R&D Unit funded by

PFT21

Perafita, excerto 21

LocationPerafita (Alijó, Vila Real)
SubjectA vida humana
Informant(s) Agar Ausenda
SurveyALEPG
Survey year1992
Interviewer(s)Ernestina Carrilho
TranscriptionSandra Pereira
RevisionMaria Lobo
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.


INF1 Esteve cinco anos. E quando veio, ainda era por lhe eu [pausa] dizer que que estava mortinha por ele, eu e as minhas filhas. Ou mais, senão, ainda até o tinham mais tempo. E o senhor que olhava por ele [pausa] até morreu. Ainda morreu primeiro do que o ao meu marido. Chamava-se Era o enfermeiro

INF2

INF1 Era. [pausa] Mas nem sei como era que se ele lhe chamava. Era. Era. E é assim. Ele esteve, depois se veio embora. Ainda andou [pausa] para aí um ano ou dois, na freguesia. Foi dizer aos fregueses, a Pinhão Cele [pausa] e à Torre que tinha os fregueses naquelas povoações em cima , se eles [pausa] que podia carregar [pausa] um alqueire, [pausa] debaixo do braço. Que não podia levar sacas grandes, de cinquenta quilos, que era que se traziam. "Olhe, eu agora posso levar um alqueire que chegue a dois, assim de- debaixo do braço". Agarrava-lhes debaixo do braço. E os fregueses fizeram-lhe isso tudo. "Levar, até te o levávamos num num carro, [pausa] ao moinho, se o moesses ". E tudo. Gostavam todos dele, muito, muito, muito! Pinhão Cele, carago, quem falar no Ademar, Ademar Moleiro! Ademar Adeodato era como ele era. Mas era moleiro, sempre moleiro, nunca teve outra arte. Nunca teve outra arte. E é assim. Tudo teve pena dele, tudo o vinha ver, a casa. Mas morreu. Oh, mas depois, depois ainda andou assim no Verão [pausa] quase um Verão ou dois mas depois deu-lhe uma trombose, foi para o moinho. Eu ia com a mandar um homem a procurá-lo, [vocalização] à noite, e ele não vinha, e [vocalização] e tinha-lhe dado [vocalização] aquela trombose na cabeça e não me disse nada até lhe deu em Pinhão Cele. E ficou-se assim meio tal, e chegou, ainda [vocalização] ainda comeu, ainda jantou, [pausa] e foi para o moinho. À noite não vinha. Quando veio, não falava. Não dizia nada. nhunhunhu, nhunhunhu. "Ó homem, tu como vens?" "Olha, deu-me isto. me deu de manhã em Pinhão Cele, nem te disse nada". Não falou. Pus-lhe o comer e ele comeu e [pausa] foi-se embora. Vinha : nhunhunhunhu. "E [vocalização] deu-me isto. Agora, olha, não queiras as partilhas" tínhamos partido [pausa] com os meus irmãos umas leirinhas que a gente para aí tinha "e não não assines". Ele queria o moinho. E foi com a paixão disso que lhe deu. Olhe que é u- é uma coisa a gente ter uma paixão [pausa] por uma coisa, [pausa] e não e não a aguentar. Ele queria o moinho. E aqui a minha família uma era esta irmã, foi esta irmã e a que está em Justes que não lhe deixaram o moinho. E ele com aquela paixão [pausa] foi-se embora. Estavam a partir e [vocalização] e ele queria o que lhe deixasse deixassem o moinho. Porque to- Estava assim doentinho; e no moinho ia ganhando o pãozinho, não era? Para ele e para mim. Os filhos estavam por , a governar-se. Mas, para nós, outra coisa não fazia, e eles não lho deixaram. [pausa] Não lhe deixaram o moinho. E ele com essa paixão, pôs-se a cavalo no burro e foi-se embora para o moinho. Quando veio à noite, veio assim. De- Deu-lhe aquilo. Foi de se aborrecer. Eu ainda disse: "Se eu soubesse que o meu marido lhe deu aquilo [pausa] por ele por via deles re- remocar com ele e não lhe deixar as partilhas à à vontade que ele queria, que até ficava de prejuízo, eu nunca mais falava para eles". Mas o meu filho, coitadito que está ainda esteve agora , esteve agora , no Natal. Até antes. Veio no Natal e veio no Entrudo e veio agora na Páscoa. Ele está em Valadares. Oh, está em Valadares, também digo maluquices. Não está em Valadares, está no, no [pausa] está no Porto. Não é bem no Porto, é depois, é noutro lugar em deslado, mas tanto faz. E E vai-se a ver, pronto, foi assim. Ah, mas não sei o que estava a dizer

INQ Disse que foi o seu filho que não

INF ah, pois, o meu filho. Eu, eu queria ficar zangada com eles, ao menos uma temporada, mas o meu filho disse-me assim: "Ó mãe, a senhora tem que ficar contente com todos. Não se pode ficar raivoso. Deixe . Nós ficamos com a casa que é esta casa, tenho em baixo outra , nós ficamos com a casa e eles ficam com o resto das terras". Olhe que eu não fiquei nem com uma hortinha onde plantar uma couve. Ficaram eles com tudo. [pausa] E eu fiquei com esta casa. Mas fui eu [pausa] e os meus filhos quem a compusemos, que foi tudo abaixo, que era de paredes, como está aqui, de paredes, e aqui eram quartos de madeira. Está madeira debaixo deste quarto, desta casa. Ainda nem se queimou nem se utilizou. E os meus filhos E os meus filhos e o meu genro foram quem compuseram isto tudo. E pagámos a, a quem. Foi tudo composto, mas foi o que eu fiquei. E eles têm bons lameiros. Lameiro bom que [pausa] que lhe bons contos. [pausa] E assim. Mas depois aborreceu-se muito e depois ficou assim. Mas o meu filho pediu-me muito [pausa] para ficar contente: que não se podia andar raivoso. "Deixe , não vale a pena. Nós [pausa] não enriquecemos assim. Cada um tem de [vocalização] o ganhar onde estiver e [vocalização] deixe as terras. Não se importe". E não quis. E nós ficámos com isto. E pronto! E depois, ficámos contentes, que ele não quis que a gente ficasse zangada.


Download XMLDownload textWaveform viewSentence view