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PIC12

Ribeiras, excerto 12

LocalidadeRibeiras (Lages do Pico, Horta)
AssuntoOs barcos e a pesca
Informante(s) Balduíno Baltasar

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INQ E o senhor ainda vai ao mar?

INF1 Vou, sim senhora. Vou, sim senhora. Eu também tenho uma lanchinha a motor, pequena. Vou também ao mar apanhar uns peixes para fazer também uns trocos, quando se calha. Ele o homem do mar tem que se deitar de qualquer maneira, porque, é claro, a vida está

INQ E com a lanchinha pequena vai muito longe?

INF1 Ah, vou também ainda umas milhas! Não é muitas. Duas, três milhas. E, às vezes, vai-se mais. Eh, , não se pode se desviar muito pois arreio à baleia, não é? Pois se eu não arreasse à baleia, pois podia ir mais ou podia sair mais. Até cinco milhas pode-se ir longe no nosso canal, à nossa ponta de leste. Vão daqui em barcos . Mas a gente não Eu por mim não vou, porque, é claro, tenho que estar aqui mais perto por causa da baleia. Se estou matriculado, tenho que cumprir a coisa. [pausa] Sim senhora.

INQ E o vigia onde é que está?

INF1 Está numa vigia, em cima, que a senhora pode Tem ocasião para ver, se sair para a rua, aqui no meu prédio, vê-a em cima. Está em cima, está em cima um bocado, acolá alto.

INQ Está todo o dia?

INF1 Esta vigia até está sem vigia. Ele o vigia está em cima no, no no Arrife.

INF2 No Arrife.

INF1 No Arrife. Mas [vocalização] nos tempos que isto havia a influência da baleia, todo o dia, de manhã ao so-, quer dizer, entre o sol sair [pausa] até à tarde.

INF2 Até à tarde.

INF1 Até Assim de Verão, até às seis, sete horas da, da da tarde.

INQ Mas num dia como hoje não valia a pena estar, ou valia?

INF1 Ah, não, não!

INF2 Não senhora.

INF1 Não senhora. Não, porque ele não está capaz, não vale a pena estar . O homem da vigia vai fazer uma volta para si; claro, também tem as suas voltas, não é? E [vocalização] E não está capaz mesmo. Não se pode arrear à baleia; com o tempo que está , não se pode. As embarcações são são pequenas. [vocalização] Quem é que se metia naquilo?! [pausa]

INF2 Pois isto aqui, precisamente, se fosse a viver da baleia, por muito o mestre Balduíno, ou o meu irmão, ou outro não podia viver. Porque qualquer pessoa desses rapazes ou mesmo o mestre Balduíno, [pausa] pois trabalharam um bocadinho na vida do mar e têm o seu bocadinho de dinheiro no banco, além disso têm os seus bocadinhos de terra, e não pagam renda de casa porque elas são suas. Pois se não está bom da baleia, o mestre Balduíno vai meter um de couve, ou uma batata, ou os seus legumes para a casa. Quer dizer, não se compra. Depois o peixe também, precisamente, não é comprado. Aqui o que a gente compra, na nossa classe marítima, é precisamente a carne. O resto, que a gente tenta nas embarcações miúdas, [pausa] fazemos mais ou menos para a despesa da casa durante o ano, para o dinheiro que a gente ganha e depois juntamos ou na pesca do atum ou qualquer coisa, pois esse dinheiro fica para nós um dia quando não podemos trabalhar, pois as reformas também são pequeninas Hoje em dia, por exe-, está bem bom, sempre são dois contos e tal. Se a gente não tiver dinheiro no banco, pois nós não podemos viver como o meio de vida está. Por isso a gente tenta, enquanto somos novos, aproveitarmos o Inverno, [pausa] porque se for a olhar para o dinheiro da baleia, não para qualquer pessoa, qualquer um destes passar. Porque eles estão aqui precisamente A [vocalização] matrícula é feita durante um ano. Durante o ano, no ano passado, vocês tiveram vinte oito não foi? , de soldada. Pois vinte oito contos de soldada é pouco dinheiro. Se não fosse os legumes

INQ Ao fim do mês?

INF2 Ao fim do ano.

INQ Ao fim do ano?

INF2 Ao fim do ano. É pago ao fim do ano.

INQ É muito pouco.

INF2 Pois.

INF1 Ah, minha senhora, mas eu, nos princípios de baleia, [vocalização] ganhava-se a dois contos e tal por ano!

INQ Tché!

INF1 Uma

INQ Bem, mas também era noutro tempo em que o dinheiro valia mais, não é?

INF1 Óbvio, não é?! Mas, mas ainda mesmo assim, era muito pouco! Eram dois contos e tal, três contos e coisa, três contos e coisa Era pouco mais do que isto. Era sempre isto, mais ou menos. Dois contos e tal, três contos e tal. Ele era a média. Era a média. É claro que aquilo, às vezes, o [vocalização] quando havia mais abundância de óleo, pois [pausa] mais barato; quando havia menos menos abundância de óleo, [vocalização] às vezes, mais caro uma coisinha. E de forma que, e era Mas era aquilo que a gente tinha de navegar a vida!

INQ Olhe, mas e Depois para o pescador da baleia, o dinheiro que ele recebe é calculado pelo peso da baleia que pescou ou pelos litros de óleo que ela ?

INF1 É, sim senhora, pelo litro de óleo. A gente não temos nada com as farinhas, nem coisa. Isso não temos nada com isso! As farinhas é da fábrica. A fábrica [vocalização] A gente toma uma baleia apanha uma baleia, vamos levar para fábrica. A fábrica [pausa] A gente tem uma baleia e é vinte cinco por cento para a fábrica. Vinte cinco? Creio que é vinte cinco. É vinte cinco.

INQ Vinte cinco por cento de quê?

INF1 Do óleo. E nos cabe então as outras quatro partes.

INQ E da farinha, não recebem nada?

INF1 Não senhora. Não temos nada a ver com isso.

INQ Não tem porquê?

INF1 [vocalização] Isso é a fábrica é que resolve isso; a fábrica não é nossa. A fábrica, ele derreteu o nosso óleo. [vocalização] Mas é assim Mas é: a fábrica derreteu o nosso óleo e deu-nos a percentagem do óleo que a gente lhe apanhou a a como é que eu hei-de dizer a vinte cinco por cento. Tirou para si, e o resto, ele é aqueles apuros que ela tira para si. É para si. Não tem nada A gente não tem nada com isso. Talvez muito bem visto, não é uma coisa talvez muito bem feita, que ele a baleia a gente é que a tomou.

INQ Pois.

INF1 Pois. Mas

INQ Tanto tomou o óleo, como

INF1 Exacto. Pois, mas é assim. Mas é assim. É assim, sim senhora.

INQ Portanto, nunca pesam as baleias?

INF2 Não senhora.

INF1 Não senhora.

INQ Nem, nem balança para isso Nem deve haver!

INF1 Pois talvez não haja. Talvez não haja. [pausa] Olhe, sei .

INF2 Até o próprio sangue da baleia é aproveitado na fábrica. Pelo menos aqui na das Lages era. Para juntar à farinha de carne. [pausa] Eu até cheguei a ir uma vez ou duas, na altura que eles botam a deitam a farinha de carne para secar, botam-lhe o sangue para dentro para ficar a farinha mais avermelhada. [pausa]

INF1 De modo que é assim.

INF2 Nós éramos sócios aqui duma fábrica, [pausa] quer dizer, nós, o mestre Balduíno, o meu pai, e esses que são sócios, que isto é de sessenta e tal pessoas ou setenta e tal no ano em que estamos.

INF1 Não sei bem os sócios, a quantidade de sócios.

INF2 Mais ou menos. Isto é uma

INF1 Pois é bom, mais ou menos.

INF2 Mas essa fábrica trabalhou vinte e oito anos [pausa] sem nunca prestar contas a sócios. Depois veio o senhor Basílio, Bebiano Basílio, comprou essa fábrica, tal, depois quis fazer umas propostas para c- para a compra de óleo Isso até meu irmão é que poderá explicar uma coisa melhor. [pausa] No fim ao cabo, ela está fechada.


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