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Montalvo, excerto 11

LocalidadeMontalvo (Constância, Santarém)
AssuntoA agricultura
Informante(s) Guilherme Guliver

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INF1 Vinha esta coisa, por exemplo, do, do do milho: era semeado o milho era semeado a lanço. Andavam os bois [pausa] a lavrar, e tudo, e depois, é claro, ia o abegão, espalhava o milho a lanço, tudo para fora; e depois ia [vocalização] a gente com as grades que chamam-lhe uma grade, que é uma parte com uns bicos, e tal é gradar e enterrar o milho. Quando era principal no nateiro, principal no nateiro, quando era ao fim de vinte dias, se podia sachar. Mas aquilo depois era dividido em em chama-lhe a gente searas, em terras. Ia, por exemplo, o guarda da casa que estava na casa ia dividir aquilo com umas canas. Marcava aqui e além, media a passos pela seara

INQ1 Ah!

INF1 Eu amanhava uma, a s- a menina amanhava outra, aquela amanhava outra, amanhava outra, cada qual amanhava a sua e arranjava a sua.

INQ1 Ah!

INF1 Está a perceber?

INQ1 Sim, sim.

INF1 Antigamente era assim: cada qual tratava da sua. [vocalização] O milho, quando era de com a acabado de sachar a gente íamos chamava-lhe a gente sachar , era de Boa tarde, menina.

INF2 Boa tarde.

INQ1 Boa tarde.

INF1 Era sachar. Claro, íamos dividir Aquilo deve ter, deve ficar com com um palmo ou ou quase dois palmos dividido um do outro. Claro, o milho estava espalhado num monte. A gente mesmo com a enxada propriamente cortava e sabia aquilo que havia de deixar.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Sim, sabia aquilo que havia de deixar, cortar. Deixava. Que vinha depois outra altura quando ele começava a querer desembandeirar, quer dizer, deitar a bandeira e a deitar a [vocalização] espiga o, a aquela barbazita, havia ordem, a gente sabia, íamos amotar chama a gente amotar , amotar mais alguma erva que estava por dentro.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Íamos por dentro do milho, isso era apanhar era apanhar barrigadas de suor dentro e e de orvalhadelas de manhã dentro do milho. Que o milho [pausa] alto e a gente dentro, era era de matar! Que a gente

INQ1 Era, era apanhar aquelas ervas que não?

INF1 Quer dizer, com a enxada. Mas era E aldrabar. E às vezes a passar por aqui e por além, a fazer poeira. Era poeira por toda a volta, ora veja .

INF2 Às vezes, até se perdiam uns dos outros, [pausa] dentro do milho.

INF1 Pois. De maneira que o v- o milho era assim criado. Depois é claro, vinha o tempo de, estava criado, estava com a espiga por baixo, e tudo, o guarda vinha dar ordem aos donos das searas: "Vai despontar"! Despontar era tirar a bandeira.

INQ1 Rhum-rhum.

INQ2 Ah!

INF1 Está a perceber? Tirar a bandeira logo rente ali à espiga. Tiravam a bandeira, deitavam para o chão. E depois esse resto, tirar a bandeira, era com o lavrador. Depois ia então o pessoal do do lavrador. Por exemplos, os homens e as mulheres, íamos atar o pasto, quando ele estava seco, [pausa] atar o pasto.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Íamos atar, tirar para fora do, do do milho, e depois vinha os carreiros carregar e tudo, levar para o para a quinta, e depois ser empalheirado. Quer dizer, empalheirado, metido dentro da das casas, das cabanas, dentro daquelas coisas, porque é para depois se dar ao aos animais para comer, para dar. Essa é uma. Essa acabou. Morreu. Comeram-no todo. E depois o milho, quando estava capaz de apanhar, havia ordem. Vinha o guarda dar as ordens: "Fulano, fulano, fulano, tal dia vão apanhar a seara. Apanhar a seara". A gente depois tínhamos [vocalização] juntava-se. Por exemplo, eu juntava-me com família de casa daqui dessa, ou daquela e daquela. Quer dizer, eu ia a minha mulher ia ajudar a elas e elas vinham-nos ajudar a nós. apareciam quando era preciso. Também tinham seara e juntavam-se assim. E depois ia-se apanhar o milho. Íamos de madrugada, de noite, apanhar o milho. Ia o homem, ou um rapaz, para acartar aquilo às costas com um cesto para um monte; depois vinha vinham os carreiros com os carros, com as caixas, carregava-se, ia para a eira. Chegava-se à eira, punha-se no nosso monte. Ele chegava , perguntava ao abegão que estava na eira: "Qual é a minha seara"? "É aquela". A apanhar, toca de desencamisar. [pausa] Ruído de motas

INQ1 Estas motas aqui é que

INF1 Desencamisar. [pausa] Desencamisar, da- deitavam-se para o coiso. Fazia-se, é claro, ali um eirado de milho ali assim. Desencamisava-se e tudo. Ficava por nossa conta. Quando ele estava seco, dizia o bandeiro assim: "Ó fulano, tal dia podes vir malhar a seara". A gente íamos para , é claro, tinha quem me ajudasse a mim, que eu também ia ajudar os outros. Noites inteiras, andar até às duas horas de noite a malhar, à porrada ao chão! Chamava a gente umas moeiras, que era um pau assim comprido com uma coisa na ponta. Não sei se se lembram disso?

INQ1 Sim, sim, sim.

INF2 Ainda tenho a minha.

INQ1

INF2 Uma moeira, que é uns bocados de correia e tal, arranjado.

INQ2 Gostávamos de ver.

INF1 É claro. Um pau assim na na ponta pendurado. Chama Chamava-lhe a gente um pírtigo. E é E a hástea. Era a hástea e o pírtigo. De maneira que toca de porrada. Por exemplo, andávamos quatro homens nesta banda, outros quatro daquele lado. Andava as nossas mulheres, ou alguém que a gente tinha que ajudasse, com uns candeeiros que nem havia luz, nem nada , com uns candeeiros de lado, para alumiar, para a gente ver onde é que andava a bater, à porrada ao chão. Claro. Dava-se-lhe a primeira corrida, depois ia-se buscar as ferramentas da eira, os ancinhos; puxava-se aquilo para fora, tirava-se-lhe o milho de baixo para um lado para um monte; depois ia-se remalhar aquilo outra vez. Porque ainda ficava muita espiga partida ao meio, com milho. Tornava-se a malhar outra vez, a dar porrada até ficar. E depois tirava-se outra vez para fora. E depois estava a gente chamava-lhe a gente os casuis, que é aquele casul que está dentro da, da, da do milho.

INQ1 Rhum-rhum.

INF1 Que está muito certo. Tirava-se aquilo para fora. Acartava-se para um cesto, para um monte, para para e depois [pausa] fazer estrume, qualquer coisa. [pausa] O milho espalhava-se [pausa] tudo, à tarde ia-se juntar e íamos limpá-lo com umas pás. Toca de limparem para o vento, tudo. E a mulher, a mulher ou um outro colega assim com uma com uma vassoura, chamava-lhe a gente a conhar, a apanhar aquele casulito por cima, para o lado, para depois passar com o crivo, tudo. E depois vinha o abegão, media e a gente vinha. Mas sabe, eram nove alqueires para o patrão e um para a gente, no campo, de milho da eira.

INQ1 Veja .

INF1 E o que a gente trabalhava! E o que se fazia! Está a ver a menina [vocalização] o princípio desta desta vida, o que o que a gente fazia, tudo. Hoje

INQ1 E os senhores tanto trabalhavam e tinham um alqueire.

INF1 Pois. [vocalização] Hoje não sucede isso.

INQ2 Pois.

INF1 Hoje não é. vão debulhar no campo, vai tudo. não não aproveitam o pasto, não aproveitam nada. É É conforme está na bandeira e tudo, cai aquela moinha toda para o chão, e tudo. E antigamente era feito assim. Mas hoje, se fosse assim, não havia gente para isso.


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