INF1 Esteve lá cinco anos. E quando veio, ainda era por lhe eu [pausa] dizer que que estava mortinha cá por ele, eu e as minhas filhas. Ou mais, senão, ainda até o lá tinham mais tempo. E o senhor que olhava por ele [pausa] até já morreu. Ainda morreu primeiro do que o ao meu marido. Chamava-se Era o enfermeiro…
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INF1 Era. [pausa] Mas nem sei já como era que se ele lhe chamava. Era. Era. E é assim. Ele lá esteve, depois cá se veio embora. Ainda andou [pausa] para aí um ano ou dois, na freguesia. Foi dizer aos fregueses, a Pinhão Cele [pausa] e à Torre – que tinha os fregueses naquelas povoações lá em cima –, se eles [pausa] que só podia carregar [pausa] um alqueire, [pausa] debaixo do braço. Que não podia levar sacas grandes, de cinquenta quilos, que era que se traziam. "Olhe, eu agora só posso levar um alqueire que chegue a dois, assim de- debaixo do braço". Agarrava-lhes debaixo do braço. E os fregueses fizeram-lhe isso tudo. "Levar, até te o lá levávamos num num carro, [pausa] ao moinho, se o moesses lá". E tudo. Gostavam todos dele, muito, muito, muito! Pinhão Cele, carago, quem falar no Ademar, Ademar Moleiro! Ademar Adeodato era como ele era. Mas era moleiro, sempre moleiro, nunca teve outra arte. Nunca teve outra arte. E é assim. Tudo teve pena dele, tudo o vinha cá ver, a casa. Mas lá morreu. Oh, mas depois, depois ainda andou assim no Verão [pausa] – quase um Verão ou dois – mas depois deu-lhe uma trombose, foi para o moinho. Eu já ia com a mandar um homem lá a procurá-lo, [vocalização] à noite, e ele não vinha, e [vocalização] e tinha-lhe dado [vocalização] aquela trombose na cabeça e não me disse nada – até lhe deu lá em Pinhão Cele. E ficou-se assim meio tal, e chegou, ainda [vocalização] ainda comeu, ainda jantou, [pausa] e foi para o moinho. À noite não vinha. Quando veio, não falava. Não dizia nada. Só nhunhunhu, nhunhunhu. "Ó homem, tu como vens?" "Olha, deu-me isto. Já me deu de manhã em Pinhão Cele, nem te disse nada". Não falou. Pus-lhe o comer e ele comeu e [pausa] foi-se embora. Vinha só: nhunhunhunhu. "E [vocalização] deu-me isto. Agora, olha, não queiras as partilhas" – tínhamos partido [pausa] com os meus irmãos umas leirinhas que a gente para aí tinha – "e não não assines". Ele só queria o moinho. E foi com a paixão disso que lhe deu. Olhe que é u- é uma coisa a gente ter uma paixão [pausa] por uma coisa, [pausa] e não e não a aguentar. Ele queria o moinho. E aqui a minha família – uma era esta irmã, foi esta irmã e a que está em Justes que não lhe deixaram o moinho. E ele com aquela paixão [pausa] foi-se embora. Estavam a partir e [vocalização] e ele queria o que lhe deixasse deixassem o moinho. Porque to- Estava assim doentinho; e no moinho ia ganhando o pãozinho, não era? Para ele e para mim. Os filhos já estavam por lá, a governar-se. Mas, para nós, outra coisa não fazia, e eles não lho deixaram. [pausa] Não lhe deixaram o moinho. E ele com essa paixão, pôs-se a cavalo no burro e foi-se embora para o moinho. Quando veio à noite, veio assim. De- Deu-lhe aquilo. Foi de se aborrecer. Eu ainda disse: "Se eu soubesse que o meu marido lhe deu aquilo [pausa] por ele por via deles re- remocar com ele e não lhe deixar as partilhas à à vontade que ele queria, que até ficava de prejuízo, eu nunca mais falava para eles". Mas o meu filho, coitadito – que está ainda esteve agora aí, esteve agora cá, no Natal. Até antes. Veio cá no Natal e veio cá no Entrudo e veio cá agora na Páscoa. Ele está em Valadares. Oh, está em Valadares, também só digo maluquices. Não está em Valadares, está no, no [pausa] está no Porto. Não é bem no Porto, é depois, é noutro lugar em deslado, mas tanto faz. E E vai-se a ver, pronto, foi assim. Ah, mas já não sei o que estava a dizer –
INQ Disse que foi o seu filho que não…
INF ah, pois, o meu filho. Eu, eu queria ficar zangada com eles, ao menos uma temporada, mas o meu filho disse-me assim: "Ó mãe, a senhora tem que ficar contente com todos. Não se pode aí ficar raivoso. Deixe lá. Nós ficamos com a casa – que é esta casa, tenho lá em baixo outra –, nós ficamos com a casa e eles ficam com o resto das terras". Olhe que eu não fiquei nem com uma hortinha onde plantar uma couve. Ficaram eles com tudo. [pausa] E eu só fiquei com esta casa. Mas já fui eu [pausa] e os meus filhos quem a compusemos, que foi tudo abaixo, que era de paredes, como está aqui, de paredes, e aqui eram quartos de madeira. Está madeira debaixo deste quarto, desta casa. Ainda nem se queimou nem se utilizou. E os meus filhos E os meus filhos e o meu genro foram quem compuseram isto tudo. E pagámos a, a quem. Foi tudo composto, mas foi o que eu fiquei. E eles têm bons lameiros. Lameiro bom que [pausa] que lhe dá bons contos. [pausa] E assim. Mas depois aborreceu-se muito e depois ficou assim. Mas o meu filho pediu-me muito [pausa] para ficar contente: que não se podia andar raivoso. "Deixe lá, não vale a pena. Nós [pausa] não enriquecemos assim. Cada um tem de [vocalização] o ganhar onde estiver e [vocalização] deixe lá as terras. Não se importe". E não quis. E nós cá ficámos com isto. E pronto! E depois, ficámos contentes, que ele não quis que a gente ficasse zangada.