INQ E aí um peixe que deveria ant-, devia antigamente subir por aqui, se calhar aqui havia… Que parece uma cobra…
INF1 Uma cobra? Uma eiró.
INF2 Ah! Eiró. É enguia
INQ1 Pois.
INF2 lá, é, no norte, e cá, é eiró. São dois nomes.
INQ1 Pois. Olhe, e…
INQ2 Olhe e há bocadinho falou num…
INQ1 Aqui havia?
INF2 Havia e há.
INQ1 Havia e há?
INF2 E há. Havia e há. E eu já… Havia muitos, mas como o rio está [pausa] assim um pedacinho estragado, mas há ainda. Ainda há. Há, bastante.
INQ1 E pescam-se aqui?
INF2 Pesca-se, quando calha. Assim, ele passa principalmente de Inverno… Há [pausa] o que não havia de haver: há as fisgas que arrebentam com elas logo em pequeninas.
INQ1 Ai é?
INF2 Que eu sou pescador e condeno. Já tenho ali uma vara para comprar uma fisga, mas já [pausa] vejo que é injusto, não compro fisga. Elas arrebentam com elas pequeninas, porque estão no criadouro, estão nos olheiros, e eles vão, traçam. As pequeninas, traçam pelo meio – que não têm utilidade nenhuma – logo do tamanho duns alfinetes!
INF1 Põem sal para apanhá-las!
INF2 Pouco começam a crescer do tamanho duns alfinetes. Assim como tenham da grossura do dedo mindinho ou mesmo mais pequenas, eles [vocalização] arrebentam com elas todas, lá com a fisga. Nunca existiu a fisga! E é proibido. E há os faróis aí… Isto, isto está tudo mal! Há uns que andam hoje aí que apanham o linguado, desde pequenino, só para três ou quatro homens que se dedica dedicam à bebida. Porque esses homens não querem trabalhar e andam sempre na bebida e vão aí ganhar quinze ou vinte mil réis, ou ou duzentos ou trezentos mil réis… Esses, não pagam eles direitos ao Estado. Esses, não pagam eles direitos ao Estado. E só matam o linguadinho desde o pequenino [pausa] até o grande, [pausa] desde que eles nascem! [pausa] Que há gente para tudo. Enrolam aquilo com farinha e comem. Mas aquilo não dá lucro nenhum. Só o que dá é que eles ganham cinquenta ou setenta mil réis ou oitenta para bebida. Afinal aquilo é alguma fartura?! Mas então eles podiam ir mariscar de dia, com os pés apanhavam [pausa] cinco ou seis peixes daqueles, vendiam… Era lucro [pausa] para quem comia e era lucro para toda a gente. Assim, matam logo em pequeninos que isto aí não vai parar nada neste rio. A um rio tão rico, não vai parar nada! Isto está num relaxo que ninguém faz caso disto. [vocalização] Hoje em dia ninguém faz caso do nosso rio de Alvor. Está desprezado. Numa terra de tanto pescador, ninguém olha. E às vezes a olhar: "Vai-se fazer aqui já quê"?! "Eu não conheço ninguém". Se eu cá conhecesse, eu falava! Falava e sabia. E sabia pouco mais ou menos. Assim não sabia es- não sabia as palavras muito [pausa] políticas, mas falava como sabia. Sabia resolver o assunto, pouco mais ou menos.
INQ1 Pois era.