INF Olhe, eu vou-lhe explicar à senhora. Por exemplo, a senhora tem uma coisinha comprou coisinha de levedura. Deita a fermentar na tigela, que ele depois a levedura cresce para o ar e fica cheia daquela espuma, é na altura que está boa. E depois, a senhora abre aqui dois ou três ovinhos, ou cinco ou seis, lá como a porção que queira fazer. Acaba por [pausa] trincar a massinha bem trincada. Eu vou trincar aqui um bocadinho de farinha para a senhora ver. [pausa] Isto é com a [vocalização] Ele deita-se aqui… Abre-se três ou quatro ou cinco ovinhos, lá a porção que a gente quer, conforme os quilos…
INQ Mas vai estragar a farinha, agora?
INF Não faz mal nenhum. E [vocalização] a senhora depois é que lhe deita esta farinhazinha. Depois de estarem os ovinhos mexidinhos, se deita a farinha, deita a levedurazinha e depois é que vai amassando. Isto é só para ser assim uma explicaçãozinha para a senhora ver. [pausa] Tenho já aqui, tenho os ovinhos e tenho a levedura e a senhora agora vai trincando esta massinha assim muito bem trincada – neste ponto! Não há-de ficar mais mole do que isto. E a senhora agora tem um pacotinho de manteiga, volta e meia vai esfregando aqui um pacotinho de manteiga, para ir amaciando a massinha. A cabo disso, a manteiga só não resolve nada; tem que levar duas ou três colherinhas de gordura – dessa gordura do Pico. A senhora acabando isto, que fica assim no seu ponto, a senhora dali a bocado pega nesta massinha e pica-a toda assim, toda picadinha. Toda picadinha, a massa toda picadinha, para a massa ficar toda muito fina, para não ficar com nada de granito [pausa] – assim toda picadinha. E vai amassando, e vai trincando, e vai trincando… Mas amassa isto uma hora ou duas, que isto tem de ser muito bem trincada. E eu agora vou tender o bolinho só para a senhora ver, mais ou menos, o que é. Depois a gente faz assim um pão de massa. Fica isto um bocadinho em cima duma toalha; pegamos na faca e vamos cortando assim aos bolinhos – está a perce- –, dos nossos bolinhos assim. A senhora faz vinte cinco bolinhos. A nossa moda aqui – que é a nossa – conta dois bolinhos que vai para o Espírito Santo. Fazemos isto assim, por aqui fora, assim uns quantos bolinhos assim, [pausa] sempre assim. Fazemos vinte cinco pãozinhos destes. Estão os vinte cinco pãozinhos destes para a gente sevá-los…
INQ Deste tamanho?
INF Maiores.
INQ Maiores.
INF Porque a gente faz os bolinhos como… A gente faz os bolinhos como estes pratos nossos de sopa.
INQ Rhã.
INF Assim ou ainda maiorinhos. Isto vai então da opinião: a gente bota oito quilos, bota dez, bota doze, então vai da opinião da pessoa que queira fazer ofertas mais bonitas. E depois de botar aqui vinte cinco bolinhos, a senhora pega num pilãozinho destes, caldeia com este. Para a gente, se então sovar, não serem os vinte cinco bolinhos, ser só por doze vezes [pausa] para não. Dá menos trabalho, com os pilães. E a gente dá-lhe depois o nosso sovar é isto assim aqui, assim. Olhe, a gente vai sevando, vai sevando… Isto leva muito tempo, é trabalhoso! Vamos sevando, sevando, sevando, sevando, sempre assim, sempre assim. Esta massa tem que ser abertinha para fa- ficar bem trincada. Não é como estar lavando roupa, que se molha a roupa e [vocalização] vai. É sempre assim, sempre aberta! Sempre aberta para se trincar muito bem! E depois de ela estar – fica muito fininha, muito fininha – é que a gente enrola para dentro. Faz esta roletazinha aqui de roda, assim muito bem feitinha, muito bem feitinha – isto agora é só para a senhora ver –, e a gente faz isto em cima da mesa. Assim. Pegamos aqui na faca, na f- na garrafa, olhe, fazemos isto assim. Isto é num bolo grande. Fazemos isto assim. [pausa] Quando o bolo está tendido, a gente pega neste chavãozinho para fazer a cabana mais pequenina, por causa que não tem distância para isso. Nós fazemos isto assim. [pausa] Isto vai para cima da cama. Deita-se umas toalhas, põe-se em cima da cama. Pega-se num copinho de água, a gente põe-o à janela. A gente tem faz assim uma bolinha pequenina, enrolou-se aqui assim na farinha, deitou-se dentro do copo. Quando aquela bolinha vem para o ar, está na hora de a senhora largar a chama ao forno e cozer os bolinhos. Experimenta-se o forno com uma pisquinha de farinha alva. Há-de demorar um bocadinho só para a farinha endurecer uma pisquinha, que é para o bolinho ficar muito bonito e não ficar com muito solo. Mas antes de ir para o forno, a senhora pega num pauzinho e faz aqui um furinho em cada chavamento destes. E di- E [verbo] no intervalo; leva aqui um furinho com um pauzinho, [pausa] aqui. E aí é que está aí então o bolinho do senhor Espírito Santo feito. [pausa] É isto assim.
INQ E não lhe põe nada?… Ovo por c-, por fora, nem nada?
INF Nada. Isto é só assim cozidos. Mesmo por si levam o, levam o açúcar levam o açúcar, levam os ovos, a manteiga e a graxa. Mas não se deixa só… A A presa tem que ficar sempre assim durinha, para a senhora poder tender, pois molinha não pode não a pode tender. Não pode rolar o bolinho, não pode tender, nem pode chavar porque depois ele pega ao chavão. A gente depois, sem bolinho, a gente faz assim mas a massa quer vir aqui apegada.
INQ O chavão é diferente dum lado e do outro, não é? …
INF [vocalização] É a mesma coisa, é a mesma coisa. Agora ele nalgum tempo, a gente chavava o grande aqui [pausa]
INQ Ah, no meio.
INF e o e os maneirinhos do lado, mas agora já o grande é que faz tudo. Como vamos acrescentando os bolos, vão ficando grandes, já a gente agora o mesmo chavão é que marcamos o bolo. [pausa] Este é um chavão antigo.
INQ Já não se fazem desses chavões?
INF Fazem, ainda se fazem. Aqui este este Baldomero, que é aqui do lado de cima, ainda faz chavãos tal e qual. Mesmo se lhe der este molde, ele faz outro igual. E quando não há, ainda é quem lhe faz outro diferente! Agora este é um chavão antigo. Este era dumas dumas tias da minha sogra. Esse chavão é da minha sogra e a minha sogra já tem oitenta e quatro anos.
INQ E quanto tempo é que ele leva a fazer um chavão destes?
INF Ah, isso é isso ele faz isso depressa. Pois ele ainda demora que isso é ao torno, mas ele faz isso depressa. Isso é uma coisa que ele faz até às vezes num serão.
INQ Acha que ele que me fazia um, se eu, se eu lhe pedisse?
INF Pois então!
INQ Ah, gostava tanto!
INF É ir ali a casa do Baldomero, que ele é que faz. E ele fez já uns quantos para a freguesia. Já fez uns quantos para a freguesia!
INQ Para a população toda? Risos
INF É isso.
INQ Ele é carpinteiro, é?
INF É. É mais próprio para assim para miudezas do que ser assim para coisas de casa. O Baldomero é assim.