INF1 Não te lembra aquele Choio do nosso mato? Não te lembra? Foi quando tiveste a Benilde, pois.
INF2 Então não me lembro! Foi quando eu tive a minha Benilde! [pausa] Foi. [pausa] E ó Arquibaldo, há quarenta e um ano.
INF1 Devia ser, devia. Devia ser. Era uma camada de neve!
INF2 Eu tinha a minha pequena há quinze dias, a minha mais velhita, que está em Albergaria.
INQ1 Sim, nós conhecemos.
INF1 Essa [vocalização] , olhe, a nora da daquele senhor que distribuiu as achigãs.
INQ1 Ah, sim.
INF2 Que tem os olhos verdes!
INF1 É.
INQ1 Sim.
INF2 É minha filha. Era a mais velha.
INF1 E depois o homem veio, chegou aqui – eu andava com as vacas –, chegou aqui e disse para a minha mulher…
INF2 Foi quando ele apareceu é que aconteceu isso.
INF1 A minha mulher andava a repartir o ga-, as vacas – chama a gente repartir: é abrir ou fazer um roço, para um uma paveia para cada vaca.
INF2 Para elas comerem. A ceia e o almoço.
INQ1 Ah!
INF1 E ela E ele chegou aqui, e diz ele assim para ela: "Ó Blandina"! Diz ela: "Que é"? "O O Arquibaldo"? Diz ela: "Já anda com as vacas". Que era por mim. "Para quê? Você que é que lhe quer"? "Olha, queria que ele fosse mais eu a Gestoso". Diz: "Ó homem, espere um bocadinho"… Era uma camada de neve, que era!…
INF2 Era, era. Um mês! Que aquela camada de neve esteve aqui um mês!
INF1 Diz ele assim… Diz ela assim: "Olhe [vocalização], você espere um bocadinho que o meu homem vem e bota as vacas ao curral e vai lá mais você". Ele foi… "Venha para dentro, venha-se aquecer, venha-se aque-". Que ele era um o conhecido, era aqui de de Paço de Mato. "Venha-se aquecer". Diz ela assim… Diz ele: "Não. Olhe, me aquecer ainda é pior. Olhe, eu até vou indo e depois venho cá ficar". Diz ela assim: "Olhe que você vai-se perder na neve! Deixe-o vir, que ele vai mais você, que ele sabe conhece isto muito bem e você não"… "Não. Não me perco, eu não me perco". Não perde?! Chegou Ainda botou a Gestoso. Chegou lá, foi falar com o falecido do outeiro [pausa] lá por causa de buscar dinheiro e…
INF2 Foi buscar dinheiro. O dinheirito até ainda estava no no bolso, depois debaixo da neve.
INF1 Depois o homem veio para cá, perdeu-se…
INF2 Foi verdade.
INF1 Ficou debaixo da neve. Esteve lá quinze dias debaixo da neve!
INF2 Já deixou uma chanca tão longe!
INF1 Sem Sem ninguém dar com ele.
INQ1 Pois.
INF1 Cobertinho de neve, ali esteve quinze dias!
INF2 Pois.
INF1 Ao outro dia, ao outro dia começou a vir por aqui gente, era gente de…
INF2 Procurá-lo.
INF1 A freguesia de Cepelos, veio todos, e os filhos e a família toda à procura dele, [pausa] à procura dele, à procura dele, onde é que foram dar com ele?
INF2 Os filhos. Os filhos. Eu também disse àquela minha que está na Albergaria. Também foram chamar o meu ao meu filho, para ir com eles.
INF1 Aonde é que foram dar com ele? Quase ao pé de Albergaria.
INF2 Eh, Arquibaldo! Depois deram com ele quando a neve já derreteu!
INF1 Derreteu, pois foi! Quando a neve derreteu é que deram com ele.
INF2 O homem estava coberto! Ele estava coberto!
INF1 Lá estava, coitadinho, debaixo da neve! A andar…
INF2 Até lá têm uma cruz!
INF1 Têm lá uma cruz.
INF2 E ele foi enterrado ali na Albergaria, pois vocês já lá estiveram.
INF1 Pois. [pausa] Pois. Foi lá.
INQ1 Sim, sim, sim. Ele tem lá uma cruz no sítio onde morreu, é?
INF1 Tem, tem.
INF2 É, o sítio onde morreu tem lá uma cruz.
INQ2 Coitado!
INF1 Ao caminho de ferro.
INF2 E ele morreu ali, mas ficou ali no cemitério, ali.
INF1 E quer ouvir: ora ora aquele homem…
INF2 Na hora que chegou ali, ficou ali. Chamam ali o Choio.
INF1 Quer ouvir? Se aquele homem ia a mais eu, [pausa] não morria.
INQ2 Pois claro.
INF2 Ah, pois não.
INF1 Não morria!
INQ2 Pois. Sabia bem o caminho!
INF1 Como eu [vocalização] conheço bem o caminho. Oi, Jesus! Conhecia bem o caminho e o homem não morria! [vocalização] Habilitou-se…