INF1 E a senhora sabe uma coisa?
INF2 Mas agora não. Agora ganha-se bons dinheiros mas…
INF1 Eu tive um tio – um tio da minha mulher – [pausa] em bem que soube que a gente tivemos a carta [pausa] de minha irmã para chamar a gente para a América… Como a minha irmã foi, eu também podia ter ido mais o meu irmão. [pausa] Eu disse: "Olha-me isto, eu com nove filhos para a América"?! Eu sem ter o valor dum tostão, [pausa] sem casa, sem propriedade, sem nada, coisa nenhuma de valor, [pausa] eu para me pôr com esta família na América – que o filho que eu tenho mais novinho vai fazer agora cinco anos para Ma-, para, para para Fevereiro, [pausa] o resto é tudo já rapa- rapaziada grada –, eu nunca mais me ponho na América com nada menos duns cento e cinquenta contos.
INF2 Agora vai-se mais fácil para lá .
INF1 E agora vamos lá [pausa] que eu apanho uma infelicidade [pausa] que eu morro?! Ou [vocalização] Ou [vocalização] que me falta um trabalho qualquer… Quer dizer, falta de trabalho para mim, [vocalização] não faltava, porque eu botava-me ao primeiro que fosse, nem que fosse a limpar desse arrebouço que aí está. Tudo quanto fosse preciso limpar, eu limpava.
INF2
INF1 Mas, numa comparação, Deus dá uma doença, numa comparação, a mim, porque eu é que era o banqueiro, eu é que era o chefe da navegação, é que era o cabeça, isso eu disse: "Eh pá"!
INF2 O cabeça, era, pois.
INF1 Eu é que vou trabalhar sozinho.
INF2 Nunca mais.
INF1 A mulher, se for trabalhar, têm que ficar [vocalização] os miúdos em casa.
INF2 Tem de pagar a quem…
INF1 Se calha a apanhar aqui um estupor duma doença para pagar cento e cinquenta contos…
INQ Nunca mais se livra.
INF1 Eu nunca mais me livro daqui para fora. Vou-me embora mas é para as para as Vergas, que eu nunca mais me safo. Não tenho com que pague. E numa nação alheia [pausa] a quem é que vou mostrar cara? [pausa] Pensei [pausa] e fiquei assim. Agora já me me favoreceram um dinheiro, [pausa] se eu quisesse ir. Ia sem pagar rendimento, essa coisa, eu disse: "Não senhor". Se eu tivesse que ver a América… Porque eu tenho um irmão na América. [pausa] O meu irmão mais velho com [vocalização] tem cinquenta e um ano. Eu estava na tropa quando ele foi para a América. Se ele quisesse que eu estivesse bem, ele tinha-me posto na América, lembra-me perfeitamente, já há uns vinte anos. [pausa]
INF2 Meu irmão fez a chamada… Quem fez a chamada foi a minha sobrinha do lado dele, que ele não sabia falar…
INF1 Não quero saber daquela nação para nada. Não deixo de dizer: [pausa] hoje vive-se aqui…
INF2
INQ Mas os irmãos podem chamar os irmãos?
INF1 Podem, sim senhora.
INF2 Ele podem. Hoje ainda podem.
INQ Ainda se pode?
INF2 Diz que vai ser proibido.
INQ Tenho impressão que já não.
INF1 Podem.
INQ São só os pais que podem chamar…
INF1 Agora pode, como dizia o outro, estar em condição de estar proibida.
INF2 Mas isso
INF1 Mas eu a qualquer uma hora que queira ir para a América, estou a modo de seguir. Tenho a carta em casa a modo de seguir. Tenho a carta já feita já há mais de dois anos. Tenho a carta em casa, estou a modo de navegar. É só chegar-me, numa comparação, a um banco, ele arranjar… Mas quem é que vai sair agora? Homem, não quero saber disso para nada, vez nenhuma. Mesmo a minha não tem vontade nenhuma.