INQ Olhe, e aqueles bocados da lenha que eram mais grossos, como é que se chamavam?
INF1 Ah, aquilo chama-se ach- achas, toros de achas. Mas era só as que eram escachadas.
INQ Não eram umas… Diga. O toro grande…
INF1 O toro era serrado e depois era escachado, que fazia achas.
INQ Exactamente.
INF1 Mas a lenha Ele aqui havia então muita dificuldade em a le- em arranjar lenha, havia muita dificuldade. Era na Praia do Norte. [pausa] Mas as pessoas até nem queriam vender…
INF2
INF1 Ah, mas isso é agora. Mas naqueles anos não havia lá achas dessas.
INQ Eram maiores?
INF1 Eram muito miudinhas que a lenha era, a le-, as as pessoas cortavam a lenha muito pouco em muito pouco tempo.
INF2 Também poucas vezes que se vai à lenha.
INF1 Portanto, quem tinha um bocado de terra na Praia do Norte era tanto rico, ou aquela terra valia-lhe tanto como se tivesse uma terra de dar pão para milho.
INQ Rhum-rhum.
INF1 Porque [vocalização] Estava "dar pão para milho"? Dar milho para pão!
INF2 Dar milho para pão.
INF1 Porque a le- a lenha era muito custosa de adquirir. Havia muita gente com apoios… Havia cá as pessoas que cozinhavam, e tudo era à base de lenha. Em casas de muita gente todo o dia o lume ardia! Faziam comida… Havia pessoas que faziam o caldo – que a gente aqui chamava caldo –, o caldo, às vezes, era duas vezes ao dia, porque não tinham outra coisa para pôr na mesa. Punham umas couvinhas, uns funchinhos, uns uns feijões e faziam as suas panelas de comer. Portanto, havia casas que iam buscar três, quatro carradas de lenha por ano, mas aquela lenha só vinha num dia. Juntavam-se os vizinhos e as pessoas amigas, parentes, e iam buscar a sua lenha num dia.
INQ Era lenha de quê?
INF1 De faia e incenso. Quatro carradas. Quatro carros. Saíam daqui quatro carros, cada carro com duas juntas de vacas.
INQ Rhum-rhum.
INF1 Mas iam carreá-la muito longe. Chamavam ao lugar o Branco. Era Às vezes andavam meia hora e a mais com a [pausa] com a lenha às costas. Carreavam em molhos ao pé do carro, ao pé do carregador, e depois faziam as carradas, carradas grandes. Que então isso é que é engraçado, mas eu então não sei. Era carre- carregada nos paus. Faziam aquelas carradas muito bem feitas, e depois vinham… [pausa] Eram caminhos somenos. E o, e a, os gados As sirgas duns carros ajudavam-lhe a passar os carros. Passava um carro de cada vez para, para pela estrada para poderem ajudar a puxar a lenha. E depois de chegarem à estrada, cada carro trazia as suas duas juntas de vacas para puxar o carro até à porta.
INQ Rhum-rhum.
INF1 Mas para irempara a lenha, para poderem chegar a casa com a lenha aí às vezes pelas quatro, três, quatro horas da tarde, e às vezes às cinco, caminhavam de casa pelas duas, três horas da madrugada. [pausa] Portanto, era essa esse pão de trigo que se cozia, o pão de leite, para eles levarem, que era o farnelzinho que levavam para comerem. Eles chegavam lá ao amanhecer, às vezes ainda andando que não se via bem, começavam a amarrar lenha e carrear a lenha. Traziam a lenha para o carregador, comiam, carregavam o carro e vinham-se embora. Mas para chegar com a lenha de lá aqui, muitas vezes gastavam duas, três horas de viagem.
INQ Rhum-rhum.
INF1 Portanto, chegavam aqui, descarregavam a lenha e tinham o seu jantar para para comerem. [vocalização] Por exemplo, uma, uma quem fosse à lenha: cada homem era três, quatro cada carro era três, quatro homens. Uma carrada que levasse quatro homens ele quatro… [pausa] Um dono que levasse quatro carros dava comer a dezasseis homens. Havia pessoas que era com famílias muito numerosas que iam muitos dias no Verão à Praia. Às vezes dias seguidos! E eles carreavam lenha a ficarem com os ombros esfolados de carregar aqueles molhos. Depois não era carrear a lenha em caminho direito, era em caminho em… Ai, como é que se chama?
INQ …
INF1 Mistério. Era aquele caminho com aquelas pedras por baixo. Eles levavam albarcas.