INQ Então porque é que disse que as eiras eram normalmente em cima dos cabeços, era porquê?
INF Por causa do vento. Porque, numa cova, nunca há tanto vento como há num cabeço, quando é no Verão.
INQ Pois.
INF E não… E é, e é- E é uma coisa: numa cova, por exemplos, ne- nesta cova, aqui onde nós estamos, [vocalização] se o vento viesse dali que batesse numa erva ali do outro lado, voltava para trás e não e não era certo – não era aquele vento certo sempre a passar. E num cabeço, não tendo nada que lhe fizesse mal, o vento estava sempre certinho, sempre a passar; e limpava-se com mais facilidade.
INQ Portanto o, quando se manda ao vento, diz que, o que é que se diz que está a fazer, está a …?
INF A desempalheirar. E em depois, é padejar. A desempalheirar, é só palha. É que quando está a [vocalização] palha juntamente com o grão, aven-, aventa- aventa-se ao ar – não é? – e a palha vai para um lado e o grão vai para outro. Até mesmo aquilo tem um jeito para desempalheirar. A gente tem que rodar este pulso, conforme é cada um: alguns pegam [pausa] em baixo com a mão direita; outros pegam com a mão esquerda. Eu, por acaso, era com a mão esquerda cá em baixo. E a gente dava assim o jeito ao pulso para para ir o [vocalização] trigo para um lado – ou o grão para um lado – e a palha para outro. E em depois abalava com o vento. E aquilo era passado muitas vezes; aquilo não era logo à primeira vez. Aquilo ia passando. Por exemplos, a gente começava aqui a desempalheirar e a palha ia sair aí quatro metros ou cinco mais à frente para ir-se passando, passando, até que em depois o grão ia ficando todo para trás. Quando aquilo já estava a palha toda tirada, a gente agarrava numa numa giesta – um bocado de giesta; chamava-se uma conha – e aconhava por cima. Tirava-lhe as palhas todas por cima. E em depois, então, ficava só aquela moinha; juntava-se num monte e atirava-se ao ar. Isso chamava-se padejar. Era já com uma pá de madeira, [pausa] com uma pá de madeira. Chamava-se padejar, ou para cima duns toldos de de linhagem [vocalização] ou mesmo até para o chão.
INQ E, depois, dentro de que é que se guardava o grão?
INF Como?
INQ Dentro de que é que se guardava o grão?
INF Dentro, havia Havia as tulhas; chamavam-se-lhe tulhas. Mas
INQ Que eram feitas em cimento, em tábua.
INF Fei-, feitas em Feitas em… [vocalização] Algumas era em madeira e outras era mesmo uma casa feita com com pedra e [vocalização] cal, gu- bem guarnecida em ar de não entrar lá assim muita humidade e [vocalização] guardava-se ali o [vocalização] grão; chamava-se tulhas. Mas as de madeira eram melhores porque não apanhava tanta humidade.
INQ Pois.
INF Até outras vezes, dentro de sacos, não é? Aquilo também se enchia. Também se enchia sacos e punham. Nós cá, por acaso, cá no tempo dos meus pais, era tudo cheio de sacos. Sacos grandes! Punha-se aquilo; havia uns sacos mesmo grandes que levavam aí… [pausa] Muito! Levavam aí seiscentos quilos ou mais. E de forma que a gente punha aquilo assim à roda das paredes e enchia-se aquela coisa.