INQ1 Diga-me o seu nome, se faz favor?
INF1 Anacreonte.
INQ1 E a sua idade? A sua idade?
INF1 [vocalização] Cinquenta e do- Sessenta e dois.
INQ1 E é de aqui da?…
INF1 Sim senhor.
INQ1 Então e o senhor trabalhou em quê?
INQ2 É aqui da Ponta Garça?
INF1 Eu É sim senhora. , [pausa] Trabalhei em moleiro e em barroqueiro. E eu agora sou camponês.
INQ1 O que era?… O moleiro eu sei o que é. O barroqueiro é que eu não sei o que é.
INF1 Ele [vocalização] A gente trabalhava com umas bestas, a acartar madeira, a acartar enchimento para as estufas.
INQ1 Chamava-se barroqueiro essa?…
INF1 [vocalização] Sim senhor. Ou arreeiro. A gente trata o [vocalização] o barroqueiro é um arreeiro.
INQ2 O barroqueiro e arreeiro é o mesmo?
INF1 É sim senhora. É a mesma coisa. [vocalização] A gente ia tirar queiró para o mato [pausa] que era para as estufas. E depois, [vocalização] o moleiro é [pausa] bater às portas de dos fregueses para levar as saquinhas para o moinho. É o que a gente fazia.
INQ1 E o moinho daqui como é que era? Era moinho de quê?
INF1 Era moinho de água.
INQ1 E havia… Em casa, as pessoas às vezes tinham uma pedrinha mais pequenina que era para fazer…
INF1 Que era… Era de de fazer a papa de carolo.
INQ1 Como é que se chamava isso?
INF1 Era o o moinho de mão. A gente tratava o moinho de mão.
INQ1 Sim senhor. E uma coisa mais antiga que houve que os senhores me falaram hoje de manhã, que também servia para moer, que era puxado por um animal, dentro duma casa, antes dos moinhos de água…
INF1 Isso é o moinho de vento.
INF2 Tafona.
INF1 Não, não é tafona. Isso é o moinho de vento. É o que a gente tratava o moinho de vento.
INF2 Tafona é com uma besta dentro de uma casa que não se fecha.
INF1 Não.
INQ2 Não, tafona…
INQ1 Mas isso o senhor…
INQ2 O moinho de vento era movido a vento, não era?
INF2 O moinho de vento é fora. O moinho de vento, o vento é que f- está girando. Agora dentro duma casa é uma tafona. Há um Há um animal, uma burra ou um burro, puxando aquilo…
INF1 Ah, e é uma tafona!? Não, uma tafona…
INF2 É uma tafona.
INF3 Então tu não te lembras disso?
INQ2 Já não se lembra?
INF1 Não. Não me alembro disso. Das tafonas, eu não me lembro.
INF2 Não.
INQ2 Também não se lembra já?
INF2 Não senhor. Não senhor.
INQ1 O senhor falou no moinho de vento. Aqui para estes lados havia moinho de vento ou era para outro lado que havia?
INF1 Havia aqui no Pico mas eu não me lembro dele de esse moinho moer. Eu não me lembro de ele moer.
INQ1 Sim senhor.
INF2 O meu irmão lembra-se. Aquele meu irmão lembra-se dele aqui mais acima. Andando por esse caminho fora havia um moinho de vento. Ainda está lá as paredes. Ainda estão lá as paredes. Mas eu não me lembro de o moinho andar.
INQ1 A água vinha na ribeira e o senhor o que é que tinha de fazer na, na ribeira, para?…
INF1 Aquilo ele ele vinha era numa levada. Vinha do nascimento, a gente fazia a levada e chegava ao que a gente trata o cubo. E depois em baixo faziam a, com bocados de madeira, a fecharia do moinho, que era para sair conforme a água… Conforme a água: se fosse muita água, [vocalização] trabalhava com três dedos, se fosse pouca, trabalhava com dois, que é para dar a força no penado [pausa] que é para ele para a pedrinha andar de roda para ele para o moer, para – como é que se diz? – para moer o milho, para fazer farinha.
INQ1 Sim senhor. Essa puxaria como é que era? Era aquela parte estreita onde saía a água?
INF1 Era sim senhor.
INQ1 Chamava-se puxaria?
INF1 É a fecharia do moinho.
INQ2 Fecharia.
INQ1 Fecharia. Percebi mal. Está bem.
INF1 É, a fecharia do moinho [pausa] que a gente…
INQ2 Chamava fecharia?
INF1 Era sim senhora. Aquilo era a fecharia que a gente fazia com madeira. Com a pressão da, d- do cubo, que era alto, [vocalização] fazia aquela pressão que saía com muita força que era para [pausa] para bater no penado, que é para andar de roda, que era para para moer o milho, para fazer farinha.
INQ2 O penado era o quê? O penado era o quê?
INF1 [vocalização] O penado é uma roda que é que está em baixo, de madeira [pausa] com penas – que a gente tratava o penado. É com penas de madeira que a gente fazia. Trabalhava com pedras de ferir lume em baixo, assim.
INQ2 Pedras de quê?
INF1 [vocalização] Uma pedra de ferir lume, [pausa] que a gente cá achava no Calhau. Naquelas pedras que ele a gente faziam um buraquinho botavam um em cima e outro em baixo. Que a gente… A de ci- A de baixo, chamavam a reles, e a de cima era o aguilhão [pausa] que andavam naquela outra [pausa] que era para o para o penado andar ali…
INQ1 Como é que se chamava a de baixo?
INF1 A reles e o e o de cima era o aguilhão.
INQ1 E, essa reles ficava presa num…
INF1 Ele ficava [vocalização] – como é que se diz? – na ponte. A gente tratava a ponte. E depois tem aqui [vocalização] tem aqui o espojadouro e tem uma agulha, que era de alevantar a pedra e de abaixar.
INQ1 E o que era o espojadouro?
INF1 O espojadouro era de a gente desencravar o moinho – que tinha um desencravador. Há um prego com uma varinha, um prego desses grandes, a gente tinha o buraco que a gente tratava o espojadouro, quando o moinho encravava, a gente [pausa] chegava à fecharia, dava assim com o prego, saía a [vocalização] aquelas espadas ou coisa, o moinho começava a trabalhar.
INQ1 Encravava porquê? Porque?… Alguma coisa que tinha passado…
INF1 É quando Sim senhor. E chegava ali se era se não podia sair, tapava aquele buraquinho. A gente ia com o prego [pausa] e aquilo desentupia [pausa] e o moinho…
INQ1 Rhum-rhum. Sim senhor.
INF1 E agora a agulha – que é para eu dizer ao senhor a agulha –, a gente se queria a farinha mais fina, a gente dava na cunha [pausa] para fora; s- se ele… o freguês se queria a farinha a farinha mais redonda, a gente dava na cunha para dentro, para fazer a fi- a farinha mais grossa.