INF1 Nesse tempo, às vezes quando era assim…
INF2 Pois.
INF1 Porque isso cá [vocalização] fora de [vocalização] povos, assim coiso, não tinha dúvida. Mas, por exemplo, ali em Aljustrel, Aljustrel, pois, é um meio grande e havia muito pássaro, muito pardal. E o pardal faz muito mal. Oh, pois, se ali aos arredores, se havia ali uns farrejais, algum que se descuidava a semear ou cevada branca ou trigo, pois via-se à nora porque os pássaros andavam por cima daqueles telhados e lá dos telhados voavam e iam-se caminho daquelas searas. Algum trigo que vinha assim mais cedo, quando um gajo lá ia, não estava lá nada. Era só Era só as… Parecia uns espiguitos ali. E punham um coiso, depois vieram os espantalhos.
INF2 Punham espantalhos! Um pau tanchado com uns trapos, faziam o jeito dum boneco.
INF1 Uns trapos. Até faziam bonecos. Havia
INF2 Pois. E iam com um saco qualquer…
INF1 Havia sítios que faziam bonecos. E havia E havia quem fizesse moinhos, moinhos de cana, uns moinhos grandes de cana e punham-se lá. Em o vento lhe dando, aquilo fazia ali um barulho que era um disparate e os pássaros voavam. Mas haviam alguns que tinham já tanta prática disso que, às vezes, iam pousar mesmo em cima do moinho. E quando se punham lá bonecos, ora, às vezes, ia a gente lá, até a cabeça do boneco estava já cagada dos pássaros! Até lhe cagavam em cima a dar cumprimentos! Que o que eles queriam era comer! Risos [vocalização] Havia coisa, e havia gente, coitados, davam lá uma volta e agarravam-se a um latão, a uma coisa, e davam em dar voltas naquilo, desaparecia tudo. E um ano, lá ao pé do moinho, havia lá uns eucaliptos lá da mina, e aquilo era muito certeiro lá em pássaros e em pardais – havia muito pássaro nesse tempo, muito pardal –, os cabrões mamaram-me a cevada branca que eu lá tinha. Mamaram-ma toda!
INF2 Ali onde é o correio [pausa] Ali onde é o correio, agora já é tudo cheio de casas, ali era certo, era tudo era tudo terreno para semear.
INF1 Semeava-se ali onde estão essas casas…
INF2 Semeavam até até mesmo ali já rente quase ao ao correio.
INF1 Onde estão essas casas que vocês falaram aqui ontem à noite, essa parte toda aí por aí abaixo, direito lá à avenida, lá em baixo, essa zona toda donde estão esses prédios aí coiso, isso era tudo semeado. Aquilo era terreno da Câmara e a Câmara semeava ali, cevadas mesmo. Porque eles tinham sempre duas, três bestas lá no matadouro para carregar a carne, [vocalização] e bestas para carregar o lixo. Nesse tempo, o lixo era todo carregado em carrinhas, em coisas, tinham sempre duas ou três bestas. E então a Câmara semeava ali aquilo tudo de cevada. Às vezes, sobrava-lhe até vendiam a pessoas que que tinham falta, que tinham animais, vendiam ali bocados. Pois isso era tudo semeado ali, tudo, tudo, tudo, ali por aí abaixo, até lá à avenida, aquela parte toda até à avenida, até lá quase à bomb- donde há umas bombas de gasolina.
INQ Rhum.
INF1 Lá em cima, uma parte que chamam a casa ali do Ivo, onde há uma oficina…
INQ Sim.
INF1 Tem umas bombas de gasolina ali à direita. Aí onde estão essas bombas de gasolina, havia ali um chafariz onde a gente ia dar água às o- às bestas. E na banda de cima, havia ali um poço – ainda lá está, esse ainda lá está –, havia ali um poço que era também da Câmara, como é que se chamava além àquilo?
INF2 Era a Romeira.
INF1 Era a Romeira.
INF2 Pois.
INF1 Aquilo era conhecido ali por a Romeira. E vinha a água de lá, tinha lá um [vocalização] coiso…
INF2 Tinha umas torneiras, punha-se lá [vocalização] … Ia-se lá encher as bilhas.
INF1 Pois, porque a gente enchia lá as quartas ou barris. E de lá vinha um tubo que vinha parar cá a esse coiso onde a gente chegava ali [vocalização] e, por exemplo… É que mesmo a cavalo na carrinha, o animal chegava lá e bebia. Tinha ali um chafariz. Ah, pois isso foi-se modificando, acabou tudo, o Ivo [vocalização] pôs lá aquelas bombas de gasolina e isso desapareceu, essa coisa toda.