INF E assim E assim com a gente, como está habituada… Já aqui trabalha para aí há perto de vinte anos – há mais de quinze já, perto de vinte anos –, pois conversa tudo, com a minha mulher pelo menos. Ela comigo envergonha-se um bocadito, não, não foge assim mais. Só me Só me responde àquilo que lhe eu perguntar. Mas, às vezes, [vocalização] só oiço… A minha mulher pode estar a falar com ela, ela vai respondendo. A gente tem assim uma certa dificuldade, às vezes, para a perceber em certas palavras, porque ela enquanto não [vocalização]… Como não ouve, [pausa] claro, é um falar assim um pouco disfarçado. Mas como ela quando apanhou a doença, [vocalização] a tal meningite, já andava na escola e já falava bem, perfeitinho,
INQ Falava bem?
INF nunca perdeu aquele aquele tom de fala.
INQ Mas ela falava antes, portanto?
INF Sim, falava, falava. Andava na escola e era uma boa aluna e isso tudo, foi pena apanhar aquilo. Segundo dizem, foi foi mal curada, pronto! Que dizem até que foi uma f- [vocalização] uma fraca assistência que ela teve, do lado dos pais. Porque ela havia de ter com o sa-… Tinha o saco de gelo na cabeça, e já se sabe, ela meia volta tombava o saco e os pais então estavam a dormir e não iam lá ver; quando iam ver, aquilo já estava… Passavam-se muitas horas e devia estar sempre com aquele gelo, assim é que eu ouvia – não é? – na altura.
INQ Pois.
INF De qualquer das maneiras, ficou com aquele rasto. Às vezes há sempre um rasto [pausa] ligeiro, mas aquele foi foi realmente… Pronto!
INQ Pois é.
INF É aquilo. Ela nunca pode pedir um emprego em lado nenhum.
INQ Pois é, coitadita.
INF Nós têmo-la aí assim só por isso, que isso dá… Nós já não trabalhávamos, se não fosse isso. Só se fosse a minha mulher para se entreter, até para fazer coisices cá para a família ou quê.
INQ Pois, pois.
INF Mas como aí a temos, a mulher, às vezes, faz lá qualquer coisita ao pé dela.
INQ Pois.
INF Só para não dizer… Pronto, porque se a gente a não empregar, se ainda não lhe co-, não lhe co- não for continuando a dar-lhe o emprego, [pausa] ela não não ganha, nem vai pedir nada.
INQ Pois, pois.
INF Porque quem é quem é que quer isso?… Quem é que a quer numa fábrica, mesmo fábricas grandes onde toda a gente está empregada, mas eles não querem lá andar-lhe a bater assim no ombro e estar-lhe a explicar: "Vai fazer isto! Vai fazer aquilo"!, não é?
INQ Pois, pois.
INF Portanto…
INQ Pois é. Coitadita, é pena!
INF Enquanto o pai e a mãe for vivo, ainda a coisa ainda vai bem. Agora depois?! Logo é ela e outra irmã. A outra irmã essa fala, mas, pronto, é assim um bocadito mental, é assim fraquita de… Olhe, nunca aprendeu nada na na escola, nem coisa.