INQ1 Olhe, e o senhor disse que hoje, actualmente, as pessoas se aquecem mais com carvão.
INF Pois.
INQ1 Como é que se cá faz o carvão, o senhor sabe?
INF Como é que se faz o carvão? O carvão é da sobreira. É os paus da sobreira.
INQ1 Os paus de quê?
INF Da sobreira! [pausa] É cortado a sobreira aos bocados [pausa] – é como a madeira da sobreira –, podem até deitar uma sobreira podem dei- até deitar uma sobreira abaixo, ou duas. É serrada, [pausa] aos traços, e depois é feita dentro dum, dum mo- dum monte – chama-se aquilo um forno. É tapado com terra e depois larga-se fogo. E ali é que fazem o carvão. Está a moer debaixo daquela terra.
INQ2 Está o quê?
INF A moer! A arder! Está lá a moer debaixo daquela terra e está a deitar fumo. [pausa] De maneira que depois, passado uns tempos, vem lá os homens todos destapar aquilo – está feito em carvão! Depois é ensacado em ca- em sacas e vem vendido para os carvoeiros, para venderem.
INQ2 Rhum-rhum!
INQ1 E não deixam lá umas coisinhas, uns buraquinhos para o forno respirar?
INF Isso os buraquinhos é por onde é que deita o fumo. Está sempre a deitar aquele fumo e está a respirar para fora.
INQ1 E como é que se chama a esses buraquinhos?
INF É os respiradouros.
INQ1 E o, aquele… Não há um sítio?… Isso é nos fornos muito grandes…
INF Pois.
INQ1 Há assim uma coisa onde se mete made-, por onde se mete a madeira lá para dentro?…
INF Isso é a boca.
INQ1 Pronto. E quando está a meter a madeira, diz que está a quê?
INF Quando está a meter a madeira? Está a meter a madeira para, para para largar mais fogo.
INQ1 E depois para conseguir que aquilo, que ele deixe de arder?
INF Abafa-se com terra.
INQ1 E diz que est-… E isso é fazer o quê?
INF É abafar.
INQ1 Abafar. Empoado, é? Chama-se aqui?
INQ2 Sim. Está aqui um empoar.
INQ1 Nunca ouviu falar em: "é preciso empoar o forno", não?
INF Empoar? [vocalização]
INQ1 Não?
INF Tenho ouvisto falar mas é abafar: que é para abafar, que é para deixar deitar a aquela coisa.
INQ1 O senhor nunca fez carvão?
INF Nunca fui, mas já vi fazer.
INQ1 Aqui havia?
INF Havia. Aqui da charneca houvia. Havia tantos fornos – disto!
INQ1 Já não há?
INF Agora já não há. [pausa] [vocalização] Houvia gente mesmo a fazer isso.
INQ1 Está tudo a acabar. É o moinho…
INF Acaba tudo. [vocalização] Aqui, agarrado aqui, isso juntava-se se juntava sempre gente aí a fazer fornos de carvão. Houvia aí dois homens que vendiam carvão com duas parelhas de mulas [pausa] – como esses carros lá do Alentejo –, houvia aí dois: ele era o Arnaldo e era o… – chamava-se Aretino. Tinha uma parelha de mulas cada um e andavam sempre a carregar carvão aí da charneca, para venderem aqui em Alcochete. Andavam à roda da vila a vender às sacas e tinham casas a vender mesmo de propósito aos quilos.
INQ2 Rhum-rhum!
INF Isso acabou tudo!
INQ2 Rhum-rhum!
INQ1 Pois.
INF E não se vê já um homem aqui perto fazer um forno de carvão – [pausa] mesmo dentro da charneca. Não se vê. Já [vocalização], agora, mesmo o carvão, [pausa] se há algum, é lá para o Alentejo! [pausa] Que está aí dois carvoeiros: [vocalização] aquele ali nem tem carvão, quase nunca tem; e está aí outro ali… [pausa] É mesmo pouco que vem para aí. [pausa] É mesmo pouco que vem para aí!