INF1 Depois de ter carregado [vocalização], pronto! Ajudam-me a carregar… A gente [vocalização] temos… Porque a gente quando fazem ali, a gente fazem uns em uns encruzes, assim, fio por fio! Porque a gente fazem é com o dedo. A gente pegam assim, fazem assim. [vocalização] Fica aqui assim em cruz. E este encruz é preciso que a gente nunca o desmanchem, porque, senão, enriça-nos muito o coisa. Eu trago para aqui, temos aqui essas canas grossas, ele eu abro os encruzes, a gente metem a cana e fica ali. Eu amarro uns aos com uns nozinhos as pontinhas do algodão e fica aqui. Pronto! Eu, depois, eu começo a repassar aqui. Isso aqui é repassado fio por fio.
INQ1 E isto como é que lhe chama?
INF1 A isso chama-se um liço. E a gente repassam isso é fio por fio. A gente tem de passar esses fios todos. A gente levam-lhe aqui o dedo, abrem o dedo e metem o fio ao meio e puxam. A gente levam aqui, já se sabe, horas e horas nisso. Pois. Porque isso é muito fio.
INQ1 Pois.
INF1 E ele a gente repassam aqui. Depois de estar repassado aqui, eu… [pausa] tiro isso daqui…
INQ1 O que é isso? Como é que se chama?
INF1 Isso é uma haste. Esta? [pausa] Uma haste.
INQ1 Uma haste.
INF1 E isso a gente chamam a queixa, [pausa] que é o que a gente batem.
INQ1 Portanto, a haste está dentro da queixa?
INF1 É, é. A haste vai para dentro para a queixa. E eu A gente, depois, aqui, [pausa] a gente tem-lhe que enfiar dois fios cada [vocalização] cada rachinha dessa outra vez. Aqui é uma só, porque é o fio daqui e o fio daqui. A gente, depois, passam os dois aqui. Está pronto, a gente pegam numa varinha dessas – que a outra está aqui dentro –, a gente pegam numa varinha dessas, com uma [vocalização] umas cordas que eu tenho aqui, [pausa] a gente põe aqui no órgão e enfiam essa varinha. Uma pessoa aguenta-me aqui porque [vocalização] coisa… É. Ele qualquer pessoa me aguenta! E eu, muita vez, eu faço sozinha! E a gente começam a puxar a teia, aqui, o algodão, a gente começam-lhe a puxar e amarram aqui contra a varinha. Depois de ter amarrado, a gente vão aqui, botam as premedeiras, que é donde a gente põe os pés…
INQ2 Como é que se chama?
INF1 Premedeiras, [pausa] que é donde a gente põe os pés. E a gente começam o tecido.
INQ1 E essa varinha como é que se chama?
INF1 A vara.
INQ1 Chama-se mesmo a vara?
INF1 É.
INQ1 É o compostoiro.
INF1 [vocalização] Essa é a vara e agora essa que eu tenho aqui é uma [vocalização] é vara. É. A gente chamam isso as varinhas. E isso é uma vara que é de a gente medir ele [vocalização] …
INQ1 O tecido?
INF1 Ele o tecido. Porque uma manta são duas varas dessas. Isso dá um metro e doze centímetros.
INQ1 Uma vara é um metro e doze centímetros?
INF1 Uma vara é uma uma coisa e é doze centímetros. Mas eu quase sempre agora já não uso isso. É a fita que eu tenho aqui. Porque a gente mesmo quando começam a tecer, isso é tudo por medida: essas listras que a gente fazem eu fa-… E eu [vocalização] avezei a moda de [vocalização] de ser com a fita. Tenho aqui: é [vocalização] tantos, é tantos e a gente: hehe-hehe… Que eu, primeiro, a gente era com uma caninha, com umas coisinhas… Agora é a tal coisa: é tudo mais prático, não é? Aí eu meço é com a com a fita. Depois de estar, começo a tecer.
INQ1 E como é que chama a isto?
INF1 Isso chama-se a chave do tear.
INQ1 A?…
INF1 Chave.
INQ1 Que é para?…
INF1 Que é para apertar a teia.
INQ1 Portanto, no, no órgão? Enfia no órgão?
INF1 A gen- A gente põe aqui no órgão que é para ele [vocalização] para rodar. E aqui também é a chave. Porque aquela ele é diferente porque isso é [vocalização] uma coisa que faz muita força mesmo.
INQ1 Pois.
INF1 Isso faz muita [vocalização]…
INQ1 Esta aqui também lhe chama varinha?
INF1 É também varinha.
INQ1 Pronto.
INF1 A gente chamam essas varinhas é varinhas. E isso agora aqui, depois de a gente terem repassados, a gente põem dentro na queixa. Isso aqui é a queixa [vocalização]
INQ1 E a haste.
INF1 e a haste, que é [vocalização] donde a gente começam [vocalização] a bater. Mas
INQ1 E estas coisas?… Isto aqui que serve para prender os liços?
INF1 Ele [pausa] isso aqui a gente chamam é os [pausa] cabrestilhozinhos – [pausa] a esses bocadinhos. Aqui é uma rodinha que a gente chamam, porque a gente temos aqui uma [vocalização]… Agora essas que trazem, tratam isso é as cabritas.
INQ1 Estas aqui de cima onde estão as rodinhas são as cabritas?
INF1 É. A gente chamam cabritas.
INQ1 Então e os cabrestilhos, não é os fios daqui?
INF1 É. Os cabrestilhos é isso. Mas a gente também chamam isso cabrestilhinhos.
INQ1 Também chama a isso… Diga?
INF1 Cabrestilhinhos [pausa]
INQ1 Cabrestilhinhos.
INF1 que a gente chamam isso.
INQ1 Os cabrestilhos são quantos fios?
INF1 É doze.
INQ1 Doze fios?
INF1 Doze. Mas é a tal coisa que eu já ponho mais novelos e eu agora faço com dezasseis.
INQ2 Já faz mais uns.
INF1 É, é. Eu já faço mais quatro fios em cada cabrestilho – foi o que eu disse ainda agora –, quatro fios em cada cabrestilho. Em lugar de eu fazer quatro cabrestilhos, eu faço três e já tenho quatro.
INQ1 Pois, pois.
INF1 É. Porque é quatro fios. Porque é: um cabrestilho são doze, porque é os doze novelos que a gente põem na urdideira e [vocalização] …
INQ1 Pois. E aquela antiga que tinha de que me falou há bocadinho? Aquela caixa com os doze novelos?…
INF1 Isso, eu não tenho.
INQ1 Mas como é que se chamava? Lembra-se?
INF1 É casal. A gente chamavam aquilo era o casal. [pausa] É. O meu rapaz disse: "Ai, eu qualquer dia faço isso à minha mãe". Eu disse: "Ai, eu não quero que eu já estou no resto da minha vida, eu não eu não quero". Mas [vocalização] a gente
INQ1 Antes quer as panas?
INF1 É.
INF2 As tigelas.
INF1 As tigelas. Ele, pronto, ele faz… Aquilo ali, a tigela é lisa [pausa]
INQ1 Pois. Não prende.
INF1 e o fio não prende nada. Porque é: isso é uma coisa [pausa] quando apanha um uma coisinha dessas assim, a gente ficam logo engatadas. Porque é: esse tear isso já tem anos.
INQ1 Claro. Olhe e…
INF1 Eu já teço… [pausa] Eu tinha catorze anos, [pausa] eu já teço há [vocalização] quarenta [pausa] e dois anos. Porque eu tenho cinquenta e seis [pausa] e eu comecei a tecer com a idade de catorze anos. Com catorze anos, eu já estava aprendendo. Comecei a ve- a tecer mas eu sempre gostei: teci cobertores de tear, não é só mantas que eu faço! Eu teço man- Eu ele fe- fazia, agora é que eu não eu não quero fazer porque não posso. Mas daqueles teares que a gente chamavam o tear de de Norte. Daqueles teares de [vocalização]
INQ1 De duas pessoas?
INF1 cobertores. Não.
INQ1 Ah!
INF1 Cobertores de de Norte que a gente.
INF2 Não havia em lã de ovelha, há?
INF1 Que era com lã de ovelha.
INF2 Não se trabalhava em lã de ovelha!
INF1 Ele eu tenho! Eu tenho d- [vocalização] quatro, três cobertores desses. Daqueles que era de risquinhas. [pausa] E [vocalização] eu tenho [pausa]
INQ2 Essas coisas todas tem.
INF1 essas coisas todas. A gente tecem muito agora é muita carpete. Porque as pessoas já não querem mantas para as camas, é carpetes, é tapetes, é aquele [vocalização] almofadas. Então, eu trabalho aqui em lã e [vocalização], e em [vocalização] e em retalho.
INQ1 Em linho já não trabalhou ou ainda trabalhou?
INF1 Tenho ali duas sacas para fazer. Eu tenho ali duas sacas para tecer que eu disse a ela, no outro dia, à senhora que me falou, eu disse: "Tu tiveste foi uma grande sorte de me pores aqui, em casa, sem eu [vocalização]… Eu estou doente! Porque se eu estivesse doente, eu não te queri-, eu já não já não vinha para cá".
INQ1 Pois.
INF1 Porque aquilo ele leva muito tempo a tecer! E, já se sabe, a pequena chega no carro das sete, [pausa] é um bocadinho à noite, e também uma pessoa não vai sacrificar aquilo que aquilo também é miúda.
INQ1 Pois claro.
INF1 Mas ela também gosta! Ela também gosta. Todos os dias, eu [vocalização] quando eu vou-me à missa, ela fica aqui. Ela chega no carro das sete, eu digo assim: "Olha, se queres, ele já está as canelas". Porque as canelas eu ponho. A gente chamam esses canudinhos [pausa]
INQ1 Pois.
INF1 é canelas. [pausa] Isso antigamente era de cana. Porque eu ainda tenho aqui… Ah, olhe! Eu guardei, porque eu gosto muito de coisas antigas! Eu guardei, eu disse: "Ai, eu não acabo com isso, que isso fica aqui para uma recordação". [vocalização] Começou a haver esses caninhos que isso é da luz.
INQ1 Pois.
INF1 E [vocalização] os meus filhos começaram-me a [vocalização] a irem atrás [vocalização]… Eu tenho um rapaz que trabalha de mestre. Começou-me a trazer, começou-me a trazer, eu agora uso é disso. A gente fazem as canelas…
INQ1 Aonde?
INF1 A gente fazem à mão.
INQ1 À mão.
INF1 Mas eu tenho uma roda! Está aqui, aqui em cima.
INQ1 Ah! Estou a ver. Aquela chamada… Era a roda das canelas?
INF1 É. A gente fazem as canelas e a gente chamavam aquilo o caneleiro.
INQ1 O?…
INF1 Caneleiro. Porque ele [vocalização] a gente [vocalização] O linho é feito ali! [vocalização] Ele quando eu teço coisas [vocalização] [pausa]
INQ1 De lã.
INF1 de lã, a gente fazem ali, porque é mais depressa. E agora a gente aqui, quando eu faço as canelas, aquilo é: eu já faço tudo por medidas.
INQ1 Pois.
INF1 Tudo. Eu tenho aqui a minha medida que é daqui dessa [vocalização] coisa à cabeça do tear. Assim até aqui, eu meço quantos retalhos eu queira pôr aqui. Eu meço eu [vocalização] … Quer dizer, a gente, em primeiro, não faziam isso; [pausa]
INQ1 Pois.
INF1 a gente iam fazendo. Mas eu gosto de fazer as listras das minhas mantas é com os retalhos iguais. Se dá para seis fios, eu ponho seis; se dá para quatro, é quatro. Eu gosto muito de fazer é tudo igual, porque casa mais depressa. A gente, essas mantas com essas listras, a gente chamam mantas casadas. Agora das outras que é [vocalização]… Canelinha de uma cor que é… A gente chamam aquelas mantas a eito – [pausa] que a gente chamavam…
INQ1 As que são todas de uma cor?
INF1 Não é de uma cor. Várias cores: é canela duma cor, canela doutra. Agora essas é são as mantas casadas porque.
INQ1 Portanto, qual é a diferença? É porque aqui, neste caso, o que é que?…
INF1 É [vocalização] esse
INQ1 São casadas porquê?
INF1 São casadas porque esta uma parte duma manta, que a gente chamam um ramo de manta, tem que casar com a outra. Essas listrinhas, a gente quando cosem, cosem e fica a manta igual por la- [vocalização] …
INQ2 Ficam as duas larguras…
INF1 As duas. As duas larguras, mas com essas risquinhas, [pausa]
INQ2 A bater certo.
INF1 portanto, a bater certo: tanto igual de um lado, como igual do outro. Já se sabe, a gente fazem vários feitios. Não é só desse [vocalização]… É os retalhos também é que mandam.