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UNS45

Unhais da Serra, excerto 45

LocationUnhais da Serra (Covilhã, Castelo Branco)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Dimas Dília Diodoro Dídia
SurveyALEPG
Survey year1997
Interviewer(s)Gabriela Vitorino João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMélanie Pereira
LemmatizationDiana Reis

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INF1 Esse

INQ1 Eu tinha ouvido falar era de chá de caganitas de rato.

INF1 Também tomei.

INQ1 Também?

INF1 Também tomei.

INQ1 Isso é que eu tinha ouvido falar.

INF1 Também tomei.

INF2 E o meu pai comeu comeu [vocalização] a carne da cobra.

INQ1 Também?

INF2 Sopa.

INF1 Comi.

INQ1 Para quê?

INF1 Para nada.[vocalização] Para

INQ1 Para provar?

INF1 Pois.

INF2 Diz que é boa!

INF1 Para provar.

INF2 Diz que é boa a carne da cobra!

INF3 Tiram-lhe uma parte uma parte do, do entra- a seguir ao pescoço [pausa] e a parte do rabo e comem a parte do meio.

INF1 Eu ia buscar

INQ1 Ah!

INF1 Eu ia buscar um molho de mato para o forno

INF3 Não, mesmo até, de baixo, estiveram algarvios ao de mim não é? , em Santa Margarida, e comiam-nas.

INF1 Eu ia buscar um molho de mato para o forno

INF3 Havia Havia indivíduos que as comiam. Iam , tiravam-lhe as as partes da frente e comiam as partes de trás.

INF2 Deixa agora Deixa agora contar ao pai.

INF1 E depois

INQ1 Diga , o que é que ia fazer?

INF1 Fui buscar um molho de mato para o forno para trazer às costas. [pausa] E eram umas onze Foi em Maio. eram umas onze horas e estava calor.

INQ1 Onze horas da manhã?

INF1 Sim. Perto do meio-dia. Eram onze horas. Estava muito calor. Foi em Maio, estava calor. [pausa] E fui além para aquele lado. [pausa] Talvez daqui para , meia hora de caminho. [pausa] E naquele sítio, foi onde o Dordio tinha as cabras, por cima um bocadinho.

INF3 Ainda estão.

INF1 E digo eu assim para comigo: "Bem, aqui muita cobra e muito sardão"! Havia cada sardão! [pausa] Cada javardão! Aquilo até metiam nojo! Muito grandes, com aquelas patas grandes! Naquele sítio havia muita bicharada e muita cobra, [pausa] que vinha do pinhal de cima. E eu ia no caminho, um caminho ainda largo. E digo eu assim: "Bem, aqui está calor". Porque aquilo, aquela bicharada com o calor saem. [pausa] Aquela bicharada com o calor é que saem mais. E digo eu assim: "Homem, aqui muita bicharada, muito sardão [pausa] e cobras" [pausa] E eu levava a roçadoira como o senhor tem, ao ombro, atada à corda. [pausa] Levava aqui ao ombro e abaixei-me e apanhei uma pedra, mais ou menos da grossura deste copo. "Deixa-me apanhar uma pedra. Se vir alguma coisa, sempre lhe avento". [pausa] Eu sou muito foito, mas ali apanhei um bocadinho susto. Eu a acabar de dizer aquilo e eu ia a passar à frente duma parede com dois metros de alto, ou metro e meio. Havia uma paredezita num pinhal onde faziam esses tais alqueves. [pausa] E havia uma parede [pausa] ao lado do caminho, que essa parede fizeram-na para o para fazer o caminho, que ia o caminho para a para as centrais, que era o caminho velho antigo. [pausa] "Aqui muita bicharada, deixa-me apanhar esta pedra; se aparecer alguma coisa [pausa] hei-de-lhe aventar com ela". Eu a acabar de dizer aquilo, uma cobra. Aquilo vinha picada com outro bicho [pausa] Que as gajas quando estão enervadas fazem uma rodilha, enroladas. Aquilo vinha [vocalização] picada com outro bicho de andarem à bulha Eu a acabar de dizer aquilo, e aquela grande cobra ia-se-me enfiando na cabeça. Eu disse: "Ena "! [pausa] Por pouco é que não se me enfiou aqui na cabeça.

INQ1 Pois.

INF1 Caiu da parede para baixo, no chão. E onde ela caiu era um bocadinho do caminho largo e assente, assim um bocadinho direito, um bocado de areia, e tal. A gaja caiu assim ali. Eu sou um bocadinho foito mas arreceei. Arrecuei um bocadinho atrás. Mas ao mesmo tempo que eu arrecuei um bocadinho, e a gaja ficou assim à minha frente enrodilhada e começou-se a desenrodilhar para ir para a parte de baixo do caminho, para o meio das pedras. Quando a gaja se começou a desenrodilhar, eu assim à toa, com a pedra que levava na mão assim à toa! aventei-lhe com ela. Então eu não lhe calhei a dar atrás da cabeça, dois palmos?! Parti-lhe logo a espinha. [pausa] Aventei à toa!

INQ1 Pois.

INQ2 E acertou.

INF1 Calhei-lhe logo a dar atrás da cabeça dois palmos. Ah, mas aquilo era um balúrdio! [pausa] Quando lhe dei com a pedra, aquilo parti-lhe a espinha, a gaja dali não abalou. Tombo daqui, tombo dalém, tombo daqui, tombo dalém, e dali não abalou. E a gaja a acenar para mim: "Vhe-vhe-vhe". Eu cheguei-me atrás mas não abalou donde estava, aos tombos, mas não abalou donde estava.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 E depois peguei noutra pedra maior

INF2 E ela era grossa!

INF1 Ai! Peguei noutra pedra maior [pausa] e aproximei-me um bocadinho, tornei-lhe a avantar a aventar, tornei-lhe a dar na cabeça, a amuganhei mais. afrouxou mais. Mas mesmo assim: "Vhe-vhe-vhe"! Foi assim de longe.

INF2 Ai, se lhe pudesse chegar!

INF1 Até que a gaja afrouxou. Depois de estar assim um bocado frouxa, vou então com o bico da roçadoura, como têm no livro, vou então com o bico da roçadoura e dei-lhe assim na cabeça, acabei-lha de esmagar. [pausa] Tombo daqui mesmo com a cabeça esmagada , tombo daqui, tombo dalém, [vocalização] mas dali não abalou. Ah, mas aquilo era um balúrdio enorme! [pausa] que a corda tem uma casola. Nunca viu? Não sabe como é?

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Tem uma casola para a gente apertar o molho.

INQ1 Pois.

INF1 Uma coisa em madeira, que faz a curva.

INQ1 Em madeira.

INF1 A minha casola tinha Para a fazer, tinha um arame destes arames da luz,

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 um bocado de fio de da luz que eu pus na casola para para não fugir dali. Como tinha ali umas três ou quatro voltas de arame, [pausa] não tinha ali nada que [vocalização] com que enfiar na cabeça à cobra, tirei um bocadinho do arame da casola da corda, tirei-lhe ali duas voltas ou três, e fiz um gancho. Fiz um gancho e enfiei-o na cabeça da cobra e dependurei-a num pinheiro. [pausa] E fui arranjar o molho e depois quando passei para baixo trouxe-a, que era para a verem aqui no povo. [pausa] Ela era tão pequena [pausa] que eu trazia assim o molho às costas e ao gancho, enfiei-o assim aqui no molho do mato, num pau, enfiei-o aqui, [pausa] e a gaja vinha estendida para trás. Ela tinha mais de dois metros!

INQ1 Pois.

INF2 Era.

INQ2 Rhum-rhum.

INF1 E uma grossura enorme! [pausa] E depois passei aqui no povo: "Olha o Dimas! Olha que cobra ali leva"! "Olha assim, olha assado"! Tudo a admirar, [vocalização] a trouxe. [pausa] Uma madrinha minha que morava na casa que hoje é da Dília, além naquela casa mas era a casa mais baixinha , essa madrinha minha comia-as. [pausa] Quando lhe davam alguma, cortava-lhe um bocado, dois palmos da cabeça [pausa] e dois palmos do rabo. E a outra parte, depois tirava-lhe a pele, depois cortava-a aos bocados e cozia-a. É exactamente o cheiro de [vocalização] do frango. É exactamente o cheiro do frango e o sabor.

INF2 Eu não era capaz de comer! [pausa] Este comeu.

INQ2 Rhum-rhum. Pois.

INF1 Tirou-lhe então a pele toda

INQ1 A mim não me faz muita impressão!

INF1 Desenfiou-lhe aquele bocado da

INF4 A senhora também comia?

INQ1 Acho que era capaz de comer. Não me fazia muita impressão.

INF2 Mas sabendo não comia.

INF1 O cheiro é exactamente

INQ1 Mesmo se soubesse também acho que era capaz de provar.

INF1 O cheiro é exactamente igual. Eu não foi por fome, nem foi por nada. [pausa] Vi-a

INQ1 Foi para provar!

INF1 Vi-a comer a ela: "Também quero experimentar"! É exactamente o frango, a água do frango, a canja.

INQ1 Pois.

INF1 Comi uma malguinha de canja, bebi uma malguinha de canja, e depois comi um bocado da carne.

INQ1 E não lhe fez mal?

INF1 Ai, fez agora!


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