MTM01

Moita do Martinho, excerto 1

LocalidadeMoita do Martinho (Batalha, Leiria)
AssuntoA vinha e o vinho
Informante(s) Cassiano Cidália

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INQ1 Imagine que eu tinha ali um terreno sem nada e que queria ter vinho depois, ao fim de um ano ou dois. Qual é o trabalho todo que eu tenho fazer até ter vinho?

INF1 Para Até ter o vinho? [vocalização] Primeiro é, sabe, é amanhar a vinha, pôr-lhe

INQ1 Não, mas o terreno não tinha nada ainda.

INF1 Ah, não tinha nada?!

INQ1 Nada.

INF1 Pois. E depois queria passar a vinha, não era?

INQ1 Queria Exacto.

INQ2 Queria plantar vinha.

INF1 Pois. Tem que Tem que ser [vocalização]: o terreno tem que ser cavado bastante fundo, que a vinha nã- convém ficar com o terreno cavado bastante fundo. Agora até máquina; dantes era dantes era era a braços. Era umas brigadas de homens que serviam. Uns ganhavam a jorna, outros iam até emprestados, trocados não é? cavar o terreno destinado para a vinha, mais fundo do que sendo para amanhar outros outras coisas da agrícola. O milho ou a batata não precisava de ser tão fundo. Mas para a vinha é preciso sempre mais fundo.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 E depois plantava-se o bacelo. Depois ao fim de um ano de o bacelo estar plantado, enxertava-se o bacelo. Punha-se-lhe o garfo chamam-lhe eles o garfo, exactamente e depois então desse garfo é que é que se formava a [vocalização] dita parreira, a dita cepa, [pausa] que as uvas então. Depois a partir daí tem que se curar, tem que se andar a tratar, para todas as semanas, uma vez ao menos, tem de se andar a tratar para não lhe dar o míldio chamam eles o míldio que é a moléstia na da vinha. E até, ainda apa- de vez em quando, ainda aparece. Isso estraga muito [vocalização] as uvas. Isso dava um trabalhão assim! Dava e continua a dar ainda.

INQ2 Pois.

INF1 Mas nos outros tempos a calda era feita manualmente; era com com o cobre, chamavam-lhe o [vocalização] sulfato de cobre.

INQ2 Sulfato de cobre.

INF1 Sulfato de cobre. Depois temperado com a com a calda, [vocalização] ou com cal mesmo, com cal virgem, que não se podia realmente, nem nem dar uma percentagem maior que, que o que o devido [pausa] de cal, nem também ficar p-, o sulfato. Tinha-se que pôr aquilo dentro com uma certa medida. E depois era era temperado com um papelinho, um papelinho pequenino, que era branco, e depois de se acravar, ia-se acravando na na calda até começar a mudar de cor.

INQ2 Assim, que eu depois começa-se-me a arrefecer esta mão.

INF1 Depois de estar a mudar

INQ2 Ai, que Estou com esta mão aqui esticada, fico com a mão gelada.

INF1 E [vocalização] E depois é que se via que estava boa para isso.

INF2 Aqui faz faz muito frio também nesta casa.

INQ2 Deixe estar, deixe estar.

INF1 E depois tratavam-se assim as vinhas até chegar à altura da vindima. Na altura da vindima, vindimam-se as uvas. Depois, e- [vocalização] ago- ainda agora mesmo é o caso ainda aqui nas nossas aldeias , ainda é pisada a pés, as uvas, dentro duma dorna ou dum lagar. Agora é mais lagares, mas noutros tempos era mesmo dentro da dorna [pausa] dentro dum dum lagar, do lagar de de vinhos. E depois dali então é que era é que era transportado para as para as vasilhas, e e fervia o mostro. E depois então é que passado uns uns dois meses ou quê, está o vinho feito está o dito vinho.


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