INF Mas já hoje em dia, não há mesmo quem mande baile, ninguém quer.
INQ Pois não.
INF Nem querem mesmo. Se mesmo estiverem, por exemplo, na sociedade, acolá em baixo e disserem: "Vamos a um baile de roda", aquelas raparigas novas vai-se tudo embora.
INQ Mas porquê?
INF Vão-se embora para o quarto de banho, vão-se embora para a rua…
INQ Não sabem. Se calhar, não sabem.
INF Ninguém Não gostam daquilo, não querem aquilo. Eu, uma chamarrita! Ai, gostava imenso duma chamarrita! Havia um [vocalização] um homem na na rua de baixo, que ele ainda era parente com a gente… Também já está no mundo da verdade, e a mulher e um filho. Os outros dois estão no Canadá. Mandam sempre visitas pela minha filha – que eu tenho uma filha no Canadá –, mandam sempre visitas. E [vocalização] E ele, [pausa] não sei porque seja mas ele nunca mandava uma chamarrita, nem nunca bailava uma chamarrita, que não fosse mais eu. E a minha mãe um dia disse: "Ó Herberto" – ele era Herberto –, ela disse: "Herberto, eu quero saber por qual a razão me estrompas a minha filha? Ela vai para os bailes e vem sempre estrompada que tu não a largas da mão para fora" por causa. Ele disse: "É porque ela baila muito bem. E ela é muito levinha e eu apanho-a num instante". Porque eu era muito magrica e bailava bem; não é por me gabar, mas então bailava bem.
INQ Pois, pois.
INF Já hoje em dia talvez não lhe desse jeitos sequer a bailar. Mesmo talvez não lhe desse jeito já a bailar uma chamarrita. Eu então mesmo não dava.
INQ Não!
INF Porque as pernas… Não, não, não. Porque eu já a última que fui, eu amassei-me em baixo. Porque eu já não podia. Eram umas dores aqui na barriga das pernas e nas curvas que eu tive que me amassar em baixo.
INQ Ah, pois.
INF Já não podia. Mas então era muito lindo! Antigamente era outra vida que não é hoje em dia.
INQ Pois. Isso é.
INF Eles dizem: "Ah, isto é"… Não, não. Ele então, outro dia no rádio, estava aquele Álvaro de Lemos, que a senhora…
INQ Álvaro de Lemos?
INF Sim, que vem…
INQ Mas do continente ou de cá?
INF Ele fala no rádio de… Não sei se é de São Miguel, se é da Terceira.
INQ Ah!
INF Que dá sempre do meio-dia à uma hora. O Almanaque! Você já
INQ Não ouvi. Então eu estou cá há oito dias só. E tenho andado a trabalhar.
INF Mas, quer dizer, mas aquilo dá sempre. Dá todos os dias.
INQ Mas eu não tenho rádio. Eu não tenho rádio.
INF Mas quer dizer… Ah! Mas é que
INQ Agora tenho no carro, mas não tenho, não costumo ter rádio.
INF Pois. Mas [vocalização] ele disse… Ele outro dia estava a fazer muitas perguntas. Tem uma rapariga consigo. Consigo?! Não sei lá mas ele diz: "Ah, fulana tal, isto e assim"… E ele disse assim: "Será que haverá alguma pessoa" – isto foi as únicas duas perguntas que eu pronunciei mais… E ele disse: "Será"?… Virou-se para ela – e eu parece-me que ela que era Margarida – e ele disse: "Ó Margarida, será que haverá hoje em dia alguma pessoa que quisesse reviver o passado"? E eu disse… Eu estava a [vocalização] almoçar mais o meu marido e eu disse: "Eu, por mim, queria". Eu queria reviver o passado. Mas era com o pessoal que era antigamente, não era com este de hoje em dia. E ele disse: "Pois é, mas é que não podes". Depois ele fez ali mais umas perguntas e ele disse: "Será também que haverá alguma pessoa que tivesse algum amor que quisesse tornar ao passado"? E eu respondi: "Eu, por mim, queria". E vai, diz ele, o meu marido: "Pois querias, mas o pior é que ele está na América". E eu disse: "Se ele não estivesse na América, também talvez eu já não estava contigo".