INF1 Como é que faziam pa- para a broa?
INQ1 Sim.
INF1 Eu, a broa, fa- aquecia… Punha a água a aquecer. [pausa] E depois media uma malga de sal. Se era uma rasa de, de de pão de milho [pausa] – farinha – media um, uma um punhado assim de sal [pausa] e botava dentro da água, temperada. E depois peneirava – não é? – toda peneirada. Mas ti- E [vocalização] peneirava a farinha primeiro, depois ia, peneirava a mistura. Se tinha farinha triga, misturava também. E depois fazia um buraco no meio da da farinha, na masseira – eu tenho ali a masseira –, fazia um buraco, deitava aquela água ali toda, ali dentro.
INF2 Não fazias buraco. Ele abrias Ele abria do lado.
INF1 [vocalização] Abria a farinha e fazia um buraquinho no meio da farinha. E depois de temperar ali ela temperadinha, depois amassava com as com as mãos. [pausa] Com as mãos amassava…
INQ1 E aquele sítio onde punha a farinha, como é que lhe chamava?
INF1 Ele é a masseira. É a mas- Isso eu tenho. Eu ainda tenho a masseira – não seja para lhe mostrar, que tenho. E depois de apunhado, amassava bem amassado, ficava um pão, um pão coma trigo, levezinho! Depois amassava bem amassado, punha ao cantinho da masseira – numa parte só –, todo, botava-lhe um bocadinho de farinha por cima, fazia-lhe uma cruz, assim…
INQ1 E dizia o quê?
INF1 Não dizia nada. Fazia-lhe uma cruzinha para ele levedar.
INF2 Não. Mas ele levava fermento.
INF1 Hã?
INF2 Tinha Ele tinha que levar fermento.
INF1 Tinha que primeiro fazer fermento – não é? – que levava fermento – como leva o trigo na vila. Fazia o fermento primeiro, [pausa] e depois é que lhe botava fermento naquela massa toda.
INQ1 Não tinha… Não ficava o fermento duma…
INF1 Dumas vezes para as outras.
INF2 Dumas vezes para as outras, é.
INF1 Ao fim de de amassar, deixava já o [pausa] a tigelinha com ele, [pausa] para outra vez fazer.
INQ1 Sim.
INF1 Eu cozia duas e três vezes por semana.
INQ1 Vá, e depois? Ainda não está…
INF1 E depois então…
INQ1 Primeiro ele ficava ali com aquela cruzinha…
INF1 Ficava ali com aquela cruzinha até [pausa] abrir todo. Abria – aqueles buraquinhos a levedar, não é? Nós depois de ele lêvedo… Quer-se dizer, an- antes disso, de ele estar a levedar, acendia o forno. E depois já ele dele já lêvedo, todo abertinho, pela masseira assim, todo abertinho, pronto, acen- aquecia o forno, varria tudo para fora. Tirava a lenha dele quente, do forno, já via, e pron- [vocalização] ajeitava, ele bem varrido, tinha uma cunca – ainda tenho ali a cunca –, e padejava.
INF2 A farinha, conforme Botava farinha dentro da cunca.
sINF1 Padejava a broa [pausa] … Botava farinha dentro da cunca. Depois de padeja- Botava a massa assim dentro, e padejava, fazia a broa. Tinha ali a pá, metia assim pelo ladinho fora, pumba. Pumba, outra broa [pausa] e cozia. Dava duas, três horas [pausa] ao pão, dentro do forno.
INQ2 Duas ou três horas? …
INF1 Duas ou três horas, consoante estivesse quente… Se estivesse muito quente, dava-lhe menos horas. Se estivesse mais mais esperto, menos. Portanto, a gente pela porta… Ap- [vocalização] Encostava assim a mão à padroeira do forno…
INQ2 À?…
INF1 À padoeira, do lado que tem…
INF2 Padieira!
INF1 Padieira. A gente enquanto encostava: "Alto! O forno hoje está bem quente! Quer menos horas"! E pronto! Duas ou três horas ou duas e meia. Portanto, fazia a broa muito boa.
INQ1 Mas quando estava a pôr, a fazer aquelas broinhas, para dar-lhes aquele feitio, dizia que estava a quê, com a cunca?
INF1 A padejar.
INF2 A padejar.
INF1 Sim, que a gente botava dentro da cunca e [vocalização]…
INQ2 Mas se fosse o de centeio, também era padejar?
INF1 Era igual, ele era igual, era igual.
INF2 Igual, igual. Era igual.
INF1 Era, sim senhora.
INQ2 E de trigo? Chegou a cozer de trigo?
INF1 No de trigo nunca cozi. De [vocalização]
INQ2 Nunca cozeu.
INF1 Tenho um meu irmão que vinha aqui de França – que esse era foi padeiro em Lisboa, era o mais novo e foi padeiro em Lisboa – e quando vinha cá no Verão, vinha sempre cozer aqui uma fornada de centeio. Ai, ficava ali um!…
INF2 Trigo!
INF1 Tri- De centeio!
INF2 Trigo!
INF1 De Misturado com centeio!
INF2 Mist- Com centeio, sim senhora.
INF1 Sim. Misturava trigo [adjetivo] com centeio. E fazia ali cada broinha! Também assim broas [pausa] de quatro quilos, três quilos, dois quilos, consoante… Bem, fazia…
INQ1 Aqui, as pessoas, todas as pessoas tinham forno na casa?
INF1 Ti- Tinham, tinham.
INF2 Aqui dantes tinha tudo.
INF1 Tudo, tudo! Antigos tinha tudo pão! Tudo cozia broa, que o trigo, minha senhora, era um trigo que eu… Tenho setenta e quatro anos, nós comíamos um triguinho por, por [vocalização], por, sei lá, por festas.
INF2 Nas feiras.
INF1 Nem na- Às vezes, a minha mãe [vocalização] nem nas feiras me dava. E eu já tinha aqui os meus filhos pequeninos e, às vezes, trazia um trigo – que eram três por dez tostões – e chegava aqui dava um cachinho poucochinho a cada um. Era broa é que a gente fazia!