão as rodinhas são as cabritas?

INF1 É. A gente chamam cabritas.

INQ1 Então e os cabrestilhos, não é os fios daqui?

INF1 É. Os cabrestilhos é isso. Mas a gente também chamam isso cabrestilhinhos.

INQ1 Também chama a isso Diga?

INF1 Cabrestilhinhos [pausa]

INQ1 Cabrestilhinhos.

INF1 que a gente chamam isso.

INQ1 Os cabrestilhos são quantos fios?

INF1 É doze.

INQ1 Doze fios?

INF1 Doze. Mas é a tal coisa que eu ponho mais novelos e eu agora faço com dezasseis.

INQ2 faz mais uns.

INF1 É, é. Eu faço mais quatro fios em cada cabrestilho foi o que eu disse ainda agora , quatro fios em cada cabrestilho. Em lugar de eu fazer quatro cabrestilhos, eu faço três e tenho quatro.

INQ1 Pois, pois.

INF1 É. Porque é quatro fios. Porque é: um cabrestilho são doze, porque é os doze novelos que a gente põem na urdideira e [vocalização]

INQ1 Pois. E aquela antiga que tinha de que me falou bocadinho? Aquela caixa com os doze novelos?

INF1 Isso, eu não tenho.

INQ1 Mas como é que se chamava? Lembra-se?

INF1 É casal. A gente chamavam aquilo era o casal. [pausa] É. O meu rapaz disse: "Ai, eu qualquer dia faço isso à minha mãe". Eu disse: "Ai, eu não quero que eu estou no resto da minha vida, eu não eu não quero". Mas [vocalização] a gente

INQ1 Antes quer as panas?

INF1 É.

INF2 As tigelas.

INF1 As tigelas. Ele, pronto, ele faz Aquilo ali, a tigela é lisa [pausa]

INQ1 Pois. Não prende.

INF1 e o fio não prende nada. Porque é: isso é uma coisa [pausa] quando apanha um uma coisinha dessas assim, a gente ficam logo engatadas. Porque é: esse tear isso tem anos.

INQ1 Claro. Olhe e

INF1 Eu teço [pausa] Eu tinha catorze anos, [pausa] eu teço [vocalização] quarenta [pausa] e dois anos. Porque eu tenho cinquenta e seis [pausa] e eu comecei a tecer com a idade de catorze anos. Com catorze anos, eu estava aprendendo. Comecei a ve- a tecer mas eu sempre gostei: teci cobertores de tear, não é mantas que eu faço! Eu teço man- Eu ele fe- fazia, agora é que eu não eu não quero fazer porque não posso. Mas daqueles teares que a gente chamavam o tear de de Norte. Daqueles teares de [vocalização]

INQ1 De duas pessoas?

INF1 cobertores. Não.

INQ1 Ah!

INF1 Cobertores de de Norte que a gente.

INF2 Não havia em de ovelha, ?

INF1 Que era com de ovelha.

INF2 Não se trabalhava em de ovelha!

INF1 Ele eu tenho! Eu tenho d- [vocalização] quatro, três cobertores desses. Daqueles que era de risquinhas. [pausa] E [vocalização] eu tenho [pausa]

INQ2 Essas coisas todas tem.

INF1 essas coisas todas. A gente tecem muito agora é muita carpete. Porque as pessoas não querem mantas para as camas, é carpetes, é tapetes, é aquele [vocalização] almofadas. Então, eu trabalho aqui em e [vocalização], e em [vocalização] e em retalho.

INQ1 Em linho não trabalhou ou ainda trabalhou?

INF1 Tenho ali duas sacas para fazer. Eu tenho ali duas sacas para tecer que eu disse a ela, no outro dia, à senhora que me falou, eu disse: "Tu tiveste foi uma grande sorte de me pores aqui, em casa, sem eu [vocalização] Eu estou doente! Porque se eu estivesse doente, eu não te queri-, eu não não vinha para ".

INQ1 Pois.

INF1 Porque aquilo ele leva muito tempo a tecer! E, se sabe, a pequena chega no carro das sete, [pausa] é um bocadinho à noite, e também uma pessoa não vai sacrificar aquilo que aquilo também é miúda.

INQ1 Pois claro.

INF1 Mas ela também gosta! Ela também gosta. Todos os dias, eu [vocalização] quando eu vou-me à missa, ela fica aqui. Ela chega no carro das sete, eu digo assim: "Olha, se queres, ele está as canelas". Porque as canelas eu ponho. A gente chamam esses canudinhos [pausa]

INQ1 Pois.

INF1 é canelas. [pausa] Isso antigamente era de cana. Porque eu ainda tenho aqui Ah, olhe! Eu guardei, porque eu gosto muito de coisas antigas! Eu guardei, eu disse: "Ai, eu não acabo com isso, que isso fica aqui para uma recordação". [vocalização] Começou a haver esses caninhos que isso é da luz.

INQ1 Pois.

INF1 E [vocalização] os meus filhos começaram-me a [vocalização] a irem atrás [vocalização] Eu tenho um rapaz que trabalha de mestre. Começou-me a trazer, começou-me a trazer, eu agora uso é disso. A gente fazem as canelas

INQ1 Aonde?

INF1 A gente fazem à mão.

INQ1 À mão.

INF1 Mas eu tenho uma roda! Está aqui, aqui em cima.

INQ1 Ah! Estou a ver. Aquela chamada Era a roda das canelas?

INF1 É. A gente fazem as canelas e a gente chamavam aquilo o caneleiro.

INQ1 O?

INF1 Caneleiro. Porque ele [vocalização] a gente [vocalização] O linho é feito ali! [vocalização] Ele quando eu teço coisas [vocalização] [pausa]

INQ1 De .

INF1 de , a gente fazem ali, porque é mais depressa. E agora a gente aqui, quando eu faço as canelas, aquilo é: eu faço tudo por medidas.

INQ1 Pois.

INF1 Tudo. Eu tenho aqui a minha medida que é daqui dessa [vocalização] coisa à cabeça do tear. Assim até aqui, eu meço quantos retalhos eu queira pôr aqui. Eu meço eu [vocalização] Quer dizer, a gente, em primeiro, não faziam isso; [pausa]

INQ1 Pois.

INF1 a gente iam fazendo. Mas eu gosto de fazer as listras das minhas mantas é com os retalhos iguais. Se para seis fios, eu ponho seis; se para quatro, é quatro. Eu gosto muito de fazer é tudo igual, porque casa mais depressa. A gente, essas mantas com essas listras, a gente chamam mantas casadas. Agora das outras que é [vocalização] Canelinha de uma cor que é A gente chamam aquelas mantas a eito [pausa] que a gente chamavam

INQ1 As que são todas de uma cor?

INF1 Não é de uma cor. Várias cores: é canela duma cor, canela doutra. Agora essas é são as mantas casadas porque.

INQ1 Portanto, qual é a diferença? É porque aqui, neste caso, o que é que?

INF1 É [vocalização] esse

INQ1 São casadas porquê?

INF1 São casadas porque esta uma parte duma manta, que a gente chamam um ramo de manta, tem que casar com a outra. Essas listrinhas, a gente quando cosem, cosem e fica a manta igual por la- [vocalização]

INQ2 Ficam as duas larguras

INF1 As duas. As duas larguras, mas com essas risquinhas, [pausa]

INQ2 A bater certo.

INF1 portanto, a bater certo: tanto igual de um lado, como igual do outro. se sabe, a gente fazem vários feitios. Não é desse [vocalização] É os retalhos também é que mandam.


Download XMLDownload textWaveform viewSentence view