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COV18

Covo, excerto 18

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Arquibaldo

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INQ1 Agora não, não casas cobertas com palha, pois não?

INF Não. Ainda Ele no no Covo ainda

INQ1 Ainda ?

INF Não. acabou. Ainda o ano passado havia uma, um palheiro donde digo. O telhado que tem agora é telha.

INQ2 Então e aqui também era? Aqui neste?

INF Era. Tem outra casita. Olhe, acolá era a cozinha e aqui era outra, outra outra casita que era melhor, mais melhorzita d- do que o coiso. E o outro morador é o inquilino dacolá daquele lado.

INQ2 Portanto, eram os tais moradores. Está aqui muitas

INF Era. Era dois. Era dois . Dois. Eram dois mora-.

INQ2 Isso vai quantos anos, senhor, senhor Arquibaldo?

INF Ah, isso vai [pausa] perto de duzentos anos. Duzentos anos, não, porque o outro o homem morreu se recusava. Ora o homem morreu quando foi o ciclone um ciclone muito grande

INQ1 Sim.

INF Que ele nós fo- Olhe que eu fui a mais um um primo meu buscar o caixão a Gatão, para o homem ir para a sepultura. E olhe que a gente vinha um atrás outro adiante, com o caixão ao ombro. E quando tal, caiu um pinheiro, [vocalização] que o vento jogava o pinheiro abaixo.

INQ1 Sim.

INF E a gente, depois, vinhamos aqui acima a chegar à Felgueira e depois então Foi no tempo do minério! As senhoras recordam-se do minério?

INQ1 Não.

INQ2 De qual minério? Do volfrâmio?

INF Do volfrâmio. Pois, pois. Recorda-se isso? Foi

INQ2 Não, mas li coisas sobre isso.

INQ1 .

INF Pois. Foi nessa altura.

INQ2 Pois.

INQ2 Isso vai quanto tempo? vai muito tempo.

INQ1 Isso foi

INF Sei . Eu sei .

INQ1 Eu não sei se isso não foi no Não.

INQ2 Princípio do Princípio do século.

INF Não, não. Não.

INQ1 Não, não. Anos quarenta parece-me. Eu acho que isso foi, do minério, em 40.

INF Para quarenta. Ou quarenta ou quarenta e tal; devia sê-lo em quarenta; ou em quarenta ou em quarenta e tal.

INQ1 O ciclone.

INF E depois iam muito homens, muitos que andavam no minério, por abaixo a chover! e eles eram para mim e para um mais um primo meu que vínhamos com o caixão mas nem à mão o podíamos trazer, 'trazíamos-o' ao ombro, um atrás, outro adiante , diz assim: "Ó homem, vocês vão vão-se botar a matar por quem morreu"? Porque aquilo era: volta e meia caía um pinheiro, da banda diante da gente, outros a b-, às vezes, da banda de trás, e a gente Meu amigo, o homem tinha que ir para a cova viemos. Fomos quatro pessoas ao, quatro homens a levá-lo à co-, à [vocalização] , o homem, à cova. [pausa] Ao ombro!

INQ2 Pois, pois.

INQ1 Rhum-rhum.

INF Ao ombro! Olhe como eu sou a mais esta senhora e [vocalização] botamos um pau, e o caixão entre nós, e outro atrás e levamos assim acolá, ali abaixo à Lomba, à cova. Que ele dizia que ele nos Dizia aquilo. Ele uma vez a ler, ali atrás com as vacas, eu era rapazote pequeno, e ele disse ao acaso que diziam no livro que havia de haver uma guerra não! que havia [vocalização] , que os homens que haviam de voar mais alto que os passaritos. O livro , ele não se constavam aviões nunca ninguém fala em aviões. E o livro dizia que o [vocalização] os homens que haviam de voar mais alto que os passaritos. E quando nós visse estas t- estas serras todas cortadas, de estradas e tudo do homem, que o mundo que era um paraíso e está! , que ele que o mundo que durava pouco.

INQ1 Ah!

INF Que a terra que havia de ser pólvora, [pausa] a água que havia de ser gás [pausa] e a, e o e as pedras ser enxofre.

INQ1 Hum!

INF Olhe que eu, eu dava hoje mais de vinte contos por aquele livro, [pausa] se eu o tivesse. Mas depois ele morreu e ficou um, um um sobrinho dele [vocalização] a estragar tudo Mas é um livro assim [pausa] de coiro sempre e tal sem metal. Isso é que era um livro de dizer coisas! E diz que havia de haver uma guerra na Europa e ve- e houve.

INQ1 Rhum-rhum.

INF E diz que há-de haver uma guerra mas essa ainda não veio! que há-de ser vencida por os homens de sessenta anos no Campo de Ourique em Lisboa.

INQ2 Hum!

INF Olhe que o homem leu isso diante de mim e eu nunca mais me esq- passou de ideia. Eu era um rapazote com os meus onze dos doze anos ou treze. E ele disse que havia de haver uma guerra [vocalização] em Portugal, que há-de ser vencida pelos homens de sessenta anos em [vocalização] no Campo de Ourique em Lisboa, que não havia de haver era mocidade nenhuma.

INQ1 Ai, meu Deus!

INF Que os homens de sessenta anos que é que haviam de fazer uma guerra! E que as mulheres, nestas aldeias, quando vissem um homem quer dizer, como os aciprestes, quer dizer, como os padres e quando vissem um homem que haviam de dizer assim: "Louvado seja o Senhor, vem um homem"!

INQ2 Meu Deus!

INF Olhe que aquilo no livro! E ele eu, o homem leu aquilo diante de mim!

INQ2 Pois, pois, pois, pois.

INF Diante de mim e um tio meu, dois tios meus. E eu era miudito fiquei com aquilo na ideia, depois bem queria bem andei até às voltas dos sobrinhos dele a ver se lhe caçava esse livro. De coiro, hoje, não o dava antes que me dessem cinquenta contos.

INQ2 Pois, pois.

INQ1 Pois.

INF E eu naquela altura, eu dava o que bem fosse e os sacanas estragaram-no e [vocalização] . Mas aquele era um livro! Aquilo era um homem a saber ler e a saber a saber as coisas, sabe?

INQ1 Pois, pois.

INF E a gente, olhe, e que ainda é outra coisa que ele dizia: que para a fim do mundo que a gente que não havia de conhecer o Verão do Inverno senão pelas folhas. Nós estamos a chegar .


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