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MLD49

Melides, excerto 49

LocationMelides (Grândola, Setúbal)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Galiano Graziela
SurveyALEPG
Survey year1980
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

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INF1 O que é certo estive , e depois assim que [vocalização] estive um tempozito, [vocalização] convenceram-me para me ir para outro sítio, para para o Sobreirinho. [vocalização] Fui Dali fui para o Sobreirinho, ta- ainda não tinha acabado sequer o o tempo, porque eles até podiam ter preciso de mim muito tempo. Mas foi para depois o meu irmão no meu lugar. Mas o meu irmão esteve para alguns, não não chegou a oito dias, parece. Que ele Quer dizer que me falaram para , e eles queriam-me era a mim, eu fui para o Sobreirinho e ele foi para no meu lugar. Mas ele não esteve tempo nenhum. Esteve poucachinho tempo. [vocalização] Depois continuou a estar sempre em casa, não é? não, Ainda Ainda foi, parece, por conta do do [vocalização] Ainda me lembro o nome dele, o tio Gil do Isidro, que ele esteve também servindo. Mas esteve pouco tempo também. Mas é que ele ainda esteve mais um tempozito. [vocalização] O tio Gil do Isidro era um homem muito bom e ensinou-o a ler e tal. Ele sabia ler muito bem. Ensinou-o a ler e foi isso ainda a sorte dele também. Depois de não quis servir. Esteve sempre melhor de que eu, sempre em casa. E eu, eu andei sempre naquela vida. Olha, para encurtar de razões, quer dizer que depois que vim outra vez para a para a mesma casa para a para as Cortinas. Depois era por conta dos filhos, a lavradora não mandava nada. Morreu o lavrador também nessa altura. E a lavradora também, aquilo estava também muito velha e eles é elas é que mandavam. Estive muito tempo. Depois de foi para também um outro criado que é o Gilberto, um gajo que chamavam o Gilberto, um g- um gajo que tinha muita fama, no tempo da maltesaria, era um dos valentões ! Mas o gajo era mais velho de que eu. E eu também sendo por bem era bom, mas por por mal também não era assim muito bom, e guerreávamos. Guerreávamos e [vocalização] e o sacana dava conta de mim, de me pegar e ir comigo à rojo por cima daqueles cardos, e ainda me bateu. E eu depois que me ba- de me bater, fui-me embora, fui servir para o Pinhal de Cima. No Pinhal de Cima, estive era irmão da, da da tia Henriqueta, que era que era a dona da Saramaga, que é [vocalização] uns lavradores que havia ali ao de São Francisco estive o resto do tempo até te-, até ter até ir à inspecção. Estive estive sempre por conta deles. Pr- Primeiro andava por conta dos dois e depois acabaram o negócio, fiquei por conta da tia Henriqueta. Estive até ter vinte anos. então é que então é que foi essa coisa de [pausa] morrer também um filho dessa la- dessa lavradora, que era o Giordano da Saramaga. Agora um Giordano da Saramaga que é que é negociante mas não é nada sequer a esse, é de de outra Saramaga. E então esse era um tipo rico, um tipo que toda a gente gostava dele. Era boa pessoa e mesmo era um tipo, [vocalização] enfim, toda a gente gostava dele, porque tinha tudo de bom. Era bondoso e era e era um tipo instruído e, e. Mas teve pouca sorte. Deu-lhe aquele mal, tuberculose, e não não se curava naquele tempo, isto Sei os anos que ! Para mais de cinquenta. Deve de haver mais de cinquenta, pois

INQ Pois, pois.

INF1 Bom, que ele morreu não não mais de cinquenta, mas [vocalização] perto de cinquenta. mu- muito perto de cinquenta. E então, nessa altura, ele possuía uma concertina, esse, esse, esse esse tipo possuía uma concertina também, e tocava, e tocava bem. Mas depois deu-lhe aquele mal, coitado, morreu, tinha para para vinte anos, ou pouco mais. Ele era pouco mais velho do que eu. Era Tinha mais uns três ou quatro anos do que eu. E de m- de maneira que o homem morreu, esteve muito tempo que eles não a vendiam que aquilo estava, pois, estava, estava A concertina estava guardada e eu sabia. Que tinha um cegueirão naquilo! Eu tocava realejo. Comecei logo a comprar uns realejozinhos. E tocava realejo mas tinha uma cegueira! Ia Aonde quer que estivesse um tocador, eu estava a noite inteira à roda dele. Depois eles sabiam que eu que tinha cegueira naquilo e [vocalização] achavam que eu que tocava bem realejo e [vocalização] pensaram: "Ah! A gente vendemos a concertina ao moço. Ele não tem dinheiro, mas vai pagando". Foi a maneira assim de eu de eu então comprar então uma concertina. E daí é que começou assim a ir para diante. [pausa] E

INQ Sim senhor.

INF1 E [vocalização] E então que a minha vida foi a cuidar em gado, quase sempre. E depois trabalhar com gado. Depois , por conta desses lavradores, depois era trabalhar depois com gado. Porque enquanto fui pequeno, foi cuidar em porcos, cuidar em ovelhas, cuidar em em cabras. Também cuidei fui ajuda também dum cabreiro também ele também ainda algum tempo. [pausa] E nesse intervalo também estive ainda a ajuda dum cabreiro também ainda um tempo [vocalização] da estalagem do Longra para diante. Andava molhado quase dias inteiros, era no Inverno. Depois os meus pais vieram-me buscar, que que esses das Cortinas vieram-me falar. Foi quando eu fui outra vez para as Cortinas depois, [pausa] por conta do, do dos primeiros que eu estive. O que é certo é que [pausa] depois chegou-se a à idade de dos vinte anos, [pausa] fui à inspecção e, e e nunca fiquei apurado, mas depois pensei em em seguir outra vida. Pus-me à minha conta. E eles também não tinham grande preciso de mim. Vim para casa e comecei a fazer serviços por minha conta.

INQ Rhum-rhum.

INF1 E depois [pausa] ajuntei-me com uma mulher, que é a mãe desse que eu tenho ao de Lisboa também. E tenho duas filhas que eu, que [vocalização] que eu lhe arranjei nessa altura que estava nessa Saramaga. Namorava uma rapariga e calhávamos a fazer aquele aquele entrouxozinho. E, e essas E essas raparigas hoje estão bem também. Uma está em Lisboa não sei se Talvez que as senhoras tenham ouvido falar nela: Hermenegilda? Está no Hospital do Desterro.

INQ Ah!

INF1 Não sei se é chefa , se é sub-chefa, se é uma coisa assim. E noutr-

INQ Eu não a conheço.

INF1 Não conhece? Quer dizer que ela foi para foi para [vocalização] coisa Como é que se chama? Como é o que é a Ilda Ismael, então estou agora também parvo?

INF2 Não é enfermeira?

INF1 Enfermeira, pois.

INQ Enfermeira?

INF1 uEle é [vocalização] Se não é chefa de enfermeira, é muito perto disso.

INF2 E ela manda.

INF1 E e essa essa até eu não estava assente por pai dela logo logo no princípio. Depois assentei-me por pai dela; ela pediu-me para mim me assentar por pai dela e eu assentei-me por pai dela. [pausa] Ah, asneiras que uma pessoa faz!

INF2 E a outra mora aqui em São Francisco.

INF1 A mulher, [pausa]

INF2

INF1 que- quer dizer que a que eu estive junta com ela, [pausa] também era uma mulher que, pois, que não era de desperdiçar. Mas aquela é que eu tinha as minhas filhas, é que eu aquela é que eu havia de ter aproveitado. Mas, convencido também pelos outros, e pensei de fazer melhor governo , [pausa] calhou aquilo assim.

INF2 Depois ela deixou-lhe o filhinho com três anos.

INF1 Foi sofrer mais um bocado depois também. Ficou Fiquei eu com um gaiato pequeno e ela bateu-se para a galderice e, e eu fiquei

INF2 Para a galderice, e nem sequer hoje liga ao filho.

INF1 E eu fiquei mas depois

INQ Mas ainda é viva?

INF1 Mas a [vocalização] a respeito de estar assim , não me calhava aquilo bem! E [vocalização] a entreter-me com outras, esta começou-se a ajeitar também e eu comecei a tomar conhecimento dela, pois casei-me com esta, juntei-me com esta. Depois desta

INF2 E ainda tinhas outra primeiro que eu!

INF1 [vocalização] Esta então não não temos filhos nenhuns.

INF2 Não és muito bom.

INF1 Ainda arranjámos um filhinho mas foi-se abaixo. E não quisemos mais nenhum. Fomos cuidar na vida. A gente começou a andar mais descoberta, mais coiso. A gente abriu os olhos mais um bocadinho a evitar-se, pois, a ver maneiras para se defender, não os não os ter!

INQ Pois claro.

INF2 Agora tem cinco netinhos!


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