STE23

Pedras de São Pedro, excerto 23

LocalidadePedras de São Pedro (Vila do Porto, Ponta Delgada)
AssuntoA ceifa, a debulha e a desfolhada
Informante(s) Idalécio

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INQ1 Como é que debulhava aqui? Como é? Antigo Pelo antigo, que o senhor se lembre?

INF [vocalização] Eu praticamente não tenho grandes ideias, porque eu era miúdo nesse tempo. [vocalização] Por exemplo, [vocalização] pr- principiava pela seguinte maneira: havia um bocado de terra muito direitinha, de pasto e [vocalização] muito direitinho, e se chovia, a gente amarrava as reses todas pelo pescoço chama-se uma cobra.

INQ2 Uma cobra.

INF Cobra do gado. E amarrava-se. E a gente aguava bast-. Se chovia, não precisava; se não chovia, aguava-se aquele terreno com a água numa pipa, e aquele gado a andar para trás e para a frente, para trás e para a frente, até ficar um ladrilho bem Ruído de palma da mão a bater numa superfície plana [pausa] bem firme. É.

INQ2 Bem firme, bem firme.

INF E depois quando se acabava aquilo tudo, varria-se com um ramo e então é que se estendia o trigo.

INQ1 Rhum-rhum.

INQ2 Rhum-rhum.

INF Escangalhava-se o molho e estendia-se [vocalização]. E havia uns trilhos que se chamava trilhos que era umas tábuas três tábuas , e agora aqui da frente levantava assim um bocadinho. [pausa] Talvez o senhor tenha ?!

INQ2 Rhum-rhum.

INQ1 Veja , aqui, parecido com este.

INF Exactamente. porque isto aqui era em redondo.

INQ1 A ponta.

INF As pontas, eram em redondo. Era isso mesmo. E tinha mais uma travessa aqui; em vez de ser aqui, era aqui.

INQ1

INF Três Três travessas.

INQ1 Rhum-rhum.

INF E puxado [pausa] com o pelas vacas ou bois, ou [vocalização] uma égua, aquilo que havia,

INQ1 Rhum-rhum.

INF sempre de roda, sempre de roda sem-. Isso por baixo tinha pedras.

INQ2 Rhum-rhum.

INF Que era para ir cortando, cortando, cortando. Depois de bocado a bocado, dava-se uma volta chamava-se volta de forquilha , mexia-se o coiso, sacudia sacudir e coiso. E dava-se duas, três voltas, e depois era de . estava aquilo tudo miudinho, tudo miudinho, era da-, dav- dar a volta de . Tornava-se a dar e depois empilhava-se empilhar era ajuntá-lo todo para um monte.

INQ1 Com que é que empilhavam?

INF Era [vocalização], quando o co-, o cal- Chamava-se calcadoiro, quando era muito. Ele quando era muito, era mesmo com um rodo e os bois a puxar tudo para um monte. Uns a aguentar por baixo e os bois a puxarem, a fazer o monte. E depois acabava-se de ajuntar e depois com as forquilhas é que se ia limpando, com o vento.

INQ1 E esse trabalho, que estava com as forquilhas, dizia que estava a quê? A?

INF [vocalização] Limpando.

INQ1 E aquilo que o vento levava?

INF Aquilo que o vento levava chamava-se a palha. É.

INQ2 Olhe, e Agora perdi-me. Queria perguntar uma coisa.

INQ1

INQ2 Ah, sei. O senhor falou de calcadouro.

INF O calcadoiro era um bocado Ele [vocalização] a gente, por exemplo, hoje o calcadoiro é grande. Tinha mais [vocalização] Tinha uns dois carros de trigo, quando havia ele se era três, quatro trilhos [vocalização].

INQ2 Pouco. Pois.

INF Se era um calcadoiro pequenino, de dois trilhos, a gente dizia: "Ah, o calcadoiro hoje é menos".

INQ2 E havia alguma?

INQ3 Portanto, era a porção de trigo que, que havia para debulhar?

INF [vocalização] Era.

INQ3 Era a isso que chamavam o calcadouro?

INQ1

INF Era. Ele a gente A gente punha aquilo que cabia.

INQ3 Pois.

INF Porque ele [vocalização] quem tinha vá- várias terras, tinha que fazer ali chama-se fis fiscais os montes.

INQ2 Os calcadouros.

INF Chama-se fiscais. E tinha que se fazer vários fiscais por causa que não se podia debulhar tudo num dia e também o fiscal não poderia ficar aberto porque podia chover e entrava-lhe água.

INQ3 Pois.

INQ2 Rhum-rhum.


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