INQ1 Olhe, dizia-se alguma coisa quando, numa família, havia sete filhos? Dizia-se alguma coisa do mais novo?
INF1 Ah, diziam dizia que um que era bruxo. É. Quando houvesse sete, que um que era maluco – ou [vocalização] assim seguidos mas…
INF2 Não era maluco, era lobisomem.
INF1 É, pois. Lúbis.
INF2 E faziam-lhe [vocalização] – não [vocalização] sei com que era – sangue num dedo. É isso?
INQ1 Sim, queria saber o que é que diziam.
INQ2 Como é que era?
INF1 É, diziam que lhe faziam.
INF2 Se fosse menina, que era bruxa, e se fosse menino, que era lobisomem. E depois que ele É. N- Aqui na nossa zona, por aqui não há ninguém que tenha sete filhos. Mas [vocalização] ouvia-se falar que havia uma senhora que tinha sete filhas. Depois à [vocalização] última, disseram-lhe [pausa] que fizesse: "A esta faz-lhe já sangue no dedo mindinho senão [pausa] fica assim". Mas não seria verdade? Mas também podia ser, isto é uma lenda.
INF1 Eles diziam. Uma vez um lá
INF2 Eu, por mim, eu se tivesse [pausa] sete filhas – é, não é [vocalização] rapazes e raparigas, é só rapazes ou raparigas –, se tivesse sete filhas ou sete filhos, do último, fazia-lhe logo.
INF1 Ou s- Sete de uma qualidade. Que é bom fazer-lhe sangue. Quem fizer sangue, já [vocalização] já não tem mal nenhum.
INF2 Contavam Contavam que havia uma menina [pausa] muito, muito rica – muito rica… Até nem seria assim muito [pausa] – e que namorava um rapaz, e esse rapaz era lobisomem.
INF1 Eram do Souto. Mas [vocalização] hoje já não há nada disso.
INF2 E depois, começou-se assim a constar [pausa] e [vocalização] e foi aos [vocalização] ouvidos aos pais dela. E os pais dela não queriam nem por nada que ela namorasse com ele. Mas ele [pausa] morava [pausa] numa avenida; e ele morava num lado e ela morava do outro. Depois, disseram: "Eh, ai, é"? "É, é. A senhora, senão, para lho saber, vai ver que quando for meia-noite, se o não{fp se não ouvem por aí adiante [pausa] um cavalo a a estropiar". A rapariguinha, coitadinha, encheu-se de [pausa] de coragem, e já tinha ouvisto falar nisso, já tinha ouvisto falar nisso de fazer sangue. Que é que ela fez? Pegou – em vez de se deitar – pôs-se de cá, em [vocalização] casa dela – como agora eu aqui e ali a e ali a minha irmã, minha irmã aqui ali – e quando foi à meia-noite menos um quarto, ela viu lá luz no quarto dele. O que é que ela fez? Na rua dali atrás, foi procurar uma silva, destas silvas muito grandes, que botam para aí esta grossura, [pausa] vem com aqueles com aqueles picos [pausa] virados – deve ser assim só um bocadinho virados.
INF1 Silvas-machas.
INF2 E ela pegou, foi cortar essa silva, lá a compôs em jeito de pegar nela, nas mãos, que já não tivesse picos, e foi-se pôr [pausa] num caminho [pausa] onde ela já tinha sabido que ele ia passar. E então, pôs-se lá detrás duma [pausa] – não sei se era de mato, se que era – com aquela silva posta assim nas mãos. Tinha coragem. Porque ela gostava dele. E disseram-lhe: "Olha, só só quebrando-lhe o encanto, só fazendo-lhe sangue!" Mas quem é que lhe ia fazer o sangue? Ela pegou, arranjou essa silva – chama-se a silva [pausa] silva-macha – e foi então para lá com ela, [pausa] e quando ouviu ele a est- o cavalo a trepar, a trepar, ela pegou, fez, estendeu aquela silva fora, os picos vão conforme estão estes meus dedos.
INF1 Macha. Pois.
INF2 O cavalo ia a passar, ela puxou-a – [pausa] porque com o andamento do cavalo, passou a silva – e fez-lhe sangue – no cavalo, não foi nele. Mas ele ia transformado no cavalo… Pronto, ficou o príncipe ali de pé, ao pé de- [vocalização] ao pé dela. Olhou, e vem ela. Ora quanto ele não ficou satisfeito! Abraçou-se a ela, trouxe-a para casa [pausa] e casaram-se!