INQ1 Porque é que o barco atravessava o rio aqui ao pé? Aquele rio? Pode explicar?
INQ2 Há uma, há uma festa em que vem o barco…
INF1 É na Páscoa.
INQ1 Na segunda-feira?
INF1 Na segunda-feira de Páscoa.
INF2 Na segunda-feira de Páscoa.
INF1 Já deu na televisão, [vocalização] essa passagem.
INQ2
INF2 Na televisão, já.
INQ1 Então e como é que é? Porque é que fazem essa festa?
INF1 Aonde está a minha prima, a tais, a Cristina, a moleira, antigamente nós não tínhamos a tais ponte que agora falamos. E passava-se de cá para a parte de lá em barcos.
INF2 Para ir para o Pico, assim como vocês foram hoje.
INF1 Para ir para a feira do Pico, assim como vocês foram hoje, nós aqui passava-se de barco.
INQ2 Rhum-rhum. Passava-se?
INF2 Era, sim senhor.
INF1 Atravessava-se o rio de barco. Basta que eu tinha uns meus tios, que tinham uns campos, passavam com as ovelhas nos nos barcos para ir para o para o que é deles.
INF2 E moleiros.
INF1 E os moleiros e tudo iam buscar as as fornadas e tudo.
INF2 E os moleiros também com uns machos e tudo, com as fornadas para o outro lado.
INF1 Mas agora como fizeram Mas depois, aquilo era duns meus tios, que normalmente aquelas azenhas têm sido sempre de família minha, dos dos Pegos, que aquela família era dos Pegos. Chamavam os Pegos. E eles depois resolveram, no domingo de na segunda-feira de Páscoa, a cruz ia daqui para lá – não é? –, de barco, e ao vir de lá para cá, daquele lugar que é São Bento das Pedras, entravam todos, arranjavam barcos – que aqui ainda não os tinham –, iam pedir barcos a outro lado e metiam a m-, a [vocalização] o padre e os [vocalização] mordomos da cruz e a música e o fogueteiro. Quer-se dizer, haviam quatro barcos: ia o fogueteiro na frente a queimar fogo no meio do rio.
INF2 São três pessoas, não é?
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 São três pessoas, os fogueteiros. E atrás deles, ia a campai- ia o padre, a campainha a tocar, [pausa] e os mordomos da da Páscoa.
INF2 E os mor– E os mordomos.
INF1 E atrás ia a música, [pausa] em dois barcos, a tocar. Sa- Entraram ali e vão sair noutro lugar [pausa] ao ao fundo.
INF2 E sair noutra noutra pesqueira, [pausa] na outra pesqueira em baixo, [pausa] que tem outra azenha.
INF1 Quer dizer, ele passavam dois lugares sempre por o rio abaixo, a cantar ao São João da Ponte, aquelas coisas todas, bem. Junta ali gente que eu sei lá! Tem vindo a televisão e tudo filmar ali. Porque foi é uma tradição antiga!
INQ1 Pois. Mas era o padre saía para ir às casas do lado de lá levar o senhor e benzer a casa?
INF1 Sim, sim, sim, e… E benzer a casa. E depois voltava para cá, e ao voltar para cá, já…
INF2 Voltava pelo mesmo sítio. Era o caminho deles, normalmente, não havia outro.
INF1 Já em vez de vir, ao voltar para cá, ao chegar ao pé do rio aonde entrou, não vinha para onde entrou. Entrava lá e seguia por o rio abaixo para ir ter a outro lugar.
INQ1 E seguia, continuava a dar a volta a ver. Portanto, ele, essa, essa procissão era feita para ir a casa das pessoas?
INF1 Das Das pessoas.
INQ1 Sim senhora. Muito bem. Deve ser muito bonito!
INQ2 O pesqueiro, o pesqueiro era…
INF2 E agora Agora como há ponte, ora como isto é antiguidade, continuam a fazê-lo igual.
INF1 E isto…
INF2 Só vão… Passa para lá na ponte para ir correr o lugar, e depois para cá vem [vocalização] vem para o barco, e do barco sai logo rio abaixo, logo para o para o…
INQ1 Portanto, já não passam pelas casas? Já não param para ir às casas?
INF2 Não senhor, não senhor.
INQ2 É só fazer a procissão?
INQ1 Mas continua a procissão?
INF2 Continua a procissão.
INF1 Eles param… Eles vão às casas todas de cá.
INQ1 Sim.
INF2 É.
INF1 E passam pela ponte.
INQ1 Sim.
INQ2 Para o lado de lá.
INF1 Vão por lá por cima, para a parte de lá, e depois para virem para cá, já estão os carros de lá e seguem já para outro lado.
INQ2 Havia carros.
INF2 Já iam para outros lugares.
INF1 Porque cá já está feito, segue tudo.
INF2 Para outro lugar.
INF1 Basta que há lá quatro barcos. Foi o meu marido, que fomos em 85 fomos nós mordomos e foi ele que mandou fazer os barcos.
INQ1 Ai sim?
INF2 A freguesia foi que pagou.
INF1 Mandou fazer… Foi a freguesia, não é?
INQ2 A freguesia.
INF1 A gente andou pela freguesia a pedir.
INF2 A freguesia… A freguesia… Eu andei pela freguesia a pedir. E a freguesia deu muita coisa.
INF1 Contribuiu muito bem.
INF2 Muito bem! E depois eu mandei arranjar então quatro barcos.
INQ1 Então e antes de haver esses quatro barcos, iam em quê?
INF2 Era em barcos igual, o que é tínhamos de pedir [vocalização] emprestados.
INQ2 Emprestados.
INF2 Porque antigamente havia muito barco, sabe?
INF1 Emprestados. Agora não há nada.
INF2 Agora não. Mas antigamente havia muito barco porque [vocalização]
INQ2 Não havia pontes, tinha que se passar…
INF2 não havia pontes.
INQ1 E agora a freguesia guarda esses barcos só para essa festa?
INF2 Sim, sim. Só para esse dia mesmo.
INF1 Só para essa festa. Estão metidos Estão metidos no fundo do rio.
INF2 Estão na água. Estão na água.
INQ1 No fundo do rio?
INQ2 Sim.
INF2 Sim senhor. No fundo do rio.
INF1 Estão no fundo do rio. Presos por umas argolas.
INF2 Estão no fundo porque [vocalização] assim
INQ2 Para não irem, para não apodrecerem.
INF2 não empenam e nem secam.
INF1 Apodrece. Não a
INF2 Não apodrece tão depressa!
INF1 Aguenta-se mais tempo.
INF2 Porque assim o próprio vento e o sol comia mais depressa. E assim, estão debaixo da água… E [vocalização], normalmente é pinho. É p, é- É assoalhado a pinho.
INF1 A pinho manso.
INF2 A pinho manso. Mas os travessos é que é em… Normalmente é em carvalho. E [vocalização] A carvalho. E [vocalização] É carvalho, normalmente.
INF1
INQ1 E com estas cheias tão grandes e com esta enxurrada que vem…
INF1 Estão presos!
INF2 Estão presos, estão presos.
INF1 Estão presos. Têm umas correntes e umas argolas para eles estarem presos. Têm chave e tudo para fechar.
INQ1 Sim senhor.
INQ2 Pois.
INQ1 Muito interessante. E é a única festa grande que há cá durante o ano, ou há?…
INF1 No ano, temos… Quer dizer, assim destas festas temos mais, temos a festa de Nosso Senhor dos Passos, que é uma procissão que também vem da igreja [vocalização] de São Bento das Pedras.
INF2 Todos os anos. [pausa] À capelinha de São Bento.
INF1 Atravessa então a tais ponte.
INQ2 Pois.
INF1 Até este ano foi o meu filho até o festeiro dessa festa.
INQ2 Mas qual é a diferença do festeiro e do mordomo? Ou é a mesma coisa?
INF1 [vocalização] Como é que hei-de dizer? Eles chamam festeiros porque… Como é que hei-de dizer? Ou são mordomos. Podem-se dizer os mordomos.
INQ1 Ah!
INQ2 Também se diz?
INF1 Porque são os que vão pedir pelas portas, são os que fazem…
INF2 Cá diz-se festeiros e diz-se diz-se mordomos normalmente.
INQ2 Mordomos. Rhum-rhum. Mas o que é que o senhor Confúcio chama o pesqueiro?
INF1 Ai, a pesqueira.
INF2 A pesqueira, a pesqueira.
INQ2 A pesqueira.
INF1 A pesqueira é que é…
INF2 A pesqueira é, é é: a pesqueira é onde a água… Ora vem a água no ar – hã? –, e depois chega acolá tem um muro e é isso é que lhe chama a pesqueira.
INF1 E [vocalização] ali cai.
INQ2 Onde cai?
INF2 Sim senhor. Acolá cai.
INQ2 Por exemplo, em frente à azenha da sua prima tem uma pesqueira?
INF1 À azenha.
INF2 À azenha de- dessa minha prima. Sim senhora.
INF1 E logo ao cima, tem outra ao pé da ponte – está logo a ponte a seguir.
INF2 E ao pé da ponte tem outra, e depois no o- aonde eles vão sair com os barcos, com [vocalização] a uma cruz, tem outra.
INQ2 Rhum-rhum.
INQ1 Quer dizer, onde há um moinho, há uma pesqueira?
INF1 Há uma pesqueira.
INF2 É, sim senhor.
INF1 Sim senhor.
INF2 Há por causa de fazer o encoro para a água ir para a azenha.
INF1 Para Para moer.
INQ2 Ela tinha falado nisso, na pesqueira, eu é que já não me lembrava.