INQ Mas e nesse caso perde-se a baleia, não é?
INF1 Antes perder a baleia que não o homem! Ele uma embarcação que vá atrás da baleia vai tudo é para debaixo do mar.
INQ Claro!
INF1 Porque leva o bote, leva o homem, leva o que calhar. É uma velocidade mesmo que avoa! [pausa] É uma velocidade grande!
INQ Então e vocês não querem ir à pesca da baleia? Não? Porquê?
INF1 Pois estes estes moços já vão à albacória. Até é O pai daquele até é mestre de um barco, ou uma traineira, e este é marinheiro doutra traineira de forma que …
INF2 Tem medo?
INF3 Nunca fui, não é? Se ia, já sabia que ia-me assustar.
INF1 Pois. Ah, todos ao princípio… Semp- Sempre ao princípio há [vocalização], há assustam-se uma coisita, mas depois habituam-se àquilo, começam-se a habitar a habituar. E depois?! É coisa brava!
INQ Mas também tem que ter força a pessoa que vai?
INF1 Pois. Mas agora as forças não são medidas: uns têm mais, outros têm menos, mas todos têm direito a viver e vão à baleia. Mesmo o que seja mais fraco vai. Ou o que [pausa] tem vontade de ir.
INQ Mas, por exemplo, para ser o trancador tem que ter uma força especial, não?
INF1 Bom, sempre é… Ah, pois é! Quanto mais, melhor! Porque em vez de a gente ir mais encostados, podia-se ir mais de largo e o homem chegava bem para o bote [pausa] ir mais longe da baleia para não haver tanto perigo. Mas quase sempre o lugar é, mais ou menos, [vocalização] a mesma distância. Eu também posso dar um… Ela pode-se afastar rápida e um já fica fora do alcance de um homem chegar a ela. De forma que quase sempre… [pausa] Bem, as distâncias são quase parecidas [pausa] para se dar lugar para o homem trancá-la.
INQ Olhe, e como é que se sabe que um, sei lá, um, um rapaz já está bom para começar a, a trancar a baleia?
INF1 Pois esses rapazes começam de pequenos aqui tra-, de de remadores.
INQ Por exemplo, o senhor começou tinha quinze anos, não é?
INF1 Sim senhor, à baleia.
INQ E quando é que começou a trancar?
INF1 Dezanove. Fiquei efectivo a arrear a bal-, aos dezanove. Eu já tinha pedido ao trancador, algumas vezes, estas lanças – que é de matar [pausa] –, para lançar, porque a baleia já estando fraca… Estando fraca, a gente já vai experimentando, [pausa] ele vão-se habituando àquilo.
INQ Ah, vão experimentando, vão treinando.
INF1 Exactamente, exactamente. E hoje, esses rapazes é a mesma coisa: a baleia já está quase para morrer, fraca, mas parada em cima do mar, a gente dá a lança [pausa] para os rapazes irem experimentando-a. [vocalização] Gostam Têm gosto de lhe dar acolá umas lançadas. De forma que vão-se habituando lá, [pausa] já pegam no cargo. Sim senhora.
INQ E a primeira vez que um, que um rapaz começa a trancar sozinho a baleia, faz alguma festa, ou não?
INF1 Sim senhora. Faz, sim senhora. Por acaso também fiz a minha festa, também.
INQ Como é que foi?
INF1 É para um [vocalização] É [vocalização] ali num botequim ele que tínhamos ali. Até meu pai que era um homem que não bebia – que é doente, não bebia – é que foi lá para dentro para o botequim para pagar vinho para [vocalização]
INQ Para o pessoal todo?
INF1 todo o pessoal beber – ou para muita gente beber. E saiu de lá muito satisfeito! É claro que eu fui à proa, que era trancador… E quase todos são assim. E mesmo sendo até um pai com filho, pois quase sempre fazem uma festa. Até mesmo que, agora, a gente arreando e a coisa calhe bem… Até mesmo o, o ele o irmão aqui do Baltasar, o Bebiano, que é trancador, pois também faz a sua festa, também vamos para a taberna para beber uns copos, e tal. Há alegria há [vocalização] e gostam.
INQ Bem, isso é depois de apanhar uma baleia?
INF1 Sim senhora. Depois de a gente chegar aqui a terra e a coisa corra bem, pois lá se vai beber uns copitos, sim senhora; faz-se uma festazinha!
INQ Vai festejar!
INF1 A coisa correu bem! Que, às vezes, pode também correr mal! Às vezes, há dias que corre mal, também!
INQ Mas é, é aquele que tranca que, que brinda os outros ou todos pagam?
INF1 É sim. Não, é assim: eu também, hoje, eu também como oficial também, às vezes, também ajudo na brincadeira. A gente vem satisfeitos! Pois as coisas quando correm bem, a gente vem satisfeitos e depois gosta de lhe fazer uma festa qualquer.
INQ Claro!
INF1 É, sim senhora.