INQ1 Quando é que vem o padre benzer os barcos?
INF É antes de de o barco arrear. Antes de o barco arrear é que é que o padre vem benzê-lo; depois – está claro – é que vai para a água.
INQ1 Mas como é que se faz? É o pescador que chama o padre?
INF É, sim senhora. É, sim senhora.
INQ2 E costumam pôr alguma coisa no barco que é para dar boa sorte, sorte?
INF Não senhor. Ele vem, benze-se para lá [pausa] benze o b- a embarcação, e coisa e tal…
INQ2 E toca a andar.
INF Toca a andar.
INQ2 Olhe, os barcos são feitos aqui ou são feitos no Pico?
INF É no Pico. É quase todos no Pico. A maior parte deles fo-, eram são feitos no Pico.
INQ1 E quem é que dá o nome ao barco? É o dono?
INF É o dono, sim senhora. Ele vai à delegação e [vocalização] – está claro – é que põe o nome que quer.
INQ1 Olhe, e que f-, e que festas costumam fazer quando fazem promessas para salvar?…
INF É a Santo António. Ele, às vezes, faz-se promessas até ao Santo António. É esta ermi- É esta ermidazinha que tem aqui em cima, enquanto aca-, há f- há festa todo o ano. Há a festa no, no [vocalização] Todos os anos há festa aqui, uma festazinha.
INQ2 Que é dos pescadores?
INF Aqui a Santo António, sim senhor.
INQ1 E só vão os pescadores?
INF É, sim senhora.
INQ1 Ou há pessoas também de fora?
INF É pessoas de fora também. [pausa] Dão alguma coisa para a para a ajuda da festa.
INQ2 E os pescadores donde é que tiram o, esse dinheiro para a festa?
INF Tiram da – está claro – da coo- [vocalização] da pesca.
INQ2 Quer dizer, vão tirando pouco a pouco ou vão só um dia à pesca?…
INF Vão tirando pouco pouco a pouco – pouco a pouco. Hoje tiram-lhe dez, amanhã tiram-lhe vinte, outro dia, trinta, conforme a pesca.
INQ1 E entregam, e entregam a quem?
INF [vocalização] Gua- Guardam o dinheiro e [vocalização] depois, depois do quando se chega à festa, o senhor padre faz a festa e [vocalização] mete lá, quer dizer, faz lá conta às suas despesas e o [vocalização] o arrais da embarcação por ter paga a sua parte porque tem de pagar. O dinheiro é dividido por pelas embarcações, a despesa, e o arrais depois, cada qual paga a [vocalização] paga a sua parte porque tem porque tem de a pagar.
INQ2 Mas como é que era feita a, a fe-, a festa? Portanto, os barcos estavam aqui e enfeitavam-se?
INF Enfei- [vocalização] Enfeitavam-se e enfeitam-se. Ainda alguns se enfeitam. E outras vezes Outras vezes íamos aqui para cima. Mas agora agora já ele há anos, ele ficam lá em baixo. O padre vem na procissão, dá a volta… A procissão vai lá acima ao largo da Cana da Folga, lá em cima.
INQ2 Rhum-rhum.
INF E [vocalização] vem para baixo, dá a v- dá a volta aqui ao cais, e depois vai para cima, vai para cima, diz o se- o senhor padre diz o sermão ali à, à [vocalização] cá em baixo no portão da igreja. [pausa] Reco- O santo vai recolher.
INQ2 Pois.
INF E é assim.
INQ1 E não fazem uma comida grande, uma boda, uma espécie de boda?
INF Não senhora. Não senhora.
INQ1 Depois vai cada um para suas casas?
INF É, sim senhora.
INQ2 Não fazem arraial?
INF Houve aqui um ano que fizemos aqui. Fez-se para, quer dizer, para, para para ajudar mais à festa.
INQ2 Pois.
INF Mas
INQ1 Mas enfeitam aqui a, o porto e a, ou não?
INF A gente costuma enfeitar aqui, sim senhora. E então aí para cima há festas que se enfeita que se enfeita [vocalização] e iluminações e [vocalização] …
INQ1 E quem é que toca? Ou não há ninguém que toque? Viola ou assim?
INF A gente não costumamos aí.
INQ1 Não se costuma fazer?…
INF Isso até, por acaso, agora já é muito raro é aparecer uma viola.
INQ1 Nem na matança?
INF Em matanças, costumava-se a cantar os reis. E [vocalização] – está claro – e a cantar, e coisa.
INQ1 Mas já não se faz?
INF Mas já, ultimamente, já não. É muito raro. É muito raro.