INQ O trabalho do milho, o que se fazia?…
INF Quando se apanhava o milho? A gente apanhava o milho, [vocalização] antes, a a primeira coisa é a espi- quebrar a espiga. [vocalização] O milho começa a aloirar e a, a a maçaroca começa a aloirar e vai-se quebrar a espiga. Quebra-se a espiga, põe-se nos valados ou entre ou amarrado aos milheiros, com amarrado com folhas de pite. E fica ali a secar depende do lugar onde vai ser arrumado… Nós nunca f- tínhamos o nosso mais que oito, dez dias fora. Há pessoas que tinham aí quinze dias porque as atafonas eram pequeninas, não lhe corria muito vento. A gente era oito, dez dias, o máximo dez dias. E até normalmente é oito dias. Ainda hoje é sempre oito dias que se está que se tem o [vocalização] a espiga a secar. Porque o meu pai dizia que antes pô-la mais verdoenga em casa e sem chuva do que apanhá-la com chuva. E eu, que também sou uma pessoa que tenho lido muito, assino o Mundo Rural, não sei se conhece?
INQ Conheço.
INF É um jornal [vocalização]… E lá aconselham muita coisa da agricultura. E eu li já há muitos anos que a comida seca, desde que perca o sumo, mas que fique com a cor verdoenga, que é muito melhor para o gado. E eu, desde isso, tenho sempre isso em mente e gosto sempre de a gente pôr o comer seco mais cedo em casa. Portanto, a [vocalização], a pa- a espiga ia para casa, e quando a maçaroca está seca, ou, ou ou quase seca, desfolha-se a folha. "Vamos desfolhar a folha"! Quando há muita folha seca, desfolha-se a folha seca separada da folha verde. Quando a folha a maçaroca está a modo de desfolhar a folha, mas está a folha muito verde, desfolha-se tudo a eito. E amarra-se em gavelas e pendura-se no milheiro do milho ou na [vocalização] no valado, entre o valado das canas, porque normalmente nós aqui as nossas terras todas são rodeadas por abrigos de cana. [vocalização] Depois quando o milho está bem maduro – que é o que não acontece já hoje tanto, mas ant- antigamente o milho era todo seco no forno… O milho quando estava bem maduro, era apanhado, trazia-se para casa, em carradas, e posto na loja ou nas atafonas. E muitas pessoas nem tinham cá lugar onde pôr, punham [vocalização] em palheiros pequeninos e co-. Normalmente o milho é trabalhado é de serão, à noite. À noite, depois da ceia, juntavam-se os vizinhos. Nunca ninguém faz serão sozinho! São as pessoas amigas, as pes- as vizinhanças ou as famílias. Juntavam-se à noite para descascar o milho. [vocalização] No meu princípio, por exemplo, a gente sempre pusemos o milho na nossa loja da casa. Mas só se descascava o milho na loja; e depois o milho era posto nos cestos e carreado para cima para casa, onde se punha. E uma parte do milho era esbichado, escolher o podre do são, e posto para outro lado. Portanto, havia uma parte de pessoas que estavam na loja a descascar o milho e a quebrar – uns abriam, outros quebravam –, em cima, uns a esbichar. Quando se acabava ou quando não se podia acabar tudo mas chegava perto das nove horas, se não havia milho debulhado para se poder deitar no outro dia no forno, acabava-se o serão, ficava por descascar. Muito raro, ficava por acabar de esbichar. Acabava-se de esbichar, para ficar limpo, limpava-se o podre para um canto e começava-se a desfolhar o milho. Debulhava-se o milho mole. [vocalização] Debulhava-se Uma fornada de milho normalmente eram dez alqueires, mole. Ele debulhava-se o milho; no outro dia de manhã, aquecer o forno… [vocalização] Aquece-se o forno não como é para pão de milho, mas quente. E depois de estar quente, não se aquecia o forno senão com canas – porque a cana é uma coisa que dá calor mas não dá muito lar, para o milho não ficar muito co- com muita cor – e punha-se o forno a descansar. O forno descansava aí três quartos de hora, uma hora, depende, conforme as pessoas querem. [vocalização] Punha-se o forno a descansar e depois varria-se. Varria-se o forno, puxava-se o rescaldo para fora – chamava-se o rescaldo –, puxava-se para fora com o rodo, e depois varria-se com [vocalização] com os varredoiros. Agora varre-se com, com com o criptomério, mas antigamente era com os varredoiros de pica-cu. Primeiro se varria… Até a espiga que dá na cana do folião também muita pessoa fazia varredoiro com isso. E [vocalização] o [vocalização], o [vocalização], a fo-, a hortense a folha da hortense – que no di- no mês de Outubro já não há a folha flor de hortense, há a folha –, portanto, aqueles galhinhos partiam-se e fazia-se o varredoiro. E o último varredoiro era passado com o pica-cu. Agora até, recentemente – antes não, mas agora –, já se faz o varredoiro com a casca do milho. Aquela casca mais branca e mais fina, junta-se ali um [vocalização] uma mão grande dela, aperta-se bem apertada e faz-se a casca. A casca varre muito bem. Porque molha-se a casca na [vocalização] [pausa] na água, e aquela casca com aquela água vai e limpa aquela cinza que fica no lastro do forno. Há pessoas que até fazem – eu, por exemplo, faço muita vez – com um pano. Um vestido velho ou uma roupa velha, amarro e [vocalização] no varredoiro – por fora do varredoiro amarra o pano –, e pa- e molho na água, e varro, que chama-se lavar o lar do forno, bem lavado. Depois deita-se o for- o milho no forno. Antigamente era tudo em balaios, enchia-se a fornada. Agora já encho é na [vocalização] em sacas. Encho três sa- alqueires em cada saca e ponho em cima de umas cadeiras. E [vocalização] cha- Porque antigamente as pessoas tinham quem ajudasse a pôr o milho no forno, uma ia mexendo o milho, outras iam deitando logo para o forno. Agora eu faço tudo sozinha. Varro o forno e depois pego numa saca e deito no forno. A primeira vez A primeira saca com o milho que vai para o forno, eu mexo, mexo, mexo, para aquele milho ficar quente, para puxar aquele calor de que está no forno. Se o forno tem muito calor, que estala muito o milho, nunca se pára de mexer que é para não deixar torrar o milho; se não tem muito calor, deixa-se descansar, aquele milho a aquecer. Mexe-se uma ve- uma vez ou outra… Eu, normalmente, quando acabo de pôr o milho no forno, a última saca de milho que ponho no forno, já o primeiro está a três quartos de hora, uma hora. Porque já o outro milho está quente, [pausa] e já puxou mais o calor, e não é preciso mexer tanto como antigamente.