INF Às ve-, até [pausa] quase que me incomoda de, às vezes, eles [vocalização], às vezes, dizerem coisas… Principalmente Principalmente esses [pausa] que mais têm estudado [pausa] são o- os que mais asneiras dizem. E eu aproveito mais depressa. É assim como eu, suponhamos assim: eu [pausa] não sei ler, [vocalização] não posso [pausa] proferir uma palavra com as letras [pausa] todas, com as letras naturais, como um que ande na escola e que lê o jornal e que lê isto e que lê aquilo e que [pausa] não erra. Dizem as palavras, muitas vezes, com as letras todas. E eu [pausa] posso dizer as palavras com falta de uma letra [pausa] ou com uma a a mais, também. Mas, se as pessoas que me compreendem, [pausa] podem dizer: "Não" – eu proferi esta palavra, a palavra não é assim – "mas ele não sabe ler, pois ele é [pausa] anda convivido com o pessoal igual a ele, aí no campo, nesses meiozinhos pequeninos, portanto, não é asneira o que ele diz".
INQ1 Mas é que é isso mesmo.
INQ2 É isso mesmo que o senhor está a dizer.
INF Porque Pois é claro. Agora, aquele [pausa] que sabe ler [pausa] e [vocalização] que estuda e que tem a mania [pausa] de querer saber [pausa] falar… E, então, há uma moda [pausa] de falar, como agora nestes últimos anos; eu tenho conhecido, já, modas [pausa] no falar. [vocalização] Quer dizer o seguinte: vem uma moda – não sei se me estão a compreender bem aquilo que eu quero dizer – vem uma moda de citar umas certas palavras que não se citava noutro tempo e que não existiam essas palavras. E agora, fazem uso daquela palavra. E depois, em vin- em um começando [pausa] com com aquela palavra, todos vão empregar aquela palavra aonde é que não faz sentido, aonde é que não tem lugar. Diga-me a mim, aquelas palavras [vocalização], aplica-se
INQ2 O senhor, o senhor é muito atento a ver as coisas.
INF aplica-se essa essa palavra [pausa] no lugar preciso, aonde é que [pausa] se deve de empregar. Mas não. Por qualquer coisa, empregam aquela palavra, que nem não, nem não, nem não não nem é própria. Mas, por moda, por moda, empregam aquela palavra. E eu, é claro, e eu, às vezes, mesmo na televisão, às vezes, começam aí eles a falar, a falar e eu, aqui, a- a ver se aproveito aquilo. E, à vez às vezes, já tem aparecido [pausa] homens assim a falar; dizem para ali asneiras que não sei de aonde é que vem tanta asneira! E depois, e E depois, digo eu, eu, [vocalização] às vezes, fazendo assim uma conversinha e dizem eles: "Não, pois aqueles homens que que falam e que não se percebe, [vocalização] só aqueles homens é que sabem falar". "Ah, sabem falar e dizem aquilo que não se percebe"? "Não, e- só que eles é que se percebem. Agora, a gente não os percebe". Não, pois o homem, desde que saiba falar, fala para que todos o percebem.
INQ1 Claro. Senão não vale a pena a gente estar ali a ver a televisão, eles a falarem para a gente, não é?!
INF Rhum-rhum. E de maneira que, às vezes – lá, lá longe – aparece um [pausa] a falar natural, como fa- apareceu, aqui há anos, um fulano, Armelindo não sei o quê e falava natural, na televisão. E ele assim: "Ah, aquele fulano é aquele fulano é bruto"! "Então porquê, homem? Então o homem não está a falar bem"? "Não, pois então o homem está a falar para toda a gente perceber! Está a falar para toda a gente perceber, é bruto! Agora, aquele aquele que fala que não se percebe, esse é que é um homem inteligente"! "Ah, bom! Então o homem não está a falar bem? Então, já não os percebo eu [vocalização] é a vocês. Então, se [pausa] dizem que aquele [pausa] que fala [pausa] que não se percebe que é esse que sabe falar e agora aquele que está a falar bem, natural, para toda a gente perceber, dizem que fala bem também. Então, não sei. Não sei qual é que fala bem".