INF Carvão?
INQ Como é que se fazia?
INF Ah, isso é, isso é é muito complicado, pois, mas eu [vocalização] posso-lhe dizer algumas coisas.
INQ Diga lá. Explique lá como é que era.
INF Quer dizer, primeiramente, a gente, ou que dessem ou que vendessem a, o aí o uma mata ou uma brenha, lhe chamava a gente, como eu ainda comprei uma brenha, uma vez, até mais que uma vez… Comprei ali na frente duas brenhas, assim uns bocados de brenha, comprava [vocalização] um bocado. Também havia brenhas grandes que tinham que tinham muito muita quantidade de cepa. Tinham cepas de daro – chama-lhe a gente daro, uma moita chamam-lhe daro – e e de medronheiros, e tinham aquela cepa por baixo, têm a rama por cima e têm aquela cepa. E então a gente [vocalização] pulávamos-se naquilo, e cortávamos-lhe a rama, e arrancávamos a cepa. E quando era medronheiros, até se [vocalização] arrancava logo com com a rama também, que dava menos trabalho a arrancar. E depois cortava-se a rama, fazia-se traçava-se aquilo tudo muito bem. Daí juntava-se a, a rama as cepas e a e a rama para o pé de assim num, num num lugar que fosse jeitoso para fazer um forno. Tinha que ser em terrenos jeitosos, que se fosse muito chapada também depois era mau de segurar a terra e não não era conveniente. Segurava mais ao pé dum barranco ou [vocalização] num sítio que fosse mais bem situado um bocadinho para fazer. Fazia-se ali um um forno. Quer dizer, o forno, punha-se-o: primeiro assim a área dos malhais por baixo, [pausa] para para se atravessar depois uns uns madeiros…
INQ Rhum-rhum.
INF Se acaso fosse lenha do ar e se fossem cepas, podiam pôr assim: tem aquelas, aquelas a área da, da daquelas pontas das raízes, aquela coisa, ficavam assim um bocadinho mais armados, para não ficar fixo no chão, por causa de o lume entrar por baixo para.
INQ Pois.
INF Senão então afogava por baixo e não o ardia. [vocalização] Fazia-se ali um moitão, chamava-lhe a gente um forno, assim talho dum forno, assim um, assim um, quase quase um talho duma camioneta, alguns eram quase o talho duma camioneta, se [vocalização] assim duma certa dum certo tamanho. E E fulano depois terrava aquilo, com, com uma com um alferce ou com uma enxada e uma pá. Ia terrando. Pr- Primeiro tapavam assim matos muito bem tapadinhos, e depois ia-se fazendo ia-se fazendo uma parede de terra até tapar aquilo tudo. Quer dizer que nessa parede deixava-se logo uns agulheiros por baixo um, uns buracos – chamava-lhe a gente agulheiros –, como uns buracos por baixo para para o fumo sair, para para refolgar, para para arder. E deixava-se cá do lado da porta do forno também uma coisita. E então, pois, deixa- deixava-se uma coisinha para largar lume cá do lado da porta. E depois quando estando a arder, tapava-se tudo. Tapava-se tudo, só ficavam os buracos. Ficavam, Quando Quando aquilo estivesse tu- tudo terradinho, largava-se lume, [pausa] começava a arder e e o fulano depois tinha era que cuidar, de vez em quando, a calcar a calcar a terra para baixo para ela ir para ir aconchegando o carvão para ele não não arder todo. Senão então se arder assim em a volta, que calhasse a fazer… A A terra, às vezes, armava um bocadinho – não é? –, se não fosse ajeitada, chegava a pontos que que ia ardendo por baixo, ardia tudo. Fazia-se tudo em cinza. E assim ia-se sempre acalcando a terra e sempre a ajeitando. E até mesmo o fumo dava sinal: quando quando o fumo começasse a ser assim mais esbranquiçado [pausa] era porque estava a arder mais, m- estava a estragar já, estava a arder tudo. E quando fosse só que ele primeiro que parece que ele que a que o lume que ardia só por fora um bocadinho, e ficava a lenha toda cozida, repassadinha, ficava toda em carvão. E ficava, ficava ali uma grande parte que Parece mentira como é que ela arde assim e fica fica bom. E até, às vezes, um fulano depois de ele [vocalização] cozido, até a gente lida ali com ele até até parece que tine um no outro, ali a.
INQ Rhum-rhum.
INF [vocalização] Quer dizer, quando estando cozido no fim de. Conforme os fornos eram, às vezes, calhava também a arder melhor, mas [vocalização] aquilo a tabela, mais ou menos, era cinco ou seis dias, uma coisa assim, a cozer um forno. Cozia be- Quando estando cozido, o fulano via que ele já deitava pouco fumo e ia conhecendo pelo, pelo pelo terreno que ia abaixando. E o fulano tem tinha já prática daquilo. Quando estando cozido, depois tirava-se a terra de cima para ir arrefecendo mais um bocadito. Quando estando mais frio um bocadinho, uma pessoa pulava-se nele. Ia Ia abrindo nele todo o carvão para o para o lado, ia abrindo nele para o lado, e e depois empoava-se com. Tinha Havia naquela naquela terra mesmo que saía dali, sempre havia um pó mais fino, empoava-se depois o carvão e deixava-se espalhado. Empoava-se. Quando ele estivesse fosse empoado é que deixava-se. Até se varria ele depois com uma [vocalização] com um basculho, com uma vassoura qualquer por cima, para [vocalização] para não deixar buraquinho nenhum, senão então se ficasse qualquer coisinha, se tivesse algum lumezinho, começava a arder. Ardava Ardia mesmo debaixo da terra assim. Ele depois já era bom de arder porque era já em carvão, ardia de qualquer maneira. E então ficava aquilo tudo muito bem tapadinho e de vez em quando observava-se. Quando Quando estando já bem apagado e que estivesse já frio, mais ou menos – às vezes ainda estava quente –, mas, quer dizer, que a gente já pudesse lidar, [pausa] tirava-se todo para fora, punha-se em cordões [vocalização] e escolhia-se, se acaso tinha algumas pedras ou alguma coisa, e ensacava-se. Ensacava-se. Dali [pausa] quando estando em sacas, se não tivessem carregador, carregava-se para carregador. Às vezes nuns barrancos, nuns lugares às vezes manhosos, uma pessoa carregava sacas de… Às vezes tinha que levar as sacas meias e acabá-las de encher lá mas mas já era sempre mais chato, porque o fulano, se o ensacasse ali e depois o enjoinasse – que aquilo era chamava-lhe a gente enjoinar –, fazia aí com uns juncos ou com uma coisa qualquer. Com juncos ou junça ou uma coisa assim é que era muito natural. Fazia assim em ar quase dum chapéu, punha-se ali em cima da saca. E depois passava-se com uns fios ali por cima, aquilo ficava ali atadinho. Ficava ali que podia-se lidar com aquilo, dar ali as voltas que desse, que não caía ali nem um bago. Não era preciso cá atar a saca, senão então levaria pouco mais de meia. Ia Ia ali até até levava um cagulozinho. Às vezes, até levava um cagulozinho, a saca. Pois, aquilo era a peso. Não tinha lá [vocalização] coiso que fosse mais cheia, ou que fosse menos. Mas era para poupar mais sacas para [pausa] para ir mais carvão.
INQ Pois.
INF Às vezes, sacas que pesavam, às vezes, quatro ou cinco arrobas, um homem fraco como eu, ainda carreguei algumas, às vezes uns chapadões que a gente, às vezes, até [vocalização] , às vezes, jogava a mão no chão. Às vezes até de engaitinhas com a saca às costas, lá ia com ela até lá lá onde fosse bom sítio, para, para, para evitar para evitar de estar a carregar em duas vezes.
INQ Pois.
INF [vocalização] Porque sendo para não ser assim, tinha que ser depois enjoinado cá em cima, cá num num sítio bom, e carregar às mãos cheias. Era mais chato! E então, aquesses que podiam com as sacas faziam assim; e aqueles que não podiam tinham que sair ser de qualquer maneira, às mãos cheias.