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UNS24

Unhais da Serra, excerto 24

LocationUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
SubjectO moinho, a farinha e a panificação
Informant(s) Dimas Dídia Diodoro
SurveyALEPG
Survey year1997
Interviewer(s)Gabriela Vitorino
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF1 E depois de estar limpinho, vai ao moinho. [pausa] Vai ao moinho, [vocalização] o dono do moinho o mói [pausa] a quem o leva, do proprietário. Depois de moído, [pausa] então a pessoa que que o tratou e o malhou vai, depois de moído, vai então para casa e depois vai pedir a vez ao forno. [pausa] A senhora vai ao forno e diz [vocalização] à dona do forno: "Ó senhora fulana de tal, quero cozer hoje. Tenho vez"? A dona do forno depois diz: "Tem, sim senhor. [pausa] Quantos alqueires são, que você vai cozer"? Ou é um ou um e meio. Por exemplo, a dona do forno sabe as pessoas que vão a pedir a vez, sabre [pausa] tem que saber quanto é que vai cozer, se é um alqueire, se é alqueire e meio. [vocalização] Porque o forno leva, por exemplo, doze alqueires, [pausa] e as pessoas que vão, uma é meio alqueire, outra é um alqueire, outra é alqueire e meio, e depois o forneiro faz a conta até chegar aos doze alqueires que o forno leva. Não pode convidar mais que depois não lhe cabe .

INQ Claro.

INF1 E depois [vocalização] a senhora que vai cozer o pão [pausa] criva a farinha com umas peneiras que havia antigamente agora parece que é à máquina, mas nesse tempo era umas peneiras a peneirar farinha , e depois diz pede ordem à forneira: "Ó minha senhora, quando é que hei-de amassar"? [pausa] A mulher espera que que o forneiro dizer [vocalização] dar ordens para amassar. "Ó senhora fulana de tal, pode amassar"! E depois uma pessoa que vai dar a volta a todas. "Olhe, pode amassar". Depois amassa, metem-lhe o bocadinho do fermento para o pão crescer [pausa] para o pão crescer.

INQ Rhum-rhum.

INF1 E depois de amassado está ali talvez [vocalização] hora e meia ou duas horas amassado. [pausa] E depois, ele quem o amassou torna a esperar pela vez do forneiro [pausa] para mandar tender. Quando depois está finto, está crescido, é tapado com umas mantas, é farinha e tal, tal, tal, e depois espera pela vez de mandar tender. Torna a amassar, torna a dar umas voltinhas, que é a tender, dá-lhe mais umas voltinhas e depois corta então aos bocadinhos. [pausa] Faz então as broas ou o pão. E tem o tabuleiro ao lado. Põe no tabuleiro logo com com um lençol, ou uma toalha; vai cortando aos bocadinhos, [pausa] e põe no tabuleiro. Conforme a quantidade que é, põe no tabuleiro. E depois então o forneiro, [pausa] com antecedência, mete a lenha ao forno [pausa] que é para aquecer bem , e depois o forneiro vai então dar a volta [pausa] a todas a acartar os tabuleiros para o forno. O forno tem ali umas mesas em pedra tinham, agora não existe! , tinham umas mesas em pedra e pousavam ali os tabuleiros cada uma! , cada uma das pessoas. E depois chegava-se à altura de o forno estar quente, o forneiro com um vassouro [pausa] de giesta ou de pinho, rama de pinho, e tal, varria aquilo bem varridinho, e tentava meter o pão. Portanto, havia ali seis ou sete mulheres, ou que fossem cinco O que tinha que ser era a conta de doze alqueires, que é o que leva o forno.

INQ Pois.

INF1 O forneiro sabe o que aquilo leva , [pausa] assim dizia às mulheres: "Quanto é que vais amassar? Alqueire? Ou alqueire e meio? Conta até " O forneiro fazia a conta, tinha que dar os doze alqueires, que é o que leva o forno.

INQ Pois.

INF1 Senão depois o pão tinha que ficar fora. E não podia ser. [pausa] Metiam então o pão para o forno. [pausa] E depois [vocalização] para diferençarem o pão, como é que haviam de fazer? é que é importante. Pois, a senhora metia o seu tabu- o seu pão, o senhor igual, ele metia igual, eu igual, e depois para a tirada de estar cozido, como é que o haviam de diferençar? Antes de o meterem [pausa] Por exemplo, a senhora: "Ó senhor forneiro, que sinal é que eu ponho ao meu pão"? [pausa] "Um dedo". Fazia uma poça com o dedo na na broa.

INQ Rhum-rhum.

INF1 Ou um dedo Outra freguesi- Outra freguesa, depois: "E que sinal é que eu ponho"? "Ponha dois dedos, duas poças". A outra: "O que é que eu ponho"? "Um pauzinho". Um pau da grossura dum lápis. [pausa] "Ponha um pauzinho". Fazia um buraco com o pau. A outra: "O que é que eu ponho"? "Ponha dois paus". Dois buracos com o pau. A outra: "O que é que eu ponho"? "Um belisco". Dava assim um belisco na massa. [pausa] E quando e- E quando eram muitos, se havia de ter dois buracos com o pau, punha três.

INQ Pois.

INF1 Poças com o dedo, se haviam de ser duas, três.

INF2 E ia o meu pai buscar os tabuleiros, [pausa] a casa das mulheres.

INF1 Portanto, tinha que tudo levar sinal, tudo diferente.

INQ Pois.

INF3 Era para saberem.

INF1 Quando o pão estava cozido, o forneiro tirava o pão, as mulheres estavam ao lado.

INQ Mas essas mulheres eram as donas do pão?

INF1 As donas do pão!

INQ Ah!

INF2 As donas do pão.

INF1 Cada uma, o forneiro tirava o pão, chegava ali com a , [pausa] dois buracos. Dizia a senhora: "Ai, isso é o meu"! Tirava. Vinha outro: "Ai, isto é dois buracos com o pau"! Tirava. Vinha outro: "Ai, isso é belisco, é meu"! Cada uma levava a sua conta.

INQ Pois.

INF1 Então se não fosse assim, como é que haviam de diferençar?

INQ Pois. Claro.

INF1 Se não fosse assim, não podiam diferençar.

INQ Claro.

INF1 Cada uma levava o seu: ou dois dedos, ou três, ou um belisco, ou dois paus, ou três. E batia tudo certo. Cada uma levava. Depois de estar tudo no tabuleiro, tudo certinho, se às vezes havia uma confusão, um buraco mal feito, ou [vocalização] uma poça com o dedo um bocadinho mal feita, ou outra que a massa cresceu que se conhecia mal, às vezes uma tirava o que não era dela e tal, e depois iam [vocalização] era fazer a diferença: "Não, isto tem jeito de ser a minha", e tal. E acertavam e coisa, e cada uma ficava com o seu.

INQ Pois.

INF1 Depois de estar no tabuleiro, o forneiro levava [pausa] o tabuleiro de cada uma. Ou que fosse longe, ou que fosse perto, tinha que lho ir levar. E depois à noite Bem, esta é que não disse! [pausa] Quem cozia o pão fazia o [vocalização] as broas e punha no tabuleiro. Mas faziam uma um bocadinho maior as outras eram mais pequenas , mas faziam uma maior que era a paga [pausa]

INQ Rhum-rhum.

INF1 do do trabalho do forneiro. [pausa] Faziam uma um bocadinho maior que era a poia, um bocadinho maior [pausa] para a paga do tab- do forneiro.

INF2 A paga era uma poia.

INF1 Às vezes havia mulheres um bocadinho agarradas , [pausa] faziam igual, ficavam pequeninas; havia outras que tinham mais consciência, uma poiazinha maior.


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