INQ Como é que a senhora prepara os bofes do porco?
INF1 Como é que eu preparo os bofes do porco? Ele quando vem para a gente, eu lavo-os bem lavados, a ficar sem sangue nenhum. Eles já costumam a deitar água nos bofes. Os bofes já quando vêm para a gente, já quando os vêem é brancos. Parece que ele o porco não tem sangue nenhum. A primeira vez que eu vi fazer aquilo, eu disse assim: [vocalização] "Os bofes do porco não prestam! Estão muito brancos"! Mas não é. É os malditos que cortam os bofes [pausa] e ainda enchem-nos de água.
INF2 E enchem-nos de água.
INF1 Estou-lhe a dizer, ficam os bofes lavados que quem os vê parece que o que o porco não tinha sangue nenhum. E pico aqueles bofes, muito bem picadinhos, miudinhos, e escaldo-os; e depois é que os levo para o lume para deitar os seus temperinhos dentro para fazer a molha dos bofes. Há casas que fazem mais sopas de bofe, mas eu não gosto de sopa de bofe. Não a sei fazer. Eu gosto muito de bofe, mas não é em sopa! E há casas que fazem a molha de bofe.
INQ Como é que se faz essa molha?
INF1 A molha A molha de bofe? Pois picam os bofes bem picadinhos e aferve- fervem, os bofes deitam aquela água fora, escorrida fora, e depois pica-se um alho e fazem um ao modo de uma vinha-de-alhos para e para deitar para dentro daquilo. E é que fazem a molha do dos bofes. E há pessoas que deitam batata branca juntamente [pausa] para render mais os bofes.
INQ E, e o fígado, como é que prepara?
INF1 O fígado é: a gente aqui usam isto, não sei se em todos os lugares usam assim, se não. A gente faz é: o fígado vem para dentro, a gente faz os bifes, picam os bifes, em cima duma tabuinha com a faca, e e fazem dois molhos ao do bife. Fazem um em cima no fogão, que é dentro dum tachinho, que é para acompanhar p- com o fígado; e fora, a gente faz um molho cru, que a gente chama é molho cru. Eu espremo um limão, [vocalização] deste limão tangerino – que a gente chama tangerino, não sei como é que se chama –, ou laranja azeda, a gente espreme aqui e deita uma coisinha de vinagre para ficar um molho mais forte, e pisa um alho, malagueta, e uma coisinha de sal, que é para fazer aquele molho forte. Porquê? Que é para depois fritar e ir ao outro. Dá uma fervura no outro molho. O outro molho é com uma coisinha de sal, de sal e alho pisado e malagueta, e vai a ferver numa coisinha ou de óleo ou banha, conforme aquilo que queiram usar; deita-se uma coisinha de calda; deita-se temperos, aquele que quer deitar; e está [vocalização], dão uma fervura dão uma fervura no [vocalização] no figado, o fígado até fica mais tenro.
INQ Olhe, e mete o fígado dentro desse molho que está ao lume?
INF1 Rhum-rhum. Para quem gosta gosta assim; e quem gosta sem o molho, a gente põe num pa- num pratinho, enxuto – o fígado enxuto.
INQ Mas cru, não?
INF1 Não. Frito.
INQ Frito?
INF1 Frito, mas enxuto. Porque há pessoas que gostam do molho caldeado com o [vocalização] com o fígado e há outros que não! Pois. E o fígado
INQ Então, e esse molho cru pode-se pôr ou não se pôr?
INF1 Não. Não se põe. A gente não põe. A gente faz aquele molho forte porque é só para embarrar o fígado, para fritar. Para depois usar, [vocalização] o outro é que a gente usa, está a perceber?
INQ Ah, está bem. Já percebi. Está bem.
INF1 O outro é que a gente usa.