INF Ah menina, menina! Veio morrer aqui a esta terra má! Risos
INQ1 Isto não morre assim!
INF Nem a Nem a terra a come!
INQ2 Ah que horror! Risos
INF Você Você é mesmo de Lisboa?
INQ3 Sou.
INF [vocalização] Lá em Odivelas, eu ia lá muita vez visitar o cemitério. Aquilo é um é uma largura enorme, o cemitério.
INQ1 É muito grande, há muita gente, também…
INF Muito grande. Muita gente.
INQ3 Há muita gente.
INF É lá em cima na chã. Era cá em baixo, mas esse cá em baixo parou. Esse cá em baixo era pequenito – quando aquilo era pequeno, quando era Odivelas velha, que Odivelas velha fica desde o rio para aquele lado… Agora é lá tudo em cima, lá na chã. É tudo lá em cima. Mas aquilo é horror em ver! Estão Está lá homens sempre empregados! Fui lá uma vez… Eles, quando têm um certo tempo, vão tirar as pessoas da da sepultura porque, claro, tem que ser mesmo nas terras grandes.
INQ1 Claro. Pois.
INF Aqui a gente não.
INQ1 Ai não? Ficam? Ficam?
INF A gente compra a sepultura. Eu, por acaso, tenho a sepultura da minha mulher comprada. Mas já foi comprada para um irmão meu. E já lá está o meu pai. E agora está lá a minha mulher. Se Deus Nosso Senhor quiser – ou amanhã, ou quando calhar, quando Deus quiser –, também para lá vou. Ela já morreu há sete anos, já faz agora para o dia 8 de Agosto sete anos que ela me morreu. De maneira que lá eu vim e estavam… Eles depois avisam as pessoas, as donas daquelas sepulturas que compraram. Mandam telegramas para a casa, para as pessoas e avisam para ir: "Tal dia, às tantas horas, apareça porque vai-se tirar os ossos" e tudo. Que aquilo é interessante! Tudo comido, o osso inteirinho, no fundo da cova, tudo. Havia Andavam pessoas lá por lá. Estavam lá duas miúdas, uma solteira e [vocalização] e uma casada, juntamente com o marido. Eh pá, a miúda chorava por chorar! Viu [vocalização] os os ossos do pai no fundo da cova, mas com a cabeça tombada à banda. [pausa] Pôs-se-lhe na ideia que o pai que tinha ido vivo, morto, que tinha ido vivo para a cova e que acabou de morrer no fim de estar tapado, de estar fechado. E o coveiro a dizer para eles: "Ó menina, não se não se preocupe por isso. Não é"…
INQ1 Assim, notava-se se tinha a boca aberta…
INF "É a gente, quando é a arrear quando é a arrear para baixo, quando é a arrear, a voltar aí os [vocalização] os caixões, quando é a arrear para baixo, e tudo, é claro, sempre aquilo desanda para um lado e para o outro. O corpo lá dentro torce. Vira-se para uma banda ou vira-se para a outra. E é assim é que foi o seu pai". E depois até a outra irmã mais velha, disse assim: "Ó senhor, para ver se cala a minha irmã, veja lá aí na perna direita, ele há-de ter aí uns ferros, que ele partiu uma perna e ele nunca m-, nunca t- nunca tirou os ferros". Assim [vocalização] as talas que, quando, quando quando partem uma perna, ou um pé, ou qualquer coisa assim. E o homem foi lá ver, realmente lá estava.
INQ1 Rhum.
INF Aquilo depois é metido dentro dumas urnas pequenas e vai para as gavetas. [pausa] Porque o cemitério lá tem tudo cheio de gavetas e vai vai tudo para as gavetas.
INQ2 Pois, umas gavetas.
INF Ali depois é que fica. E tudo. Também lá há, para esta gente mais, da maior lá da mais alta, que [vocalização] está os caixões inteiros. Também há aquelas coisas. Em [nome próprio] também lá havia. Também lá havia.
INQ1 Os jazigos.