INF Havia um casal que tinha três filhos, mas [pausa] este mais velho [pausa] não ti- não era bem aberto, assim, era meio toleizão. [pausa] E [vocalização] o mais moço mais a mãe, eram pobrezinhos, o que é que fazem? O mais moço disse: "Ó pai, eu vou-me correr terras"! E o pai disse: "Ó filho, tem este irmão que não é bem, bem que é mei- meio atoleizado, porque é que não estás com nós aqui em casa, para ajudares o pai e a mãe"? Ele disse: "Não, pai. Nós somos pobres e vê-se tanta [pausa] gente rica. [pausa] Eu vou correr terra para ver se ganho [pausa] rolha, para a gente ser ricos como os nossos vizinhos". [pausa] E o pai vai: "Pois hás-de ir, filho"! [pausa] Chegou lá um dia, ele disse: "Ó pai, vou caminhar hoje"! E [vocalização] o pai disse: "Pois hás-de. Vai quando quiseres. Agora, tu queres a minha benção ou queres dinheiro"? [pausa] E vai o filho, virou-se para o pai, ficou assim a pensar e disse: "Pois, o [vocalização] a benção do pai é muito bom, mas o dinheiro ainda é melhor. Eu vou-me governar vai ser com o dinheiro, não vou-me governar com a benção do pai". O pai deu-lhe um saco de dinheiro e ele caminhou. [pausa] Foi andando [pausa] por essas terras fora, quando chegou a um certo lugar [vocalização], o homem com o saco do dinheiro às costas – que o pai não deu-lhe a benção; lá caminhou, o pai não deu-lhe a benção –, um saco de dinheiro às costas, os ladrães viram-no, deram-lhe fogo, mataram-no, roubaram-lhe o dinheiro. A cabo de um ano, o acima d-, deste deste mais moço – ac- acima do mais moço – disse: "Ó pai, o meu irmão com certeza que não aparece é que vai muito bem. [pausa] Também vou-me correr terras". E o pai disse: "Ó filho, pois então eu fico só com mais tua mãe e este desgraçado aqui… Mas se quiseres dir, vai". [pausa] Pegou em si, aparelhou-se para caminhar. E o pai foi assim: "Mas [pausa] queres a minha benção ou queres dinheiro"? E ele disse: "Ó pai, eu antes quero dinheiro que o meu irmão governou-se foi com o dinheiro; eu também quero-me governar é com o dinheiro, [pausa] que é melhor". Lá caminhou. A cabo de um ano, nunca mais houve resultado nenhum [pausa] de família nenhuma deste desse casal. [pausa] O mais tolo, que era tolo, o mais velho, foi assim: "Ó pai, eu era houvera de ir correr terras que os meus irmãos estão bem! Não aparecem, então estão bem"! E o pai disse-lhe: "Ó filho, tu hás-de ir, se quiseres dir. O que é que queres? Queres dinheiro ou queres a minha benção"? "Ó pai, o dinheiro é muito bom, mas eu antes quero a benção do pai". E o pai vai, deitou-lhe a benção, deu-lhe uma coisinha de dinheiro para a viagem, e lá caminhou. Som de passos – Viva! – E lá caminhou. Foi andando, andando, e quando vai [pausa] encontrou uma velha – [pausa] muito velha! [pausa] Ele, ao mesmo tempo, encontrou um homem, um perfeito homem, um homem de corpo. [pausa] E vai o homem – com um cão pintado de branco e de preto, um cão muito grande, e com uma espada muito grande –, [pausa] e vai o homem foi assim: "Homem, o senhor [pausa] para onde é que vai"? Mas este tolo levava um bordão de ouro, um b- que o pai lhe tinha oferecido. "Homem, vou correr terras". "Homem, o senhor, onde é que foi buscar este bordão"? "Oh, isto é uma oferta que o meu pai [vocalização] me deu". "Olhe o senhor, [pausa] se o senhor desse-me este bordão, eu dava-lhe esta espada e este cão. [pausa] Olhe, este cão faz tudo o que a gente lhe manda; e esta espada também faz tudo o que a gente manda. Se o senhor disser: "Minha espada, corta o pescoço [pausa] àquele homem ou àquela senhora", corta logo; se o senhor mandar este cão fazer uma maldade qualquer, ele faz também". "Diacho! Isto é uma oferta do meu pai e eu vou-me correr terras, mas o senhor, se é assim, o senhor… Ou então eu dou-lhe o bordão". E o homem vai, dá o bordão e o outro dá o cão e dá a espada. Caminhou. Foi andando, andando e quando é que encontra… [pausa] Mais adiante, encontra um indivíduo e pensa que é o mesmo homem: "Mas eu vou experimentar esta espada". O homem tinha-lhe dado a volta para ver se roubava a espada e o cão a ele. E era um homem muito gordo. Ele foi assim: "Minha espada, corta o pescoço àquele homem"! A espada saiu de da mão do homem, foi lá e cortou o pescoço do homem. Ficou muito contente. Caminhou com a espada e com o cão. Foi andando, andando, muito ao longe, por longe, e quando encontra outro homem. "Homem, isto hoje é que é o mesmo homem. Eu matei-o. Mas é que é o mesmo homem". [pausa] Mais um homem com uma espada e com um cão igual – igual ao seu! E vai o homem, chegou-se para ele: "Homem, o senhor, [pausa] por onde é que anda"? Mas ele roubou o bordão ao [vocalização] ao outro que tinha matado. E ele vai, foi assim: "Ah, pois este cão… Ando por aí correndo terras, topei ali fora um senhor, assim, assim, e trazia dois bordães, e depois ele perguntou se eu queria trocar o bordão pelo cão e por esta espada, que esta espada fazia assim, assim, assim, desta forma, e o cão fazia… Afinal, eu troquei". "Homem, este é um irmão meu. A gente anda… Somos dois ladrães, andamos roubando". [pausa] "Se ele não tem precisão deste cão e desta espada, eu também não tenho precisão da minha do meu cão e da minha espada. O senhor quer-me trocar este meu cão e esta espada esta esp-, p- pelo seu bordão"? E vai: "Sim senhor". E vai o tolo, vai, troca logo. Ficou com duas espadas e com dois cães. Pegou em si, foi andando e foi assim: "Não, eu vou matar aquele homem. Ó minha espada, mata aquele homem"! E vai, mata o homem com a espada. Porque ele estava com medo de ele o querer roubar. Já muito longe, muito longe – mas tirou o bordão outra vez, isso tirou o bordão –, topa uma velha muito feia, uma velha muito gorda e muito feia! "Homem, o senhor e tal, o que é o senhor faz por aqui"? A velha conheceu os cães [pausa] e as espadas. "Ah, correndo terras, porque os meus irmãos foram, no passado, assim e assim"… E vai ela disse: "Olhe, o senhor, quem é que lhe deu estes cães ao senhor"? "Ah, foram dois homenzinhos que eu topei acolá fora. Eu trazia um bordão três bordães e cada um queria o seu, deram-me estes cães pelos bordães". "Pois, olhe o senhor, estes homens, os tais, eram meus filhos. São meus filhos. Ele são dois ladrães. Andam adiante roubando e matando, e eu ando atrás com este assobio pondo-os vivos. Portanto, se eles não têm precisão [pausa] deste [pausa] da espada e dos cães, eu também não tenho precisão deste assobio. O senhor quer -mo [vocalização] trocar este assobio por este bordão? Ele quer-me trocar o [vocalização] o bordão por este assobio"? "Sim senhor". [pausa] Vai, o homem, troca. O homem chega mais adiante, foi assim: "Ó minha espada, traça o pescoço àquela velha"! E a espada vira para trás e traçou o pescoço da velha. E ele disse: "Agora vou experimentar se o assobio se é [pausa] se é certo". Vira para trás, bota o pescoço da velha encostado, assobia, a mulher fica viva. Vai de carreira. "Minha espada, corta o pescoço daquela velha"! Cortou, deixou a velha morta e caminhou. Foi em cata Foi em cata de em cata dos irmãos – por os irmãos. Foi andando, andando, muito longe, e quando vai, chegou a uma aldeiazinha [pausa] e vê tudo ali a a falar: "Fulano morreu; fulano [vocalização] morreu; fulano, o bicho comeu" e calou-se. Ele calou-se muito bem caladinho e sai para baixo, sai para uma cidade. Quando chega à cidade, vê a esc- a cidade toda escura, tudo de luto: [pausa] janelas fechadas, cortinas pretas, tudo de luto. E pega em si, foge pa- para a aldeiazinha. Chega acima à aldeiazinha, e pe- [pausa] pega ali a falar, [pausa] e quando dizem que era um… Havia no mato, [pausa] nas serras, [pausa] um bicho de sete cabeças, [pausa] chamado fera. E tinha arrasado a cidade ao rei, que o rei tinha de dar uma sentinela todos os dias. E o rei vai, o que é que faz? Pega em si e bota uma sentinela todos os dias naquele lugar, onde aquele bicho tinha dito ao rei; [pausa] que se o rei não botasse, o bicho chegava à cidade, arrasava a cidade. Mas eram tantos, já estava o povo todo virado contra o rei, e o que é que o rei faz? O rei tinha uma filha. E o rei vai e bota por bilhetes, por sorte, quem é que ia [pausa] para cima, para guarda. Todos os dias a guarda faltava! Não tinha… Quantos caíam lá, quantos faltavam! Ia cada dia um guarda para o bicho comer, bem se sabe. E a cidade, quando lhe botou saiu a sorte à filha do rei para ela dir, a cidade botou logo luto. E este homem sabe disso e pega em si e perguntou [pausa] onde é que era isso. E eles disseram onde é que era e a que distância da aldeia. Ele aproxim- Ele no dia adiante, àquelas horas que disseram que a filha do rei saía de casa, ele aproximou-se fora da casa do rei. O rei vestiu a roupa toda melhor que tinha à filha. Os vestidos todos que ela tinha melhores, vestiu-os todos, em si. E caminhou, um um carro pô-la lá naquele lugar. E ele estava ali ao pé quando viu a carruagem a sair com ela, foi assim: "Arranca-lhe Olhos! Agora, Portais"! – que era o nome dos cães. "Faz favor de acompanhar aquela mulher onde é que ela vá ter". E os cães largaram-se atrás da carroça. E o homem ficou cá. Quando tinham Estando a mulher lá, vieram-se embora… Quando chegou Os cães voltam para trás, vieram-se ficar com o homem… Pegou no homem e caminhou; o homem, foi-o sempre a guiar, o cão – ouviste? Os cães foram guiando o homem! Quando chegou lá, estava a filha do rei [pausa] a chorar. E ela perg- E ele perguntou [pausa] ela o que é que tinha. E ela esteve dizendo. Esteve contando que que era um bicho, se [vocalização] uma fera de sete cabeças, que tinha pedido ao rei [pausa] todos os dias uma sentinela, e que depois que já estava [vocalização] muito pessoal já morto, e, com o horror, já estavam virados ao rei, e que o rei botou foi [pausa] por sortes e que tinha saído a sorte a ela para ir lá para cima, e que ia morrer. E ele disse: "Não morres"! E ela foi assim: "E o senhor como é que [pausa] sabe que eu não morro"? "É que não morres! [vocalização] Dá-me um beijo. [pausa] Tu não morres"! E vai ela, sabia que ia morrer e dá-lhe um beijo. Ele vai com a sua espada por trás e corta a beira do vestido. Demorou a abraçar a ela e corta a beira do vestido e meteu na algibeira. Esteve ali assim: "Está bem. Eu vou-me deitar aqui mais tu. Vais-te sentar [pausa] e eu vou-me deitar a minha cabeça no, no no teu colo. Quando tu sentires este bicho, acorda-me, que estou muito cansado"! E ela disse: "Sim senhor". Deitou-se. Ela assentou-se no chão, ele deitou a cabeça no no colo dela, e ela faz [pausa] confiança em ele dizer que ela não morria e coisa; mas sempre a chorar, julgando também que ia morrer também, e dizia que ele fosse retirado, que retirasse que ia morr- que morriam os dois. E ela vai, pega, [pausa] no seu choro, a coçar-lhe assim na cabeça; e ele vai e pega no sono. [pausa] E ele vai, quando sente o chão a estre- a estremecer. Sente o chão a estremecer e vai, acordou-se espantado. "O que é isso"? E ela disse assim: "Pois é o bicho que já vem chegando"! "Então não me dizias nada"? Ela disse: "Porque é que tu vais morrer? Morres"! "Não morro"! O bicho vinha chegando. Uma arazinha longe, e ele foi assim: "Minhas espadas, cortam aquelas sete cabeças duma vez"! A espada foi, e cortou-lhe as sete cabeças duma vez. E ela ficou lá. E ela vai e disse logo que casava com ele. Era uma filha dum rei! E ele disse que sim. E [vocalização] E ele foi às cabeças e cortou… Ele tinha sete línguas. Cortou-lhe sete pedacinhos das línguas. Embrulhou num pedacinho do vestido dela [pausa] e meteu na algibeira – arrumado na algibeira. E ela, quando chegou à hora… A sentinela Todos os dias ia uma sentinela para cima àquela hora. Chegou Eles chegaram lá acima com a sen-, com a com outra sentinela, com ou- [vocalização] outra guarda, estava estava a rapariga viva. Não a trouxeram, deixaram-na lá, porque ela estava viva. Voltam para baixo, quando viram este bicho morto. Mas o homem tinha desaparecido. Isso o homem tinha desaparecido. O homem disse que vinha depois ter a casa, até ao palácio. Porque o homem tinha desaparecido. Depois vai para cima o rei e vai esta tropa do rei, para cima, buscar esta mulher que "estava viva", "estava viva". Há uma grande alegria e quando toca a botar o o bate-fora, sol- pois viram o bicho morto, cortado, com cabeça e isso, tudo picado. Quem é que tinha matado aquele bicho, casava com a filha. E a filha vai e disse quem é que tinha sido. Tinha sido um homem com dois cães, com duas espadas. Esteve-lhe lá dizendo, ao, ao ao pai. [pausa] E quando se parece, um sapateiro vai e reclama que ele que tinha cortado as cabeças do bicho, e que tinha salvado a filha do rei. [pausa] Toca o rei a chamar o sapateiro para o sapateiro casar com a filha. A filha quando viu o sapateiro disse ao pai que não era ele. E ficou sem falar. Mas o pai, como ele tinha palavra de rei, e obrigou a filha, como ele tinha dito, a casar a casar com ele. Estavam-se aparelhando para casar e este homenzinho vinha cá à aldeia e ouvia dizer que a filha do rei que tinha escapado e tal, mas que ia-se casar com um sapateiro, tal, e esta coisa assim. E o gajo andava por ali e vai na véspera do dia de ele se estar a casar e manda os cães lá à casa do rei, ao quintal, fazer perca, lá ao quintal do rei. E os cães foi fazer perca ao quintal do rei. Os cães eram como uns cristães, tudo o que se mandava fazer, eles faziam. [pausa] Bem, tal com tanto foi que foram fazendo perca, foram fazendo perca, tanto o rei que não pôde e vai… Mas ele ela quando viu os cães disse ao pai: "Ó pai, o cão do esposo"! Dizia ao pai. Só a fala que ela dizia é quando via os cães. Os cães caminhavam, o rei não sabia nada dos cães. Ninguém sabia mais dos cães. O rei Foram andando e na véspera de casar e tanto foi que o rei obrigou-a e fechou o sapateiro e ela num quarto, [pausa] para casar com ele. Não havia maneira nenhuma! Quando no dia do casamento, obrigada a casar, [pausa] veio o dia do casamento e toca a caminhar para ele para se casar, aparelhar-se para se para se casar. Este homenzinho que era dos cães e da espada e sabe o dia do casamento e vai, bota-lhe à casa do rei [pausa] a pedir uma esmola. Ela, vestida de noiva para casar com o sapateiro, sem falar com o sapateiro, e quando vê este homenzinho disse: "Ó pai, o"!… "O" queria dizer que o seu noivo, o seu marido, que era aquele. Toca a chamá-lo para dentro. Chamam o homenzinho para dentro, toca o homem já confessa: "Sim senhor. Por acaso foi assim passado". Então o homem esteve contando a sua vida como é que tinha sido, com os seus pais e os seus irmãos, essas coisas todas. E, por acaso, se o rei se quisesse saber a ve- bem a verdade, tinha os sete… Porque tinha vestido sete vestidos à sua filha, e todos os sete cada um de sua cor, e puxou o [vocalização] pa- os sete vestidos pa- [vocalização] – os sete pedacinhos de vestidos – para [vocalização] para [vocalização] testemunhas. Toca o rei de ir à roupa da filha, que ele não tinha dado por isso ainda. Foi na roupa da filha, os sete vestidos todos cortados pela beirinha. E disse assim: "E o senhor para provas ainda, se quiser saber, vai às sete cabeças, vê se não faltam sete pedacinhos de língua. Também estão aqui". Bem, toca [vocalização]… Já não se casou o sapateiro. Toca o sapateiro, toca a chamar a tropa toda e [vocalização] perguntar a ele o que é que se fazia a ele. A filha vai, toca o a tropa e o pessoal, a vizinhança toda ali, a ver um [vocalização] de justiça com o sapateiro. Foi chamar quatro cavaleiros dos seus, para uma encruzilhada do caminho, amarraram o sapateiro e [vocalização] por uma perna e por um braço e e meteram-lhe às esporas o cavalo e rebentaram o sapateiro ali. E lá ele casou, o tolo… Está o tal tolo casado com a, com a com a filha do rei. E era tolo.