PIC11

Ribeiras, excerto 11

LocalidadeRibeiras (Lages do Pico, Horta)
AssuntoOs barcos e a pesca
Informante(s) Balduíno Baltasar

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INQ Olhe, no, o bote, o senhor pode-me explicar como é que é um bote? De uma ponta à outra, os nomes das peçazinhas todas que ele tem?

INF1 É [vocalização] É um pou

INQ Como é que é feito? Onde é que se começa?

INF1 É um pou É um bocadinho difícil porque a gente, estes estes botes é de origem americana. E a ma- O maior número das coisas dos dos botes [pausa] é em palavras americanas.

INQ Pois, mas

INF1 E a gente, é é um calão nosso que a gente diz; até pode não saber pronunciar.

INQ Mas é esse calão É esse calão que eu gostava de ouvir.

INF1 Ah, gostava?! Pois. Posso é então Posso-lhe dizer as peças do bote. Isso eu posso-lhe dizer. Pois [vocalização] a gente usa, a gente chama o estanuó, estanuó é o remo do governo atrás.

INQ Estanuó?

INF1 Esta- Estanuó. Isto é uma palavra mal pronunciada com certeza, porque, é claro, isto deve ser um calão am- Isto é americano. Isto, a gente [pausa] vai sempre de pais para filhos, dizendo as mesmas palavras, mas a palavra pode ser mal pronunciada. E depois tem a [vocalização] os raloques: é as forquetas que a gente põe o os remos para remar, na borda do bote. [vocalização] A gente chama raloques. Tem o [vocalização] chotuópe: é o cabo que [vocalização] amarra os dois arpães um ao outro, à mesma linha. Isso também é u- é uma palavra americana.

INQ Que amarra os dois arpões?

INF1 À mesma linha. [pausa] Sabe?

INQ Mas então funcionam com dois arpões?

INF1 Sim senhora. Temos quatro. Mas quando é baleia grande, a gente [pausa] dá-lhe o primeiro e depois en- logo, logo, logo rápido, segundo se pode, mete outro arpão na mesma linha. Amarra o cabozinho ao arpão e está a puxar na mesma linha, com os dois arpões agarrados. [pausa] Falta o ópe, que é o cabo de a gente deitar a lancha para o reboque da lancha.

INQ O óque?

INF1 Ópe. [pausa] Tem o lançuópe: é o cabo que a gente amarra às lanças para lançar e puxar e matar a baleia. Tudo coisas [pausa] americanas. E agora até tenho Até no pano mesmo, tenho o gafe; também não é bem o gafe

INQ O que é o gafe?

INF1 O gafe é aquele pau que a gente usa em cima, que é em cima [pausa] no pano.

INQ Sim.

INF2 Para botar o pano acima.

INF1 Botar o pano acima.

INQ O mastro?

INF1 Não senhora, não senhora. Não senhora. O pa-

INF2 É engatado ao próprio mastro. Vem parte do [vocalização] Aquele pau leva o pano

INQ Está bem.

INF2 e fica em baixo o bumbo.

INF1 É o bumbo também. Em baixo é o bumbo.

INF2 E a esco-.

INQ O bumbo é o pau debaixo?

INF1 É, sim senhora.

INF2 É, sim senhora.

INF1 É, sim senhora.

INF2 E é a escota da giba.

INF1 É, ele tem a escota as escotas , porque o pano da giba tem as escotas.

INQ O pano da giba qual é?

INF1 É, é É o pano que vai por dentro do mastro. É um panozinho que a gente iça também por dentro do mastro que é para concluir a vela completa do da embarcação.

INF2 Chamam àquilo a giba gibra.

INQ Giba ou gibra?

INF1 Giba, gibra.

INF2 Gibra.

INQ Um diz e o outro diz

INF1 Então , isso é o que é a conversa que eu acabei de dizer à senhora, a gente, isso é o calão que a gente traz dos nossos pais; e a gente pronuncia como os nossos pais pronunciaram, é . [pausa] E depois tem mais: tem o tem os remos, temos umas pás pequeninas mais pequenas que é para a gente remar de vela, em cima da borda, [pausa] para a gente ajudar o bote a andar mai- mais rápido quando ele a [pausa] brisazinha anda for-, fora fraca, que eles dizem que é fraca, o vento é pouco. [vocalização] Temos também um pinguinho isto também é nome que não deve ser bem pronunciado que é de deitar a água fora, para desviar, para para aliviar os botes da água.

INQ Aquilo que se chama noutros sítios o bartador?

INF1 Exactamente, minha senhora.

INF2 Exactamente, mas é diferente.

INQ É diferente?

INF2 É, sim senhora. É como um caneco antigo, que aqui usavam antigamente para beber água.

INF1 É de madeira.

INF2 É de madeira, redondinho, depois leva uma mãozinha assim, que a gente vai tirando com aquela mãozinha e despejando para fora. [pausa] E por acaso, a senhora se quiser ver, pode ir ver ali ao bote.

INQ Ai, queria ver, sim.

INF1 Pois. E tem então o [vocalização] o balde também, que ele [vocalização] é um baldezinho, em madeira também, que é para a gente também deitar a água fora; e pôr água na linha quando a linha vai com muita velocidade. Quando eles trancam a baleia e a linha vai com muita velocidade, cria lume.

INQ E tem de ter coisas na mão, para, para

INF1 Não senhora. É as próprias mãos.

INQ se protegerem, não é? É a própria pele?

INF1 A pele, às vezes, leva. Risos

INQ A pele serve de luva.

INF1 Às vezes leva. Às vezes até leva. Empola as mãos! Aquece que empola as mãos! E chega a queimar a linha de ir contra o cepo, que a seguir vou mostrar melho- à senhora, se quiser ver. Ela indo contra o cepo, pois, chega a queimar a linha, a enegrecer a linha. E faz fumo! De forma que deita-se água na linha por causa de amole- [vocalização] de ficar húmida para não queimar.

INF2 E tem a tem a espelha.

INF1 Para abrir o buraco.

INF2 E o meu sogro explica à senhora as três bandeiras que se usa dentro do bote.

INQ Mas a espelha o que é?

INF1 A espelha? É [vocalização] Ele é aquela é aquela ferramenta que a gente faz o buraco na cauda da baleia para rebocar

INQ Ah!

INF1 é que é a espelha. E tem três lanças .

INQ Mas a espelha tem de ser lan-, lançada também?

INF2 Não, não.

INF1 Não senhora, não senhora.

INF2 É quando a baleia está morta, para abrir o buraco.

INQ Então estão, podem puxar a baleia para o do?

INF1 Exactamente.

INF2 Sim senhora. É passado um cabo como o Balduíno pode explicar

INF1 É passado um cabo à baleia, ao rabo da baleia, para puxar mais acima, para a gente fazer onde for preciso o buraco, para passar o cabo do bote.

INF2 Mas explicaste à senhora o [pausa] as três bandeiras? A branca, a vermelha e a azul.

INF1 Pois temos três bandeiras temos: bandei- branca, vermelha e azul. Qual é o significado delas bem, bem certo? A gente puxa qualquer uma, mas essas bandeiras têm um significado, a cor. A gente puxa A gente a baleia, põe a bandeira vermelha no ar. Para dar sinal à lancha, ou chamar o bote da companhia ou outro bote, para a gente dar o sinal que a está vendo. E para permitir que se mate outra ba- mais que uma baleia, pois deixa-se a bandeira atrás, presa na baleia, para a gente ver ao longe a bandeira em cima da da baleia, sabe? Tem a azul e a branca. A branca é socorro. É socorro. Para chamar Quando a gente estamos naquelas naquelas ânsias, a gente bota deita a mão a uma e e põe no ar e sabem que têm de acudir, de qualquer maneira. É, sim senhora. Mas temos, temos isso. [vocalização] Eu creio que não tenho mais que explicar à senhora. Temos Usamos também uma faca adiante, em caso de emergência, para cortar, e uma uma machadinha, caso se parta o mastro do do bote, fazer um um para botar no seu lugar. Às vezes, acontece; se aconteceu. E para cortar também a linha num caso de rápido é com a machada. Corta aquilo, pronto: um homem laçado ou uma coisa pegada no na embarcação. Ele caso estando o bote também pegado, pois se vai também bota. Risos

INQ E tem, usa duas coisas de madeira para levar as cordas, não é?

INF1 Sim senhora. Duas caixotas de madeira.

INQ São caixotas?

INF1 São caixotes grandes. [vocalização] Levam uns pares de braças, levam umas quantas braças. Le- Deve de levar, sei Não posso precisar bem as braças. Ele o Bartolomeu se estivesse aqui ele dizia-lhe sabia-lhe explicar isso melhor. Mas leva umas centos de braças de linha.

INQ Mas o senhor disse que agora não usam as velas?

INF2 Não, não.

INQ Os panos?

INF1 Usam, sim senhora. Até, por acaso, temos agora um novo. Usam, sim senhora. Então, Deus nos livre que não fosse. A remar?!

INQ E com motor não ?

INF1 houve aqui um um bote, aqui de São Jorge, e o vi também aqui entre nós e não vi que ele que fizesse a vantagem.

INQ Porque a baleia ouvia-o logo?

INF2 Logo, logo, logo.

INF1 Qualquer coisa, sim senhora. Agora, ele houve botes daqueles que apanharam. Mas aqui eles não fizeram a vantagem; com aqueles nossos, não fizeram a vantagem. Não sei se aquilo se também não estava bem experimentado, se quê, não sei.

INF2 O bote a motor precisamente para baleia de cardume poderá dar resultado, agora em baleia grande [pausa] nunca vai.

INF1 Mas eu também não não estou bem dentro do assunto, não sei.

INF2 Porque a baleia sente o tremor da hélice , mesmo a coisa da hélice e aquilo vai-lhe a um parafuso e ela vai logo para baixo. Mesmo uma baleia grande ou coisa, não E aquele que baleasse com a gente que eu ajudei a balear juntamente com ele , e aquele que baleasse com a gente em baleia grande nunca fez Agora em baleia de cardume Porque a gente, quando é cardume, a lancha vai acima delas e [vocalização] e às vezes pode calhar a dar uma lançada não na baleia que está trancada, mas sim noutra. Portanto, não em cardume é que aquilo poderia dar resultado.

INQ E o senhor com a sua experiência sabe quando uma, quando uma baleia mergulha depois onde é que ela vai sair?

INF1 Mais ou menos. Mais ou menos. Não é bem certas, não são coisas justas, justas. Mas a gente calcula pela inclinação da cauda, que ela mergulha, levanta a cauda, e pela inclinação da cauda A gente mais ou menos baseia-se naquilo. Agora hoje em dia não é tão fácil ele a gente se basear nisso, porque tem muita lancha e pouco bote mais lanchas e menos botes. De forma que antigamente era mais fácil de manobrar não é? , porque o homem tinha mais cálculos, mais justos, porque não havia as lanchas. A baleia ia para onde queria, mergulhava e a baleia ia para onde queria. Mas hoje em dia, não é bem certo assim. [vocalização] Às vezes, as lanchas desviam a rota que elas levam. Desviam. Mas quase sempre aproxima

INQ Quando elas vêem a sombra da lancha, vão embora?

INF1 Não, não. É o É o rumor. Mesmo que não esteja por baixo, se passar acolá que não muito muito funda, pois a lancha passou, o rumor pode-a desviar na rota que ela vai. Sim senhor. É o Sente que é o rumor da hélice.

INF2 Aquilo basta passar uma lancha por cima mais ou menos donde ela saiu Ela esteja mansa, mas passou uma lancha destas que temos por , passou por cima dela, ela quando sai, não sai da mesma maneira como se viu. sai com outros balanços e [vocalização] fura, às vezes, as lanchas por baixo do mar e [vocalização] E a gente a prender Quando é uma baleia mansa, pois a lancha vai devagarinho, vai-a levando rolando para onde quer, mais ao largo um bocadinho, e ela vai no seu caminho. Penso que é assim, não é mestre Balduíno?

INF1 Ora é.


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