INQ1 Conte lá.
INF1 Um senhor ali de C- que é ali de Alcaravela – ele até foi para a América, um engenheiro. Era o senhor engenheiro Haroldo. Eu andava com um rancho de a limpar oliveiras e andávamos a cortar [pausa] oliveiras. E diz ele assim para… [vocalização] Ele Ele não me diziam nada. Eu fui sempre muito intrometido e venho por aí acima. Estava ele Estava o feitor e estava o patrão e estava ele. E depois [vocalização] disse para o meu patrão: "Ó senhor Halpagão, dava-me licença que fizesse aqui uma procura ao senhor engenheiro"? "Ora essa"! É claro, ele chegou-se logo ao pé de mim. Claro, os engenheiros, é assim. É como as meninas são. [pausa] Exactamente, que é p-, naturalmente, para o que andam a estudar. É para isso. Gostam de saber e gostam… A puxar, a puxar. [vocalização] Eu já notei. É exactamente. [pausa] É como são as meninas. É. São meio a puxar para isso. De maneira que chego ao pé dele e depois: "O senhor fazia favor [vocalização] dizia-me aqui uma árvore qualquer"… Os homens vinham em baixo, a cortar e a arranjar, e tal. "E dizia-me aqui uma árvore qualquer para eu dizer qual é que era a poda que ela precisa. E depois o senhor via [pausa] se estou a falar bem ou se estou a falar mal, que é para me eu orientar, senão não me sei orientar. [pausa] Para me eu orientar". Ele chega- chegou ao pé de nós: "Olhe, fazia favor via esta". E eu vou-lhe ensinar uma prosa porque se as senhoras… Tenho a certeza que as s- que as meninas que andam a estudar para isso. E é para que amanhã ou outro dia, não venha algum que lhe queira tapar os olhos e vossemecês abrem-nos.
INQ2 Ora bem.
INF Com duas palavras.
INQ2 Ora bem.
INF Vocês depois dizem duas palavras que eu vou a acabar a minha conversa, e depois já eles abrem os olhos. E é claro, os o senhor engenheiro chegou ao pé, – naquele tempo ainda era rapazes novos, e tal – ele disse: "Olhe, corte por ali; corte por além; corte por além, e tal, acho que fica bem". E depois, é claro, eu disse-lhe… E depois digo-lhe eu assim: "O sobreiro"… Ou, o sobreiro!?… A oliveira tinha duas duas posições. Tinha um arco colocado por baixo com as pernadas, mas tinha uma pernada no meio – chama-lhe a gente um plantão – assim no meio, que fazia outro ar. Está a perceber? Mas a oliveira estava cansada, estava ruim. Estava cheia de musgos, estava toda cansada e tudo. E digo eu assim para ele… Assim, digo eu para ele: " Ah, pois. Está bem. O senhor engenheiro diz muito bem. Mas venha cá aqui deste lado". Ele voltou-se para o outro lado, e tudo. "Então agora aquela pernada que está acolá"? "Então fica armada em cima e fica armada em baixo". "A oliveira não goza, não se lhe tira madeira. Não renova! Não se tira madeira, ela não não goza". "Pois é". Ele depois já no fim: "Pois é. Há esses problemas. Há esses problemas que aparecem".
INF2
INF1 Se alguma vez suceder alguma coisa, t– tem que se cortar aquele aquele plantão.
INF2 Em baixo e em cima.
INF1 Para fora, tira-se; atrasa-se mais qualquer das outras e ela renovou e limpou. E eu vinha para diante, ele não me disse mais nada, vinha a andar por por o arneiro adiante, e tudo. E era até terra de campo. Era terra terra boa! Que elas melhoravam em em poucos anos. Claro que a gente vai ao pé de uma árvore mas tem que olhar para o chão e tem que olhar para cima. Tem que ver se o chão tem tem alimento, se tem sustan-, sus- sustento. É claro, se a gente vai cortar, mas se não têm alimento, até propriamente secam. Porque não têm força! Não têm força e com uma data de golpes!… Os golpes é [vocalização]: pelo menos para passar o Inverno, dar golpes assim, por exemplo, numa árvore, é o m- é o diabo! E depois o [vocalização] gelo cai de cima em cima, e queima, e areja a a pernada como.
INQ1 Pois.
INF1 Nos sobreiros, eu andei andei, andei na casa de na casa Sommer. Andei na casa Sommer também a governar, até acolá quase ao pé de Espanha, um sítio chamado a Coutada dos barcos Arcos, por cima de, de de Assumar, nessa nessa direcção.
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 Aí em cima. Por causa que coiso e E a gente até lá trazíamos uma uma calda que se deitava – que eu não me recordo agora o nome disto – para para tapar os no- os golpes grandes para o gelo não queimar. Bom, viemos embora para baixo. Então vou vou acabar de contar o papel da da oliveira. Mas eu não estava bem, então ele não me disse mais nada, nem coisa nenhuma, nem se estava bem, e eu volto para cima outra vez e digo assim: "Ó senhor engenheiro, eu peço-lhe desculpa, mas tenha paciência, eu não estou bem, eu tenho que dizer o que sinto. Não vou bem, doutor. É porque ninguém tenha na ideia que é um bom agricultor, porque não é"! E as meninas estão estão capazes de estar a parecer mal também?!
INQ2 Não senhora.
INQ1 Não senhora.
INF1 Está-lhe a parecer mal. Não é. "A gente não, ninguém é A gente ninguém é bom agricultor". Di- Diz ele para mim: "Ó senhor Guilherme, não me diga uma coisa dessas, porque eu tenho tirado boas provas, tenho feito bom serviço, e tudo, e tenho ficado sempre bem, e o senhor agora está dizendo que não há não há nenhum agricultor "?! " Tenha paciência! Não há. Não há nenhum agricultor". É claro, ele ficou assim modo surpreendido a olhar para mim, começou a olhar assim: "Pois, pois claro"… Chega-se ao pé do meu patrão, vai ele assim: "Ó senhor doutor, tenha paciência. Eu vou aqui falar com o senhor Guilherme". Puxou-me assim à banda, disse ele: "Agora há-de-me aqui explicar e dizer porque é que o senhor disse que não há nenhum agricultor. Então a gente paga a nossa prova, a gente tira-se bem, temos o nosso , temos todos então e não e não somos? Não pode ser!" "Tenha paciência! Tenho que lhe dizer. Olhe, o senhor [vocalização] engenheiro, ve- veja uma coisa. Está aqui esta tapada de oliveiras; o senhor, amanhã… Eu sou encarregado deste pessoal. Amanhã você: você vá para tal banda limpar aquelas oliveiras. Mas olhe que elas precisam de ser cortadas. Precisam de ser cortadas. E é claro, eu vou. Mas chego cá, não vou cortar todas".
INQ2 Pois não.
INF1 É tarde.
INQ2 Não, não. Estava a ver se estava bem.
INF1 Está a apanhar?
INQ2 Se estava a apanhar bem.
INF1 Eu sei. Digo [vocalização] "Esse senhor chega aí e manda-me cortar. Eu chego lá, não vou fazer o que o senhor manda. O senhor é o engenheiro, é que mandou, mandou-me cortar as oliveiras mas eu não as vou cortar todas. Porque eu chego ao pé de uma oliveira e vejo: estás cansada, és cortada, [pausa] para renovares, para te fazeres boa, para depois dar produto outra vez para o para o lavrador. Chego ao pé daquela, não precisa de ser cortada". Precisa de ser espontada, quer dizer, ficar a meia rama. Quer dizer, tirar aqueles vergueiros que estão dentro – que chama-lhe a gente uns ladrões –,
INQ1 Rhum-rhum.
INF1 aqueles vergueiros, tirar aqueles vergueiros todos que estão dentro e, é claro, armá-la, e procurar aquela rama, principal, a rama em volta, naquelas rebaixadas, naquelas coisas todas e aproveitar aquilo tudo, [pausa] a essa que já não é cortada. À outra, que foi cortada há dois ou três anos – por exemplo, dois anos, que é o que, mais ou menos, se regula,
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 é cortada dentro de dois anos, mas precisa de ser… Aqueles arrebentões todos que estão na, na, nas nas primeiras pernadas ou na ou nas segundas, ou nas terci- nas terceiras – sim, conforme é [vocalização] é a colocação da árvore – tem que tem que ser aquilo desbastado. Quer dizer, tem que se deixar os arrebentos próprios que sejam para para se procurar uma pernada amanhã ou outro dia.
INQ2 Rhum-rhum.
INF1 É assim. Claro, tem que se perguntar e desbastar. Não convém aquele vergueiros lá dentro. Aquilo é uns ladrões a roubar a oliveira. E tem que se desbastar. Portanto, há oliveiras para podar e não há podador de oliveiras. Percebem a diferença? Há oliveiras para podar mas não há podador. Elas é que sabem aquilo que precisam e é isso que a gente tem que fazer. Propriamente o lavrador precisa de azeitonas todos os anos. Não é só agora este ano e daqui a cinco anos não dão mais.
INQ2 Pois.
INF1 Não! Assim não interessa!