INQ1 Como é que tira a cortiça?
INF1 A gente racha a cortiça.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Pois. A gente chegamos ao pé duma sobreira… [pausa] Primeiramente, a cortiça [vocalização] as cortiças, [vocalização] ainda hoje ainda hoje se vierem pessoas fazer, calhando, a maior parte delas não sabem.
INQ1 Rhum.
INF1 Tira-se um trinco à cortiça. E é ali que a gente vê: a cortiça tem que ter nove anos. Ter nove ou ter dez, não é?
INQ2 Pois.
INF1 Se a gente tira com dez, pois… [pausa] A cortiça está ali, como é que a gente sabe se ela tem nove, se tem dez?
INQ2 Pois.
INF1 Ou se tem onze? [pausa] Pois não. Tiramos um trinquinho à cortiça e depois… Temos uma faquinha afiadinha, vamos ali e cortamos na cortiça. Pois. E depois de cortar na cortiça… Aquilo a cortiça tem… Se tem dez anos, tem dez linhas; [pausa] se tem onze anos, tem onze linhas. Pois.
INQ2 É assim que conhecem.
INF1 Pois. E a gente vai ali e às vezes aquilo não descobre bem, está a compreender? Se a gente não se descobre bem, a gente molha assim o dedo [pausa] e esfregamos assim na cortiça. [pausa] Hum?
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Pronto. Depois ali olhamos-lhe. Depois ali já contamos: uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove. [pausa] Já contamos dez linhas, ou nove linhas.
INQ2 Pois.
INF1 Pois. Já tem nove linhas. [pausa] Já se tira.
INQ1 Pois.
INF1 Pois. Agora não. Agora prantam aí um cinco, ou prantam um quatro, ou prantam um três, conforme é, conforme a era, pronto. "Olha, é duma era de mil novecentas e tantas"!
INF2 Mas é só os que andam por aí .
INQ2 Pois.
INF1 E eu: "Olha, já tem tantos anos"! Pronto, é só chegar ao pé e tirar.
INQ2 Tirar, pois.
INF1 Não tem ciência nenhuma, aquilo! [pausa] De agora não tem ciência!
INQ2 Claro.
INF1 Quando chegarem ao pé duma sobreira…
INF2 Pois.
INF1 Pronto, um vai ali! O que tinha ciência era às vezes ter que contar as linhas.
INQ2 Pois.
INF1 Que a gente às vezes malhávamos-se ali um belo pouco [pausa] a contar as linhas.
INF2 Pois.
INF1 E eles então fazem o seguinte agora: marcam logo as sobreiras que é para, que é que é para não não ter esse empate, não ter…
INF2 Hoje . Pois.
INQ2 Pois.
INF1 Ser uma coisa… Gastam o dinheiro logo, o que haviam de… O tempo que os homens estavam ali à espera de contando aquilo… Agora não. Agora enfiam-lhe a coisa e pronto.
INQ2 Põem a data, pronto. Põem a era.
INF1 Põem a data e tiram. Pois.
INQ2 Pois.
INF1 Naquele Naquele tempo era assim tudo.
INQ1 Então…
INQ1 E depois como é que tirava?
INF1 Depois tirava-se. Depois a gente rachava. Ao meio do, da sobreira [pausa] Ao meio da sobreira, fazíamos um redondo em roda [pausa] da sobreira.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Com o machado, íamos ali cortando, fazíamos em roda. Depois de ter, cortávamos para baixo [pausa] em três ou quatro pranchas, não é?
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Arredávamo-las. [pausa] Depois deixávamos uma da parte da frente – na parte da frente não se tirava – e rachávamos por aí acima outra vez. [pausa] Pois. Rachávamos por aí acima e abríamo-la. E essa que ficava da parte da frente ficava ali. Pois. Abríamos aquela para para os lados, metíamos ali uns bocadinhos de cortiça dum lado, outros bocadinhos de cortiça do outro. [pausa] Quando a gente éramos sozinhos, íamos lá para cima depois, fazíamos o corte lá por cima nas pernadas, cortávamos as pernadas, fazíamos os cortes como havia de ser, empurrávamos as as pernadas para o chão, outras também do outro lado, e depois chegávamos ali ao pé do pé… Às vezes estava uma pessoa cá por baixo. Quase sempre. E depois logo o resto aquilo saía tudo que era uma beleza! E essa folha que ficava ali na frente, que era para a gente subir para cima.
INQ2 Ah!
INQ1 Era para ajudar à?…
INF1 Pois, era para a gente subir. E [vocalização] E hoje não. E hoje vão aí ao pé duma sobreira e levam uma escada.
INQ2 Pois, pois, pois.
INF2 Pois, hoje já não.
INQ2 Então e essa, essa da parte da frente era a última a tirar?
INF1 Era a última a tirar.
INQ2 Pois.
INF1 Era a última a sair.
INQ2 Pois. Exactamente.
INF1 Pois.
INQ1 E depois o que é que faziam à cortiça que, que saía cá para fora?
INF1 [vocalização] Depois a cortiça, andavam lá os ajuntadores.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 A gente A gente era só marchar de sobreira em sobreira.
INQ1 Ah!
INQ2 Pois.
INF1 Ver onde é que ela estava.
INQ2 Pois, pois.
INQ1 E os ajuntadores, que é que faziam?
INQ1 Que é que faziam?
INF1 Os ajuntadores iam lá, ajuntavam-no com uma corda. Traziam uma saca [pausa] assim por cima da cabeça, ao feitio de barrete.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Pois, ao fim duma saca – feitio de barrete –, enfiavam uma saca na…
INQ1 Sim, sim.
INF1 Pegavam numa saca na cabeça e tinham uma corda com um cãimbro, um pau, assim [vocalização] uma coisa.
INF3 Um garrocho.
INQ1 Um pau de bico.
INF1 Um garrocho, pois. Tinha uma ponta cá por cima, depois estendiam a corda no chão, punham ali as folhas ali em cima, ali conforme [vocalização] conforme às vezes podiam… Levavam um feixe de quatro, cinco arrobas, conforme, às vezes. Outras vezes levavam duas. Aquilo era conforme a cortiça que lá estivesse. Levavam as cordas, levavam para o roleiro.
INQ1 Para o rodeleiro?
INF1 P- Para os roleiros.
INQ2 Para o roleiro.
INQ1 Ah, para o roleiro!
INF1 Faziam roleiros.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 Faziam roleiros de cortiça, quer dizer, juntavam um moitão na barraquinha, era um roleiro de cortiça. Pois.
INQ2 Rhum-rhum.