INF1 Pois eram os que iam para a América que diam a-, a- apastorar ovelhas. Chamava-se pastor. Diam apastorar ovelhas. Por exemplo, meu pai [vocalização] foi pastor de ovelhas quando esteve na América. Mas o
INQ1 Lá? Lá?
INF1 Sim. Lá. Quando esteve na América. Eu já não me lembro de do meu pai, que eu tinha dois anos quando meu pai morreu. Mas as minhas irmãs mais velhas contavam aquilo que meu pai lhe dizia: que tinha andado apastorando ovelhas nas serras, que que ficavam ao rigor do tempo. Hoje em dia, já é mais fácil, que já tem as casas que mudam [vocalização]… Não sabe? As casas que mudam de dum lado para o outro. Já não Mas [vocalização] meu pai foi assim – foi ao rigor do tempo. E o meu pai não tirou papeles [pausa] americanos, porque não sabia ler.
INQ1 Pois.
INF1 Não sabia ler. Trabalhou para um patrão dois anos e oito meses. E esse patrão não lhe pagou. É verdade.
INF2 Naqueles anos era assim.
INF1 Não sabia ler, mas [vocalização] não teve dificuldade [vocalização] – não sabe? – por não saber ler, nem tirar papeles. Mas foi assim. Esse patrão não lhe pagou.
INQ1 Pois. Pois é. Mas um patrão americano?
INF1 Era, sim senhor.
INF2 Ele quando foi para a América até saiu em baleeiras. Embarcavam para o alto aqui no rolo. Que não podiam embarcar nos portos, que a Guarda Fiscal não lhe deixava.
INQ1 Pois, pois. Pois.
INF1 E as minhas irmãs contavam, e a minha mãe, que [vocalização] o meu pai, quando veio da América, veio num navio que foi atacado por outro navio. E [vocalização], e a- E, agora, todos aqueles que vieram nesse navio prometeram as suas promessas – está percebendo? [vocalização] Ora, o meu pai, quando veio, era para tornar a voltar, [vocalização] outra vez. Mas depois casou-se e começou a a chegar filhos – que a gente éramos onze irmãos – e ele já não se atreveu a deixá-los e e a ir outra vez para a América. E o tempo foi espaçando e havia quem dizia… Que os meus irmãos adoeceram muitos da cabeça – está percebendo? Muitos da cabeça, que foram para São Rafael! E a gente tinha-se uma relva, que ficava lá em cima no Curralinho, que também caía gado [pausa] [vocalização] lá. E começou o povo a dizer que o meu pai que devia um jantar, e que era devido a essa promessa que os outros todos tinham… Mas ele o meu pai nunca o disse a minha mãe. Ele nunca lhe tinha dito isto. E [vocalização] Mas o povo começou a dizer e, então, a gente [pausa] deu-se o jantar [pausa] e ficou melhor. Está percebendo? É porque [vocalização] ele tinha necessidade… Nunca disse porque não não se atrevia – está percebendo? – a dizer, porque como ele estava criando os seus filhos…
INQ1 Mas era um jantar, devia um jantar a quem?
INF1 Era um jantar a correr as as portas com carne e pão.
INF2 Com pão e carne. co-, co- Como o uso do Espírito Santo.
INF1 Com pão e carne.
INQ2 Ah! Um jantar do Espírito Santo?
INF1 [vocalização] É um jantar do Espírito Santo.