INQ1 O tio Hermes ainda escreve agora? Ou já, já há muito tempo que não faz nada?
INF Escrevo mas eu es- eu tremo muito, não gosto já de escrever. Ainda há poucos dias eu fiz umas quadras aí à rua. [pausa] Um tipo Eu não lhas mostrei já?
INQ1 Da rua?
INQ2 Tenho impressão que sim.
INF Pois.
INQ1 Já.
INF Pois. [pausa] Houve um tipo que me pediu de maneira que …
INQ1 Tio Hermes, e aqui assim na, nessas terras que o tio Hermes correu, não havia mais homens nenhuns que fizessem poesia? Fizessem quadras e décimas?
INF Havia. [pausa] Sim senhora, havia. E há. [pausa] Agora, [pausa] eu, está maldito a mim. Agora que me igualasse não não havia.
INQ1 Pois. Mas portanto, esses que ainda… Há aqui a, ao pé, ainda há algum ou já?…
INF Está aí um que diz que sabe mais do que eu.
INQ1 Ah, aqui na…
INF Vive cá mesmo no povo.
INQ1 No Carrapatelo. Portanto, mas e esses que, que o tio Hermes conhecia, escreviam sobre o quê? Sobre as mesmas coisas que o tio Hermes escrevia ou era só aquele desafio?
INF Não fazi-. Eles escreviam lá as coisas deles. Eles faziam lá as coisas deles e eu fazia ele cá as minhas. Pois.
INQ1 Rhum-rhum.
INF Pois então cada um tem lá o seu sentido. Eu o [vocalização] Eu não posso pensar o que o senhor pensa. [pausa] Só aqui agora neste conjunto, não é verdade? Mas em se separandomos, o senhor pensa numa coisa e eu penso noutra.
INQ1 Pois.
INF Pois, é por isso que eu… Mas havia muito quem, às vezes, se quisesse comparar comigo, mas não. [vocalização] Não sei, olha, eu não sei. [vocalização] Parte das vezes tinham que se calar porque chegavam a pontos que já não tinham resposta para me voltar. Eu Eu tive tempo que tinha respostas para tudo. Era para tudo, para tudo quanto calhava. [pausa]
INQ1 Rhum-rhum.
INF Pois, sim senhora. Agora hoje, já não. Estou já muito velho. E sou doente! Não tenho vontade e o sentido também tem abalado. Mas está aí um [pausa] que me quer passar para diante. Ele não sabe nada. Ainda ontem à noite me disseram, houve uma pessoa que me disse aí: "Há-des dizer a esses homens para virem cá à casa dele, para vermos o que ele faz". Digo: "Eu não. Não digo cá nada. Não quero saber".
INQ1 Pois.
INF Isto calhou agora em conversa.
INQ1 Pois.
INF Pois. Eu não. Não digo cá nada. Não. Para os homens depois dizerem: [vocalização] "Foi enganar a gente"!
INQ1 Rhum-rhum. Chega o outro pau lá, mais para cima.
INF Pois se ele…
INQ2 Este?
INQ1 Endireita em cima.
INF Ele é um tipo que diz um [vocalização] diz uns versos, claro, de [vocalização] da ideia dele.
INQ1 Quando calha.
INF Mas, depois, dali para diante já não é capaz de seguir. Pois. Não é como eu era. Porque eu hoje [vocalização] já muitas coisas me têm abalado, mas… [pausa] O senhor sabe que veio mais a Manuela, não é verdade?
INQ1 Rhum-rhum.
INF E que tempo E que tempo estiveram de posse de mim e eu dizendo coisas?
INQ1 Foi uma manhã a só dizer…
INF E cantando? Hã?
INQ1 Foi. Dois dias que a gente…
INF Foram dois dias! Nunca chegaram à ponta.
INQ1 Pois.
INF Agora hoje já não sou capaz de fazer isso. Foram dois dias: um dia das dez da manhã até talvez quase às dez da noite.
INQ1 Foi. Foi até muito tarde.
INF E foi outro dia das dez da manhã até às quatro da tarde – que eu sei bem isso.
INQ1 Pois.
INF Pois. Depois determinaram a abalar. Mas nunca chegaram a ouvir tudo quanto eu sabia. Agora hoje já já estou muito esquecido de muitas coisas. Já não sou o que era. Oh, se eu estivesse como nesse tempo, bem eu estava hoje! Ainda eu Isto há o quê? Uns quatro anos, não é?
INQ1 Foi em 75. Há quatro anos.
INF Pois. Pois. Há uns quatro anos. Eu não [vocalização], não tinha não tinha torna. Não senhora! Não tinha torna.