INQ1 Mas o senhor não estudou? Não? Trabalhou com eles, mas não, nunca estudou?
INF1 Não estudei. Não estudei. Estudei só a minha ideia.
INQ2 Pois.
INF1 Sim, estudei só… Fiz Fiz só memórias cá na minha ideia, só, pronto, era só, quer dizer…
INQ1 Nunca estudou nada, nada, nada?
INF1 Nada. Nunca estudei nada. O que fixei foi sempre coisas, enfim, via é que via que fazia bem e fazia uma prova disto ou daquilo. E depois via se dava resultado, se não dava. Não dava resultado, punha de lado, seguia a outra que dava resultado.
INQ1 Pois.
INF1 E tomava nota naquilo, por exemplo, que qualquer das três meninas que estão aí agora que me dizem, ou qualquer coisa, eu sou amanhã capaz de começar a pensar, ou até de noite: "E a fulana disse isto, disse aquilo. Eh pá, é verdade"! É assim, mas vamos por aqui, talvez seja bom. É claro, é assim a vida.
INQ1 Ai, isso é mesmo assim.
INF1 Andei aqui com uma brigada de homens, aqui em cima, e com uns senhores engenheiros – até havi- eram ali do Rossio. Alguns já estão reformados até. Andei ali em cima n-, n- na brigada. Ora eles, and- é claro, andavam lá. Eles chegavam ao pé de mim: "Ó senhor Guilherme, deixe-me lá agora"… Os homens andavam a dois a dois, nas oliveiras. "Deixe-me lá agora fazer aqui uma coisa". Iam para o pé da duma oliveira, mandavam cortar por aqui e por além. Mas olhe que eu achava de mais, pelo menos ali num sítio onde chamam a carreira, a gente chama aquilo ali uma carreira de oliveiras. E eu andava lá até quase a acabar. E ele chegou lá e começou a : "Ó senhor Guilherme, deixe-me cá agora encaminhar esta brigada". Ele e depois ele estava ali a dizer para cortar: "Corte, corte mais a esta", "Se fosse a si, cortava mais aquela", "Corta mais ao outro, mais ao outro" e deixava-me só os paus próprios dentro da oliveira, que faziam mal, que não deviam de ir lá ficar. Que é o é uns ladrões completamente para cansar a árvore. É que cansa mesmo a árvore. Acabar tudo. Eh! Aquilo não me estava a calhar bem . O patrão no outro dia chega ao pé de mim: "Olhe cá, esteve cá o engenheiro"? "Esteve, esteve. Esteve cá o engenheiro". Depois ele: "Olhe, mas então onde é que ele andou"? "Olhe, em tal banda. Andou em tal banda assim, assim, mas o serviço não ficou nada bom". "Não ficou"? "Pois não". Como eu estive ali um bocadito calado, diz ele para mim: "Amanhã vai lá abaixo com uma caldeira com cal e marca as oliveiras que você diz que ele que marcou". Digo-lhe assim: "Está bem. Vou logo que o senhor doutor mandar, mas quase que não é preciso". "Onde é que é"? "É em tal banda assim, assim. O senhor logo vê as oliveiras. Elas estão lá, aquilo até me parece quase as bandeirolas que está quando é nas festas, nos coretos das músicas, aquilo só no ar aquilo parece bastante". O homem não vinha bom! Era um, era um Era doutor mas não era engenheiro. Era, era, era um
INF2 Tem um nome, às vezes.
INF1 Era um chamado que era ali do coiso. Bom, andou a est- a estudar mas não acabou o exame, não acabou o coiso curso. E aquele, ele com certeza – peço desculpa –, mas ele com certeza que devia tinha acabado de almoçar há pouco tempo quando ele lá chegou. E teve E foi o que eu notei: "Aquilo acabou de almoçar e depois veio para aqui fazer isto". Já se sabe o que é. Depois Depois ele vinha para cima, eu andava com os homens até acolá lá à borda da estrada.