INF1 Os remédios caseiros muitas vezes são melhores que os da botica.
INQ Ai isso são.
INF2 Oh, então e essas queimaduras daquela senhora da ponta, lá donde a mulher do Justiniano trabalha.
INF3 Olhe…
INF1 Pois.
INF3 Olhe que eu tive cinco filhos. Os quebrantos era a toda a hora.
INF1 E eu, e eu.
INF3 Olhe, chegaram-me a atar um lenço aqui ao peito e botavam-mo aqui ao ombro.
INF1 Era.
INF3 Não podia com o peito.
INF1 A gente tinha muito leite. Agora não têm leite e não tratam…
INF3 O leite ia atrás.
INF1 Não se tratam. Não querem! Então, eu vou contar à senhora quantos filhos eu criei.
INF3 O leite é que ia atrás.
INF1 [vocalização] Eu tive doze. Já me morreram três, um é que só tinha seis dias. Mas os outros já tinha: um, vinte e cinco meses e outra três anos – chamavam-na Eugénia. E [vocalização] E criei os outros sete. E criei aqui o senhor Estrabãozinho. Fui eu que o criei. Tive-o mesmo em minha casa a criá-lo. O Estrabãozinho, fui eu que o criei. E [vocalização] E o senhor Evangelista. O senhor doutor Evangelista.
INF2 O engenheiro.
INF1 É o engenheiro.
INF2 O engenheiro.
INF1 Também fui eu que o que o criei. Dava o peito à minha filha mais velha, à minha Eurídice, e dava-lhe o peito a ele, às horas. Tinha tanto leitinho! E elas não têm porquê? Porque não querem. Porque elas agora comem bem e eu naquele tempo tinha muita fome.
INF3 Oh, naquele tempo…
INF1 Às vezes saía para a várzea, sachar, sachar, cheia de fome, cheia de fome!
INF3 E arrancavam, danavam-me…
INF1 E [vocalização]
INF3 É que parecem que arrancavam as veias do peito, ah!
INF1 O [vocalização] peito à gente. E E eu vinha, quando vinha já, mesmo sem comer nada, em jejum.
INF3 Agora, querem o que é bom! Ai, que regalonas!
INF1 Era só aquela… É, é. São umas regalonas. Elas podem durar outro tanto tempo. Eu criei muito filhinho! E iam E iam para a feira, por exemplo, estava aqui uma senhora que chamavam a Eulália Justino, não tinha leite. Os filhos dela… A Encarnação – olhe, essa Encarnação que aqui esteve, [vocalização] já vinha atrás de mim; em me vendo, já vinha: "A mãe! A mãe! A mãe"! De lhe eu dar o peito.
INF2 Porque ela era amiga de lhe dar a mama.
INF1 De lhe eu dar o peito, chamava-me mãe. Uma vez vinha com um tabuleiro de pão para ali para o forno do senhor Euclides, da minha mãe. Em massa. [vocalização] Ainda vinha em massa, a sair de casa com ele. Ela atrás de mim: "Ó mãe, ó mãe"! A mãe, como gaguejava assim um bocadito: "Q-, Q-, Que filhos meus que nunca mais. Nunca mais vão mamar em ninguém. N-, N-, Nunca mais"! Eu fui pôr o tabuleiro ao forno e vim a correr dar-lhe a mama à rapariga. Quase que lhos desemborreguei todos. Eu tinha muito leite. Em comendo um bocadinho de pão, um bocadinho de queijo, ou um bocadinho de bacalhau, ou uma sardinhinha – era mais comer da gente, era [vocalização] a sopinha e um bocado de pão e sardinha – eu já me desfazia toda em leite. Às vezes de noite, eu estava assim: "Eu nem me posso virar mais para ti"! Molhava-o todo! Eles mamavam dum lado e o leite corria do outro.
INF2 Era leiteira.
INF1 Era muito leiteirinha, ai isso era!
INF3 Ai eu também, graças a Deus!
INF1 E a minha Eunice também assim era. E a Eurídice? A Eurídice também os criou todos ao peito.
INF3 Eu, graças a Deus também.