INQ1 Ele trabalhava aqui só ou trabalhava assim para, para as terras à volta?
INF Est- Não. Trabalhava. Ele trabalhava de carpinteiro – não é? – e logo foi para Lisboa. Ele morreu-me em Lisboa.
INQ2 Ai, ele trabalhava em Lisboa?
INF Trabalhava em Lisboa. Trabalhava em carpintaria. Morreu em Lisboa. Naquele tempo – lá ficou, coitado – não havia meios de o poder trazer. Naquele tempo o ordenado dele também era pequenito. Pronto, ficou lá no, [pausa] no hospital do [pausa] de São João – parece que foi. No
INQ1 No cemitério?
INF No cemitério de São João. É assim a vida. Vamos andando, [pausa] que ele lá vai e eu não tardarei a ir também.
INQ1 Ainda está aí rija.
INQ2 A senhora está muito boa.
INF Ai, ai! Olhe que eu Olhe que eu estive aí [vocalização]… Foi ali pelo Carnaval que me deu uma colite que eu [vocalização] tive o meu filho teve de ir comigo às onze horas da noite para o hospital para Viana. E adiante, isto foi n- na terça-feira à noite – foi no dia de no dia tre- treze de Fevereiro – e na quinta-feira tornou-me a dar e tiveram de ir outra vez comigo para Âncora para o doutor. E ainda estou a dieta, que eu ainda não como… Estou a comer de dieta.
INQ1 Pois, pois.
INF Ai, ai! Uma colite que me deu que quase morria!
INQ1 Pois é. Agora é preciso tomar cuidado com a alimentação.
INF Pois, pois é isso.
INQ2 Não abusar…
INF Nada, eu nada. Elas bem compram, coitadas. Eu digo: "Vocês têm de comprar aí"… Trazem-me aí um bocado de carne e eu meto-a no frigorífico – que eu não tenho, mas tem a minha nora – e vou-a pôr lá e vou tra- trazendo aos bocadinhos, cozo-a cozidinha. Tem de ser tudo cozido. Não posso comer nada…
INQ2 Pois é, faz mal. Pois não.
INF Não posso comer nada [vocalização] estrugido. De estrugido nadinha! Tudo ou grelhado ou cozido. Mas, [vocalização] então!…
INQ1 Também é bom assim.
INF Sim. Sustento-me bem. [pausa] Eu como ando pouco… Até hoje, até quando ia buscar um bocado da carne lá – que eu logo parto-a aos bocadinhos e ponho cada qual bocadinho na sua saquinha para [pausa] para, trago um bocadinho daquela saquinha para não estar a abrir a saca e a partir –, hoje quando ia buscar lá, a minha nora já não estava na casa, já tinha saído. E: "Pois e agora o que faz de comer"? E eu digo: "Ai, eu faço muito bem para mim"! Fiz ali a minha sopinha, botei-lhe uma batata, ralei-a , botei-lhe uma manadinha de arroz, botei-lhe uma cenourinha cortadinha, botei-lhe um bocadinho de azeite e [vocalização] e logo ainda botei uma couvinha desta penca, cortadinha, cortadinha. Olhe e tenho… Comi ao meio-dia e já tenho para a noite. Pronto, já tenho a minha comida feita!
INQ2 Para o dia todo?
INF Sim, para o dia todo. E passo bem. A gente já chegamos a uma certa idade que já a gente come menos. [pausa] Sustenta-se com pouco. Eu de manhã bebo um gole de cevada e estou inté ao meio-dia. Não como também.
INQ2 Ai, não come?
INF Não como de manhã. Mesmo quando me deram comprimidos para tomar agora quando estive assim, tinha de tomar dois [vocalização] ao almoço, ao meio do almoço. E depois tomava um às dez horas [pausa] do dia. E depois tomava outro antes de do comer ao meio-dia. E depois ao meio do comer – a m- a meia hora antes do comer e logo ao meio do comer – dois. E depois de tarde outro, [pausa] às sete da tarde. E an- [vocalização] E antes do comer, meia hora, outro. E depois ao meio do comer outra vez. Mas eu de manhã não comia, não os tomava. Sim, os de de manhã só só tomava o que tomava às dez horas, o mais não tomava mais nenhuns que não comia. Bebo o gole da cevada… Pronto, já estou! [vocalização] A gente passa. Chega-se a uma certa idade já a gente está feito, a gente não precisa de muito comer. É assim.