MTM23

Moita do Martinho, excerto 23

LocalidadeMoita do Martinho (Batalha, Leiria)
AssuntoO moinho, a farinha e a panificação
Informante(s) Castorino Cinira

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INQ1 E mesmo o de madeira, portanto, tinha em cima as mozinhas, por cima e tudo, para andar?

INF1 Tinha tal e qual como

INF2 À mesma.

INF1 Tal e qual. O que é que essa essa, por exemplo, nesses que são de pedra, é um fechal chamamos-lhe a gente um fechal , é um fechal de pedra, onde trabalham essas rodazinhas dentadas para moer o milho.

INQ1 Ah, portanto, aquela, aquela coisinha

INF1 E esses de madeira é um fechal de madeira.

INF2 De madeira.

INF1 Tem a me- Mas tem a mesma caixinha de andar à volta.

INF2 De andar à roda.

INQ1 Que é onde as rodas encaixavam naquela caixinha para a caixa não desandar?

INF1 Isso. Onde as rodas encaixavam.

INF2 Pois, na roda.

INQ1 Sim senhor.

INF1 Onde as rodas encaixavam naquela naquela coisinha ao redor e aquilo [vocalização] O vento hoje estava daqui, ti- a gente tínhamos que rodear o moinho, para um lado e para o outro.

INQ1 Pois.

INF1 Procurar o vento.

INQ1 Claro.

INF1 Se não, se o vento mudasse, e se lhe desse por trás que a gente não [pausa] tivesse o moinho atrás atrás, ou então se desse nas velas por trás, o moinho virava todo, quebrava-se tudo. Quebravam-se-lhe os braços que ele tem [pausa] Por exemplos, as velas são isto e tem uma tem uma, uma espia, um velo, para o braço com a força da vela não cair para trás. Senão caía e quebrava-se.

INQ1 Pois.

INF1 Quebrava-se.

INQ1 Era uma espia que vinha da ponta

INF1 Da ponta do eixo

INF2 Do eixo.

INQ1 Para ?

INF1 Vinha a ponta do braço, [pausa] que tinha a vela.

INQ1 Do braço. Rhum-rhum.

INF1 [vocalização] Os braços onde as velas andavam atadas não era preciso.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Porque esses não faziam força para trás; a vela é que fazia; fazia força num braço. Por exemplo, faz de conta, este braço tinha uma Isto era o braço da vela, [pausa] e tinha então, na ponta do braço, tinha então uma [vocalização] um bocado de ferro, uma verga de ferro atada à ponta do eixo que vinha para fora.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 E depois o eixo carregava para trás mas não deixava ir a [pausa] a vela para trás. Não deixava ir o braço. Quebrou-se. Quebrei muito. Volta e meia era: estávamos na terra da madeira, volta e meia, a gente descuidávamos, chegávamos , estava o moinho trazi- tinha o eixo; as velas, isso tinha caído tudo para baixo. [pausa] Chegou-me a suceder muita vez.

INF2 Ah, isso chegou!

INF1 Depois Depois no outro dia, toca a gente a andar a apertar outros braços novos, e as velas rasgavam-se, pois prantávamos outras Era uma vida pobre, pronto!

INQ2 Pois.

INF1 Mas [pausa] naquele tempo usava-se aquilo.

INF2 Naquele tempo era assim.

INQ1 Pois. E gostava?

INQ2 Olhe

INF1 Eu gostava muito. Eu gostava. Eu gostava.

INF2 E naquele tempo, foi: a gente andámos à amassadura e se governámos.

INF1 Fui criado

INQ2 Pois, pois.

INF1 Fui criado de pequenino, fui criado da da idade de pequenino Quando nasci começaram-me logo a ensinar a fazer farinha. Toda a vida foi foi a minha vida foi fazer farinha. Depois aborrecia-me com o vento, falhava o vento; depois pus aqui uma moagenzica Também a escangalhei.


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