INF Bem, e depois, [pausa] meu pai faleceu, tinha eu treze anos. E [vocalização] E então, daí, [vocalização] deu-se o caso [vocalização], é claro, arrumei-me então à arte. Digo assim: "Bem, isto já não dá nada o campo, também". Arrumei-me à arte. Trabalhava, então, ali numa quinta do prado, ali em baixo. Trabalhei ali, à roda dos vinte anos, lá. Fazia um biscatito assim nos domingos, cá em casa, mas o mais trabalhava ali, assim de jorna. E depois então acabei por pôr loja por minha conta, até à data de hoje. Faço [vocalização] cinquenta e sete [pausa] no dia quatorze de Junho. Portanto, enfim, cá estamos. E isto [vocalização] já se sabe. E então [vocalização], é claro, isto aqui é cla- apanha um meio muito grande – ainda é o que vale –, porque só o concelho [pausa] não me governava. Apanha então o concelho de Marvão, aqui o concelho de Portalegre e [vocalização] vêm nas camionetas, no- nos tractores e trazem o serviço aqui. E então [vocalização] aqui vou fazendo [pausa] aquilo que posso. O que não posso, é claro, [vocalização] digo logo que não posso; mas, enfim, cá se vai a gente andando. E [vocalização] E, enfim, é claro, os meus pais, coitados… É claro, naquela altura, no melhor, o meu pai faltou-me. E depois, nós éramos quatro irmãos [pausa] e [vocalização] ficámos só com minha mãe. E eu, como sendo o mais velho, é q- é que fui sempre o mais escravo. Mas, [vocalização] enfim, até à data de hoje não estou repeso. Tenho trabalhado muito; mas [vocalização] a gente, em tendo saúde, o trabalho não mata ninguém. Até ainda a gente anda melhor, não é? E é assim. O mais, pronto, [vocalização] é claro! Agora [vocalização], [vocalização] a questão de [vocalização], assim, de [vocalização] [pausa] disto das carroças tem um problema, por exemplo, a gente disto das ferragens… Eu tenho é agora uma umas rodas novas para fazer e as ferragens não há maneira de virem. Estou farto de apitar o mesmo que me fornecia para cá. Pois, às vezes, podia ser [vocalização] a falta de dinheiro, ou coisa, ou tal. Não senhora! Quer dizer, é aquela [vocalização] maneira dos tipos não, não se não se torcem. Quer-se dizer, em não sendo coisas assim de grandes quantidades, coisas pequenas não ligam. E em depois, pronto. Eu acabei. Não tinha [vocalização] aparelho de soldar. Não o tenho aqui porque a casita é muito pequenina. Tenho ali no no meu rés-do-chão, [pausa] e uma máquina onde estão, uma maquinetazita onde… Por exemplo, isto agora, [pausa] vou fazer umas portas – agora afracou aí um bocado o serviço e [vocalização] eu [vocalização] tomei esse compromisso –, umas portas aqui para um vizinho. E então, agora, é o que vou fazer, umas portas em castanho. E [vocalização] E assim se vai levando. Mas, quer dizer, na tal maquinazita, dá-me para aparelhar isto. Agora corto isto nos comprimentos e vou lá; aparelho; e, depois, aqui, é já só armá-lo. E então, é assim. Mas não tenho aqui. Não tenho aqui porque isto [vocalização] a casita é muito pequenina e, além disso, não é minha, porque [vocalização] a dona não não tem lucro nenhum [pausa] em ter isto [vocalização]… Ela já havia de ter vendido isto há mui- há muito tempo. Agora é que pôs aí os escritos [pausa] mas [vocalização] nem sei quanto elas pedem por isto. Aquilo não hão-de pedir pouco. E eu estou [pausa] Dentro da razão, quero eu ficar com ela. Mas se a casita fosse maior, eu, é claro, tinha aquelas maquinetas, tinha-as aqui e, enfim, aquilo, tinha tudo mais a jeito. Assim, tenho ali no meu rés-do-chão, enfim, para me safar. E então assim é que é a vida.