R&D Unit funded by

VPA40

Vila Praia de Âncora, excerto 40

LocationVila Praia de Âncora (Caminha, Viana do Castelo)
SubjectOs barcos e a pesca
Informant(s) Agesilau
SurveyALLP
Survey year1985
Interviewer(s)Gabriela Vitorino João Saramago
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Javascript seems to be turned off, or there was a communication error. Turn on Javascript for more display options.


INF Eu arranjei Eu arranjei Aquela mulher [pausa] gostou de mim. O que é que eu não podia ficar, que ela sabia que eu que era casado casada. Mas aquela mulher era é tão [vocalização] Aquelas mulheres são mesmo esmolares. Gente boa, pronto.

INQ1 Pois.

INF E eu tinha aquela. Quando ia , ala, pronto. Nem Nem dormia no navio! Muitas vezes nem dormia no navio! Ia dormir à casa dela.

INQ2 Qual foi a última vez que foi ao bacalhau?

INF Foi [vocalização] em 1970.

INQ1 Em 1970?

INF É que acabei. Em 70, acabei. Acabei, porque [vocalização] Não foi Não foi o tempo nem foi o trabalho O trabalho também está bem que me deu cabo de mim também, mas quem deu cabo de mim foi um enfermeiro. Um enfermeiro! Sabe quem são os enfermeiros?

INQ1 Sim sim.

INF Nós também levávamos um enfermeiro para o mar. E havia barco que levava um médico. Havia um barco que tinha o médico. E esse médico servia para todos os barcos, hem. Porque a frota da companhia também era grande. E a mim, quem me quem deu cabo de mim foi um enfermeiro.

INQ1 Mas porquê?

INF Foi. É que [pausa] Eu [pausa] era salgador. Estava debaixo da, do do convés do barco. E o sal E o sal às vezes empedrava. E nós tínhamos que serrar, e nós tínhamos que sa- que mudar o sal, como daqui talvez uns seis ou sete metros para cima do, do, do do outro peixe para, para ganhar para ganhar [pausa] alojamento para salga- para salgar ali no-, noutro lado.

INQ1 Pois

INF E como o sal empedrou, ao fazer assim, vai a- vai assim a e, e e isto segou-me este um braço. Este primeiro foi este, depois foi este. "Ai, ai, ai"! Abriu-se Abriu-se-me os tendões daqui. "Ai, ai, ai, ai que não tenho forças, ai que não tenho forças"! e tal. E fui para o enfermeiro. Então, esse enfermeiro, que me fazia? Dava-me [pausa] banhos [pausa] de electricidade assim com aquelas faixas de de lume que têm têm aqueles projectores . O gajo, o, o o enfermeiro, falava brasileiro. Ele dizia-me assim: "Agesilau, você aguent- aguente melhor o que porque é preciso, hem". "Está bem, Senhor Senhor Enfermeiro. Eu, certo, se é se é para meu bem, bote"! E tal. "Bote"! Aqueles banhos! Ora, os ossos apanharam aquele calor. Ele manda-me ir trabalhar. molha-, e, e E molhava os braços com água, com água salgada. Ora aqueles ossinhos apanharam aquele estavam quentes, apanharam aquela frialdade, do frio, que a água, a água estava gelada! Jesus! O gelo! Meu Deus, Senhora da Bonança! Ora apanharam-me aquela aquela frialdade, cheguei a um ponto que não podia por causa do reumá-. E não posso do reumático. E depois, inchava, quando vinha assim um bocadinho de névoa, nevoeiro Sabe o que é nevoeiro?

INQ1 Sim, sim

INF É escuro, não é? Está dia, não é? E vem aquele nevoeiro Eu, quando vinha aquilo, minha senhora, os pulsos eram assim, olhe. As mãozinhas eram assim. Eu chorava: "Ai, que eu não posso"!


Download XMLDownload textWaveform viewSentence view