INQ Olhe, e em cima da barra o que é que se põe?
INF Tenho o meu colchão Molaflex, [pausa] já há um ano ou dois. Que eu nunca tive, era a casquinha, lavada todos os Verães, e lavava-se o colchãozinho. Ai, ele! Quando a gente agarrava aquilo tufadinho, era a frescura do mundo! Mas agora então faz-se uma caminha muito fácil, porque então agora é o colchão Molaflex.
INQ Mas o que era isso da casquinha?
INF Era casca de milho! Casca de milho que a gente rachava-a e é que se metia dentro do colchão para a gente dormir. [pausa] Sim senhora.
INQ Só se usava a casca de milho?
INF Ai, e musgo, que ia para o mato se apanhar musgo para se meter dentro das almofadas e dentro dos dos colchões.
INQ Musgo seco?
INF Mas… Musgo seco. Mas o musgo, acabando meia dúzia de meses, dá em enovelar e é penar. Era penar para se abrir, para a gente poder dormir na caminha mole. O musgo era assim, enovela muito, pois é uma erva – depois de seca…
INQ Olhe e o que se…
INF E também se apanhava cabelinho; ia-se pelo mato, num feto, apanhava-se cabelinho; e depois a gente tirava aquele cabelinhozinho duma soca, e punha-se ao sol e enchia-se almofadas também para a gente dormir. Mesmo quando era para bebés, era tudo…
INQ Não sei como é que é isso…
INF O sumaúma. A gente abria aquela… Aquilo é assim uma… Como é que se diz? Imitante assim um [vocalização] o bog-. É um bogango, que a gente chama de bobine de seda. A gente abre e dentro tem aquilo, parece imitante como um figo. E a gente ia tirando aquele aqueles fiozinhos todos; aquilo abre, fica como como [vocalização] uma seda fina que era uma lindeza!
INQ Isso é que é a sumaúma?
INF Sim senhora. E a gente aí é que lhe metia nas travesseirinhas, para os bebés. E era deste cabelinho.
INQ E agora já não usam isso?
INF Agora já não se usa suja, porque agora é tudo esta [vocalização] esta espuma que se enche as almofadas. Já não usamos isso.
INQ Mas a outra era mais molezinha?
INF Era mais molinha. Claro que sim!
INQ Olhe e…
INF E de penas de galinhas! Aproveitava-se as penas das galinhas e punha-se a enxugar e enchia-se almofadas.
INQ E colchões, não?
INF Colchões, não senhora. Era preciso ter muita galinha. Risos Ele para as almofadas, leva-se às vezes um ano. Quando se matava três ou quatro, se ia guardando para se encher uma!
INQ Olhe, quando a senhora se levanta… Olhe, e por fora das almofadas o que é que costuma pôr para proteger a almofada?
INF Ai, ponho-lhe os meus bordados, ou umas rendinhas, ou uns bordadinhos. Assim é que eu faço.
INQ Mas tem assim uma, uma espécie de, uma coisa de pano que enfia lá dentro, enfia lá dentro a almofada?
INF Ah, isso é a minha [vocalização] fronha, que a gente enfia na almofada.
INQ E a senhora quando… De manhã levanta-se e depois o que é que faz à cama?
INF Pego nas minhas almofadas, meto-as dentro do meu guarda-fato, e pego no meu travesseiro de dia, e faço a minha cama, e ponho o meu travesseiro.
INQ E quando faz a cama, o que é que põe na cama?
INF Ponho os meus lençóis, ponho o meu cobertor, ponho a minha colcha de lã, ponho um cobrejão que faço com a minha mão, depois ponho o meu travesseiro, e depois boto a minha colcha de seda – para ficar a minha caminha feita –, e duas almofadinhas que tenho também de propósito ali em cima.
INQ O cobrejão é de quê?
INF Olhe, é de bocados de saias, bocados de calças que a gente corta, faz uns quadradinhos. E depois eu alinho, e depois, durante o Inverno, vou-me entretendo aos serõezinhos, deitando o meu pontozinho. Chega-se lá mais para diante, um domingo ou um dia santo, eu, ele alinho, boto o meu forrinho por fo- por dentro de de um cretonezinho, boto a sua vira de lãzinha por fora e fica o cobrejão feito. E fica uma mancheia de centos poupados; se fosse um cobertor nas lojas saía mais caro e não me fazia tanto agasalho.
INQ E esse é o último que se põe, é?
INF A colcha de seda depois. Ah, mas no no cobrejão? É, sim senhora. Não se põe mais nada.
INQ Põe-se por cima dos outros cobertores?
INF Sim senhora.
INQ Olhe, e… A senhora quando, depois de fazer a cama, depois de arrumar o quarto, o que é que faz? Ou por onde é que começa a arranjar a casa?
INF Eu [pausa] Faço a cama, e depois de fazer a minha cama, limpo o meu pó, e depois de limpar o meu pó, varro a minha casa. Assim é que eu faço.