INQ1 O homem que anda a fazer a aceifa, diz que é um?…
INF Um ceifador. O que anda ceifando chama-se um ceifador.
INQ1 E uma mulher?
INF E uma mulher, o nome é igual.
INQ1 Como é que é? Não se diz?…
INF [vocalização] Uma ceifadeira: "Olha, é uma mulher que anda a ceifar". Pois. A diferença, o nome é em fêmea mas substitui, e é o mesmo sentido. Pois.
INQ1 Olhe, e com o que é que se ceifa?
INF Com uma fouce. [pausa]
INQ1 E não, para se… Para proteger os dedos, o que é que?…
INF Para se protegerem os dedos, é uns canudos. [pausa]
INQ1 De cana?
INF De cana, sim senhor.
INQ1 Olhe, e como é que se chama assim a porção de trigo que um, que um ceifador?…
INF A porção A porção de trigo chama-se-lhe… [vocalização]
INQ1 Que agarra com a mão?
INF [vocalização] Que a mão… É a mancheia.
INQ2 Olhe, e isso é num, num ceifador, não é?
INF Sim senhor.
INQ2 Mas uma, uma ceifadeira?
INF Ceifadeira, pois, que é o ceifador… Pois claro, ele é uma ceifadeira porque é em fêmea…
INQ2 Mas as mulheres, a mancheia das mulheres é mais pequenina?
INF Mais pequena, sim.
INQ2 Como é que lhe chama?
INF [vocalização] Uma mancheia, porque a gente dá-lhe a mesma coisa. O que é que Tanto que isso se às vezes há homem que faz a mancheia pequena, [vocalização] vai logo o outro, o encarregado que anda atrás ou assim: "Caramba, fazes uma mancheia que parece a mancheia duma mulher, homem! Não admira uma mulher fazer uma mancheia pequena porque tem a chave da mão pequena. Agora tu, que tens a chave a chave da mão grande e fazes uma mancheia pequena". Porque [pausa] eles, as habituações do, de, do en- do ensino, era a gente fazer a mancheia grande. Não é: dá-lhe um golpe, põe no chão, dá-lhe outro um golpe, põe no chão. A gente não. O dado do preceito é a gente dar dois golpes, chegam-se os dois golpes, encheu a fouce – ouviu? – e deu o primeiro mantulho. Pega aqui numa coisinha assim, com este dedo – que me ensinaram: "E faz isto" – e prendo-o aqui debaixo deste dedo. Chegou à E a ponta [vocalização]… O trigo ficou assim um bocadinho assim fora, aqueles bocadinhos que sobraram. Deu outro golpe, deu outro mantulho e depois deu outro golpe, aos três golpes [vocalização] e já não deu mantulho nenhum. Já não se fez mais enrolo nenhum, que a mão não dá. Levou, deu o último golpe e apanhou assim com a fouce; agarrou a semente assim, com a fouce pôs isto. Chegou ali, voltou assim. Não me põe esta parte que está desatada… Não põe, não põe para baixo. Não é o preceito. O preceito é voltar a mão assim ao contrário. A gente com a mão – isto é a espiga – faz assim, zás, voltou ao contrário, porque a manchinha que está desatada, que não está [pausa] ligada, ficou para cima. Porque há outra… Atrás vem um outro companheiro ceifando, põe ao contrário e aquela… Quer dizer que a que as duas manchinhas, dum e doutro, que estão desatadas ficam entremente as duas que estão atadas. Está a perceber?
INQ1 Pois, pois.
INF Assim é que…
INQ2 Também lhe chamam mancheia ou manchinha?
INF É uma Pois, sim senhor.
INQ2 Não é… Quando as mulheres andam a ceifar não chamam manchinha àquilo que elas apanham?
INF Pois. Uma manchinha! Pois. E elas é uma manchinha, porque [vocalização] já se sabe: uma mão, chave da mão pequena.
INQ2 Pois. Foi o que nós encontrámos também em Peroguarda, uma senhora que nos disse, que era uma ceifadora… Uma ceifadora, o que ela apanhava era uma manchinha, não era uma mancheia. Mancheia era dos homens. E o senhor Armínio também nos disse a mesma coisa…
INF Pois.
INQ1 Portanto, a das mulheres chama-se uma manchinha?
INF Uma manchinha. Pois.
INQ1 E a dos homens? Uma mancheia?
INF Uma mancheia.
INQ1 Então afinal sempre há…
INF Pois.
INQ1 Bom! Então e depois como é que se chamam esses montes que se vão fazendo?…
INF Esses Esses montes, chama-se o [vocalização] o casar da, da da semente. O casamento da semente.
INQ1 Mas e depois, e como é que se chama esse monte? É uma?… É, é um?…
INF É um [vocalização] É o casamento da semente, um man-, man- um mantulho de semente.
INQ2 Mantulho?
INF Mantulho da semente.
INQ2 Mantulho.
INF Da semente.
INQ1 E depois esses, esses mantulhos são, são…
INF Aos depois são apanhados e são postos – feitos então num molho. Que ao depois andam homens atrás apanhando. E com duas pernas, duas partes da da semente, da parte que está corta, são – a parte das espigas – atadas e com uma parte de cada lado adonde foi corta – ouviu? – é que se mete ali a semente e depois novamente é é atada. E ou pode ficar deitada, como pode ficar de pé – ouviu? Chama-se então já um molho.
INQ1 Pois. E esses molhos depois são todos juntos, não são?
INF E ao depois são todos juntos.
INQ1 Como é que se chama?
INF Depois de todos juntos, é uma moreia. [pausa]
INQ1 Pois. E, e … Já transcreveste isso? Pois. Um só é um, um molho. E dois?
INF E dois [vocalização], faz dois molhos. [pausa]
INQ1 E?…
INQ2 Olhe, e uma gavela o que é?
INF Uma ga- Uma gavela? É um molho que está feito, [pausa] e fica mal feito, e tem uma mancheia de semente que fica fora, está-se quase safando desta parte do atilho que se põe ao meio, e [vocalização] a gente diz assim: "Não vês essa gavela da semente que está aí a safar-se do molho"?
INQ2 Ah!
INQ1 Está tudo? Uma paveia. E uma paveia?
INF Uma paveia? Uma paveia é do grão; ou seja o tal chícharo!
INQ1 Pois.
INF Se é apanhado assim à mão, que a mulher apanhe, se não é ceifado – ouviu? –, é apanhado e depois forma-se assim em redondo. E isso então é que se chama uma paveia. Como seja a fava [pausa] que se ceife, [pausa] também vão ficando em paveia. Mas com a diferença que a fava já, depois, já passado de ceifadas, quando estão já secas, faz-se novamente em molhos também. Depois já passa já deixa de ser paveias para molhos.
INQ1 Pois. Então a paveia é assim no chão, em redondo?
INF A paveia do grão, o coiso é [vocalização] em redondo. E E as favas, chama-se paveia à mesma, mas – com a diferença – não não se põe em redondo; ficam com o comprimento porque aquilo depois é para ser novamente atada quando está enxuto. Porque a fava é ceifada sempre verde [pausa] – um bocadinho verde.
INQ1 Pois.
INF E então primeiramente ficou no chão assim às manchinhas, e depois são as paveias. E depois é que se junta tudo num molho. E o grão não, porque o grão e o chícharo é apanhado completamente seco. Portanto, vão as as mulheres vão apanhando [pausa] e vai-se logo carregando e vai-se debulhando. E a fava já tem que estar ali um mês ou dois à espera que elas acabem de enxugar, porque, se for atado, [pausa] apodrece.
INQ1 Olhe, e, e com o que é que se atam os molhos do trigo?
INF Do trigo? Com a própria semente.
INQ1 Como é que se chama?
INF Chama-se um atilho.
INQ1 Olhe e depois como é que se chama àquilo que fica… Depois duma seara ceifada, o que é que fica?
INF Ceifada, chama-se-lhe o restolho.