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MLD21

Melides, excerto 21

LocationMelides (Grândola, Setúbal)
SubjectO oleiro
Informant(s) Galileu
SurveyALEPG
Survey year1980
Interviewer(s)Celeste Augusto
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF E era irmão, ! Fará se não fosse! Risos Tinha medo de eu lhe roubar-lhe o ofício, tirar-lhe o ganho, como o outro dizia.

INQ Olhe, e os seus filhos não querem aprender?

INF Não tenho nenhum. Tenho raparigas.

INQ Não nenhum?

INF tenho raparigas.

INQ E os rapazes novos da terra, ninguém quer aprender?

INF Ah, agora ! Nem um!

INQ Não ninguém mesmo?

INF Algum quer para aqui vir trabalhar?! Eles não querem, não.

INQ Olhe, este bocado, algum nome a este bocado de barro antes de ser trabalhado?

INF [vocalização] O barro que não é trabalhado está em cru. Ainda não está amassado.

INQ Pois.

INF Mas é barro à mesma, está claro [pausa] Isto leva muita volta!

INQ Pois leva, mas fica muito bem.

INF Leva muita volta. Isto leva muita volta! Isto quando, quando até apanhar uma peça de louça cozida, isto leva mais mais de cinquenta voltas! [pausa] Isto leva mais voltas que o pão que a gente come.

INQ Pois, também tenho impressão que sim.

INF Pois.

INQ O senhor faz isso com uma, com uma velocidade!

INF Se não se fizesse muito, como é que me eu me safava?!

INQ É, não é?

INF As coisas baratas. [pausa] Ainda no outro dia ouvi na televisão também um sujeito que também estava todo muito coiso de estar na televisão a apresentar, e depois estavam-lhe a fazer essas perguntas. E ele depois disse: "Onde a gente morrendo, a gente que estamos, os velhos, não deve de aparecer mais nenhuns"! Esse tipo, [vocalização] estava uma senhora também a fazer-lhe perguntas: "Então e não você não ensina os seus filhos"? "Eles?! Tenho dois, nem sequer [vocalização] aqui para o para o lado da oficina querem vir"! E é o mesmo de que os outros todos quantos estão: todos têm filhos, nenhum aprendeu.

INQ Nenhum, nenhum aprendeu?

INF Nem um! [pausa] aprendeu foi esse mais velho, que é o que está além do outro lado, que tem tem cinquenta e tal anos. Agora essa malta de vinte e tal anos, trinta anos, ah agora ! O meu irmão Gaspar tinha ali dois filhos tinha e tem, está claro um ainda esteve ali mais ele até ir para a tropa [pausa] escolhendo barro, pisando. Mexer na roda não, que o pai não lhe dava autorização de ele vir para . Senão, depois provava-lhe do petisco, mandava o pai pisar o barro e ele fazia.

INQ Ah!

INF Assim que veio da tropa, oh, tirou logo as cartas, o pai: " que agora eu ensino-te". "Agora ensina-me?! Agora não precisa de me ensinar! [pausa] Agora pisa você barro e migue e carregue água"! Nunca mais Nunca mais migou barro, nem carregou água, nem nada disso. Marimbou-se nisto. O outro então O outro então nem sequer ninguém o fez então pisar barro nem migar. Abalou para Lisboa era moço pequeno, assim que fez a quarta classe, [pausa] foi para para empregar-se. Depois quando esse, o irmão, foi para a para a tropa, o pai ainda o quis trazer para casa. Depois veio estar de licença, feze-o pisar barro, uma vez ou duas "Anda se pisar barro"! A tralha tem porque acabou as férias, foi-se pôr ao caminho de Lisboa. Está acostumado a não fazer nada, vinha trabalhar? Agarrar-se a uma enxada? Agora! Bateu-as! Nem sequer quase que aparece [pausa] Nunca mais quis saber [vocalização] da olaria do pai, nem gaita.

INQ Vocês aqui não pisam o barro? É amassado pela?

INF Agora não se pisa. Mas noutro tempo era isto era uma coisa, pisar é que dava trabalho. [pausa] Isto tinha que ser pisado a pés!


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